Com o maior sistema do Nordeste, entenda como acontece a medição do volume de chuva no Ceará

Proporcionalmente, o Ceará tem a maior rede pluviométrica do Nordeste, com 550 equipamentos em funcionamento

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: Cada uma das 184 cidades tem, pelo menos, um pluviômetro instalado que ajudam a monitorar o volume de chuva diário no Ceará
Foto: Kid Jr

"Choveu em mais de 100 cidades cearenses, com destaque para Fortaleza, que registrou o maior volume pluviométrico". Essa informação - apenas com variações numéricas e de localidade - foi amplamente disseminada ao longo de toda a quadra chuvosa de 2022, uma das mais volumosas dos últimos anos. Mas, como chegar até essa informação? Como saber em quantas cidades choveu e, mais, como descobrir o volume de águas?

A resposta para essas perguntas reside na convergência do esforço de várias pessoas espalhadas pelos 184 municípios do Estado e alimentam a rede pluviométrica do Ceará, composta por 550 postos de observação, cada um deles contendo um pluviômetro. Conforme a assessoria da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), de forma proporcional à cobertura das cidades, a rede cearense é a maior do Nordeste.

Pluviômetro é um aparelho de meteorologia usado para recolher e medir, em milímetros lineares, a quantidade de líquidos precipitados durante a chuva em um determinado tempo e local. No Ceará, essa coleta é feita diariamente, na maioria das vezes, por voluntários. 

Cada uma das 184 cidades tem, pelo menos, um pluviômetro instalado. A depender da extensão territorial do município e/ou do volume elevado de chuvas, a Funceme instala mais de um equipamento para que a coleta de dados seja mais fidedigna. 

Passo a passo:

  1. Voluntários fazem a coleta dos dados, nos pluviômetros, às 7 horas;
  2. Os dados são enviados a Funceme, via ligação ou whatsapp;
  3. Ao serem recebidas, as informações são depositados num banco de dados da Funceme;
  4. Após entrarem neste banco, eles são divulgados no aplicativo do órgão e na página oficial 

A gerente de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, detalha que, para analisar a ampliação em um determinado município, é "considerada a distribuição espacial dos pluviômetros já existentes, procurando instalar novos equipamentos em distritos que ainda não estejam sendo monitorados".

Também levamos em conta os tipos de topografia, por exemplo, em áreas montanhosas, as chuvas no pé ou no topo das serras são diferentes, assim, como de um lado e outro dessas serras.
Meiry Sakamoto
Gerente de meteorologia da Funceme

Como é feito o processo?

A Funceme tem como norma de monitoramento o intervalo de 24 horas, entre 7h e 7h. Portanto, mesmo que a chuva continue além das 7 horas, a coleta tem de ser feita no horário pré-determinado, para que não ocorra divergência com os demais postos de observação.

Quando há alguma discrepância muito grande entre o volume coletado, a Funceme consegue comprovar os dados através de imagens do radar meteorológico.

49 anos
A Funceme começou a instalar os pluviômetros a partir do ano de 1973. A instalação dos pluviômetros da Fundação custa em média R$ 1.500.

Desta forma, todos os dias, voluntários ou funcionários lotados em órgãos estaduais como a Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural do Ceará (Ematerce) - onde também há pluviômetros instalados - realizam, logo no início da manhã, a coleta dos dados e, em seguida, os encaminha via telefone ou internet para a Funceme, em Fortaleza.

Depois que os dados são informados à Funceme, eles são arquivados em um banco de dados, e são gerados produtos, como o Calendário de Chuvas, para disponibilização aos usuários através do site www.funceme.br e também por aplicativo.

Legenda: Em Iguatu, um dos pluviômetros está instalado na Ematerce. O outro fica na zona rural
Foto: Wandenberg Belém

Importância do monitoramento 

Meiry Sakamoto explica que esses dados "servem não apenas para nossas atividades do dia a dia, mas, permitem, saber a climatologia, a média do período, quanto as precipitações vêm alterando ao longo do tempo, onde isso vem acontecendo e com que intensidade".

A especialista da Funceme lembra ainda que os dados de chuva também são utilizados para delimitar programas como o Seguro Safra e outros. 

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O gerente da Ematerce de Iguatu, Erivaldo Barbosa, avalia que a ampla capilaridade dessa rede, que contempla os municípios cearenses em sua totalidade, tem singular relevância na vida do agricultor devido à dependência da chuva para a produção de grãos de sequeiro, ou cheia de açudes para manutenção de outras culturas, com a piscicultura - criação de peixes.

"Saber a quantidade de chuva é importante para que o agricultor sabe quando plantar e o que plantar, jé que cada cultura depende de uma quantidade específica de água e, além disso, para nós, da Ematerce, é importante para saber o momento de liberar assistências específicas ao agricultor, como o pagamento do Seguro Safra", detalha Erivaldo.

Em Iguatu, por exemplo, as chuvas já estão quase o dobro do que era esperado. Esse monitoramento indica que a safra tende a ser boa - para o caso daquelas culturas que dependem de um bom volume de água, como o arroz - e que os agricultores não necessitaram de dispensa no pagamento das sementes comercializadas com preços subsidiados pelo Governo do Estado.

Legenda: O monitoramento diário das chuvas é de grande importância para que o agricultor saiba o momento correto do plantio
Foto: Honório Barbosa

Características do equipamento

Os equipamentos da Funceme são de inox com proveta de vidro, graduada em até 25 milímetros. Eles seguem um padrão internacional da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Já os pluviômetros particulares são de plástico, de menor diâmetro e têm abertura de boca reduzida.

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Estes, porém, exigem mais atenção na leitura dos milímetros captados, e custam apenas R$ 10. Muitas vezes são fornecidos gratuitamente por lojas de venda de material agropecuário e irrigação.

Além da padronização do equipamento, há também critérios para sua instalação. Devem estar 1,5 metro acima do solo, e em área livre, ou seja, longe de plantas, galhos e imóveis.

Com alguns postos de coletas prestes a completar 50 anos, a Funceme diz realizar a manutenção dos pluviômetros de forma rotineira e considera a ampliação da rede de pluviômetros "para melhorar a cobertura das informações no Estado".

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