Ceará e Piauí capturam 28 peixes-leão

Antes do acidente com o pescador cearense, os últimos registros do animal datavam de 2020 e 2021

Escrito por Raísa Azevedo e Lucas Falconery ,
Acidente peixe-leão no Ceará
Legenda: Os principais sintomas relatados após o contato com a espécie são dor aguda no local da perfuração e febre
Foto: Tommaso Giarrizzo/arquivo pessoal

O acidente com o pescador cearense Francisco Mauro da Costa Albuquerque, de 24 anos, atingido por um peixe-leão, foi um alerta sobre os riscos da migração da espécie invasora, sem precedentes no Brasil. 

O caso foi na praia de Bitupitá, em Barroquinha, no último sábado (23), e foi o primeiro do País com peixe-leão fora de ambientes de aquário.

De acordo com o Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), em informe a Secretaria de Saude do Ceará (SESA), há 40 notificações e 28 peixes-leão capturados entre as praias de Luís Correia e Cajueiro da Praia, no Piauí, e nas cearenses Camocim, Jijoca de Jericoacoara, Preá (Cruz), Acaraú e Itarema — além de Bitupitá.

Dados da Sesa indicam que cerca de 80% dos registros são em currais de pesca e marambaias (estruturas artificiais lançadas ao mar para servir como nicho e atrair peixes). Os principais sintomas relatados após o contato com a espécie são dor aguda no local da perfuração e febre.

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Os peixes-leão têm origem na região do Indo-Pacífico, das águas fundas do sul da Índia, da Indonésia, da China e do oeste da Austrália. Os animais exóticos são comuns em aquários do mundo todo. 

Registros no Brasil

Antes do acidente com o pescador cearense, os últimos registros do animal datavam dos anos de 2020 e 2021, com ocorrências no Norte do Brasil, nos estados mais ao norte do Nordeste, como Piauí e Ceará, e no arquipélago de Fernando de Noronha (PE).

Especialistas dizem que o animal não costuma se estabelecer em terrenos de areia da praia, preferindo superfícies duras e rochosas.

Acidente

O pescador cearense trabalhava em um curral de pesca — estrutura para prender peixes — quando teve o pé furado pelo animal invasor e venenoso. Depois disso, começou a apresentar febre e convulsões, sendo atendido em hospital no mesmo dia.

Por permanecer com mal-estar, o homem voltou a ser atendido na manhã da última segunda-feira (25). Durante o atendimento, ele chegou a ter duas paradas cardíacas, como informaram pesquisadores que acompanham o caso, além da mãe de Francisco. 

“Não sabemos se as paradas cardíacas tiveram a ver, mas a gente sabe da (relação da) febre e das convulsões”, explicou Marcelo Soares, professor e pesquisador no Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Nesta quarta, porém, a Sesa negou que ele tenha tido paradas cardíacas.

O pescador teve quatro perfurações no peito do pé e três na lateral. No mesmo momento teve uma sensação de dormência, que se alastrou. “Ele não sentiu mais a perna e precisou de ajuda do dono do curral para colocar ele dentro da canoa, porque ele foi furado sete vezes. Nesse momento, o pé ficou inchado e preto, sentindo muita dor”, contou a mãe do pescador, Fátima Rodrigues Costa.

Na praia, ele foi socorrido de carro até um posto de saúde próximo do local, mas só conseguiu atendimento em Barroquinha, onde foi feita uma limpeza. Francisco voltou para casa no mesmo dia, mas o mal-estar permaneceu.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, na última terça-feira (26), a mãe de Francisco contou que ele foi atendido em hospital da região por causa de febre e convulsões associadas ao veneno. O homem já está em casa, onde faz uso de medicações, mas dores ainda persistem na perna.

“O acompanhamento foi muito triste, porque do jeito que vi ele com a reação do peixe eu pensava que ele não vinha com vida para casa”, compartilha.

Recomendações

Conforme a Sesa, os órgãos envolvidos na investigação do acidente no litoral cearense e os especialistas que estão acompanhando os registros do animal no País recomendam, inicialmente, que pescadores e trabalhadores de áreas notificadas usem equipamentos de proteção individual (EPIs), sobretudo calçados.

Para banhistas nessas áreas, o indicado é evitar tocar o animal. O ideal é que a pessoa se afaste e faça anotação da hora e do local do aparecimento do bicho, informando à Sema pelo e-mail cientistachefesema@gmail.com.

Em caso de acidente com os espinhos do peixe-leão, a orientação é manter a área do corpo afetada em água quente por 30 a 90 minutos e, se houver febre, dor muito intensa e vestígio de infecção, buscar uma unidade de saúde para medicação adequada.

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