Casarão histórico no Centro de Fortaleza é posto à venda pela União por mais de R$ 2,3 milhões
Comprador terá permissão para demolir e destinar o espaço a qualquer tipo de uso
Fachada com detalhes artísticos, grades baixas, portas de madeira em arco dando acesso a varandas charmosas. Construções com esses traços formavam uma Fortaleza bonita, que, aos poucos, se apaga – o que deve ocorrer, em breve, com mais um casarão histórico da cidade.
Situado no número 461 da Rua Pedro I, no Centro, o casarão de 646 m² está à venda pela União pelo valor de R$ 2.344.220,12. A informação foi obtida pelo Diário do Nordeste junto ao superintendente da Secretaria do Patrimônio da União no Ceará (SPU/CE), Vandesvaldo Moura.
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O imóvel, cujo terreno tem mais de 845 m², estará disponível para solicitação de compra a partir do próximo dia 19 de julho, por meio do portal VendasGov, de acordo com edital publicado no Diário Oficial da União.
A edificação histórica já chegou a ser cedida para a Prefeitura de Fortaleza, e recebeu órgãos públicos como a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres e o Centro de Referência LGBT Janaína Dutra.
O atual governo tem uma política de que quando o imóvel não está sendo utilizado para fins sociais, pode ser alienado. Com a venda, se dá um destino a ele, faz a economia girar.
Além do casarão do Centro, outro bem federal está à venda no município de Pacatuba, a cerca de 25 km de Fortaleza. Localizada na Rua Clóvis de Castro, a propriedade será vendida por pouco mais de R$ 191 mil.
Valor histórico pode ser aproveitado
Questionado se a SPU orienta ou recomenda que o novo comprador mantenha as características originais do imóvel no Centro de Fortaleza, Moura afirma que “desde que não seja tombado, ele pode fazer o que quiser” – mas reconhece a possível perda.
“O que a gente lamenta naquele imóvel é que tem uma aparência muito bonita. Esperamos que quem adquira mantenha aquela fachada. Mas se quiser demolir tudo, pode”, declara o superintendente.
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Jefferson Lima, presidente do Instituto de Arquitetos Brasil (IAB) no Ceará, avalia que a construção eclética, “como centenas de outras que já perdemos no Centro, tem muita qualidade arquitetônica”, e pode ser aproveitada pelo novo comprador.
É preciso compreender que a arquitetura agrega valor à edificação, a qualquer negócio que for instalado lá. É possível manter esses traços, desde que se tenha interesse, valorização e cuidado, além de um bom projeto arquitetônico.
O especialista cita como exemplo a restauração de uma edificação histórica na rua Barão do Rio Branco, no Centro, atualmente ocupada por uma instituição financeira. “Qualificou a fachada, agregou valor à imagem da empresa”, defende.
Citando o arquiteto italiano Aldo Rossi, Jefferson lembra que “a história de uma cidade é contada através dos fatos arquitetônicos, das diferentes arquiteturas que contam a evolução daquela sociedade”, e alerta para o apagamento de que Fortaleza padece.
“Como em vários outros centros urbanos, nós fizemos os empreendimentos sem a noção de que a arquitetura está ali para agregar valor, não para atrapalhar. Ainda podemos preservar algumas joias, que, garimpando, encontramos no Centro”, finaliza o arquiteto.