Quem é e como está o pescador cearense atingido por peixe-leão, espécie venenosa encontrada no Ceará
Francisco pisou no animal invasor que está se espalhando pelo litoral do Estado; novos animais estão aparecendo com frequência na região
Sair de casa para pescar faz parte da rotina de Francisco Mauro da Costa Albuquerque, de 24 anos, desde os seus 15, quando começou na atividade com o pai, na Praia de Bitupitá, em Barroquinha, no Ceará. Na última terça-feira (19), no entanto, ele pisou em um animal desconhecido por ele e agora sofre com as reações do veneno do peixe-leão.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, nesta terça-feira (26), a mãe de Francisco Albuquerque contou que ele foi atendido em hospital da região por causa de febre e convulsões associadas ao veneno. O homem também chegou a ter uma parada cardíaca, mas já está em casa onde faz uso de medicações. As dores ainda persistem na perna.
O pescador estava em um curral de peixe, estrutura usada para prender os animais entre rochas, quando pisou no bicho invasor. Ele teve 4 perfurações no peito do pé e 3 na lateral. No mesmo momento teve uma sensação de dormência, que se alastrou.
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“Ele não sentiu mais a perna e precisou de ajuda do dono do curral para colocar ele dentro da canoa, porque ele foi furado 7 vezes. Nesse momento, o pé ficou inchado e preto, sentindo muita dor”, contou a mãe do pescador, Fátima Rodrigues Costa.
Na praia, ele foi socorrido de carro até um posto de saúde próximo do local, mas só conseguiu atendimento em Barroquinha onde foi feita uma limpeza. Francisco voltou para casa no mesmo dia, mas o mal-estar permaneceu.
“Na sexta-feira ele começou o dia sentindo dor no pé, levamos ele para Barroquinha e de lá fomos para Camocim. O acompanhamento foi muito triste, porque do jeito que vi ele com a reação do peixe eu pensava que ele não vinha com vida para casa”, compartilha.
Ele teve uma parada cardíaca em Barroquinha e teve muitas convulsões, não estavam conseguindo fazer ele parar. Ontem ele voltou para o hospital com dor no peito, mas já está em casa
As dores na perna foram intensas e o pescador ficou sem conseguir ficar de pé por causa da reação. Após atendimento médico, Francisco está em casa onde faz uso de medicamentos.
Fátima e a família foram surpreendidos pelo acidente, porque não sabiam da existência da espécie invasora. “Eu nunca tinha ouvido falar nesse peixe, só soube naquele dia porque para mim não existia”, destaca.
Na localidade, novos exemplares de peixe-leão são encontrados por moradores e pescadores, como aconteceu na manhã desta terça-feira (26). Confira o registro:
O que se sabe sobre o peixe-leão
Desde a primeira vez que o peixe-leão foi avistado no Ceará por pescadores, estudiosos cearenses e de instituições parceiras investigam qual o impacto da espécie invasora no Estado.
O bicho foi identificado em 2 novos locais, Itarema e na Praia de Bitupitá, mas já havia relatos do animal em Camocim, Acaraú, na Praia do Preá e em Jericoacoara.
“Visualizamos mais de 30 e capturamos 27. Toda semana, praticamente, estamos recebendo relatos de peixe-leão. Até o momento, os estudos avançaram nas últimas 3 semanas, nós localizamos em Itarema e Bitupitá”, reforça Marcelo Soares.
Os animais aparecem em até 9 metros de profundidade no Estado, conforme o que foi possível observar pelo grupo de pesquisadores. “A maioria desses registros do peixe-leão que a gente está encontrando são no que a gente chama de pesqueiros e isso é muito preocupante”, frisa.
Isso porque são em marambaias - estruturas como caixas de madeiras, pneus e até veículos que são imersos para criar uma espécie de recife artificial - e currais de peixes onde os bichos são encontrados.
Os currais são estruturas criadas para prender peixes e foi nesse caso que o cearense foi ferido. “O pescador pega a madeira, finca na rocha e cria uma cerca. Quando a maré sobe, os peixes ficam dentro desse curral e quando a maré baixa eles pegam esses peixes”, explica Marcelo.
Os animais capturados são encaminhados para o Labomar onde são feitos estudos sobre a reprodução dos bichos. Esse é um dos pontos mais preocupantes, porque o peixe-leão não tem predador e uma fêmea reproduz a cada 4 dias pondo 2 milhões de ovos por ano.
Estamos fazendo análise das gônadas - a parte reprodutiva -, já encontramos machos e fêmeas, mas estamos se o bicho está reproduzindo. Também estamos abrindo os estômagos dos peixes para identificar o que eles estão comendo da nossa fauna nativa
Os pesquisadores buscam entender quais animais especificamente estão sendo comidos pelo peixe-leão, o que deve ser detalhado nos estudos, mas já se sabe que outros peixes e crustáceos são afetados.
Além da UFC, atuam cientistas ligados ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) Campus Acaraú e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Projeto Conservação Recifal (PCR) também integram o grupo.
Como relatar um avistamento de peixe-leão
Quem avistar um peixe-leão pode entrar em contato com o Programa Cientista-Chefe de Meio Ambiente da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema). Nesse caso, pode ser enviadas informações como local, horário e fotos do avistamento.
E-mail: cientistachefesema@gmail.com