'Brisa do mar': motel foi demolido na Av. Beira-Mar para construção do calçadão há quase 30 anos
Urbanização de um trecho de 900 metros envolveu desapropriações e disputas judiciais quanto à propriedade de imóveis da área
Quem hoje caminha pelo calçadão da Avenida Beira-Mar, o principal cartão-postal de Fortaleza, pode não saber que nele já houve edificações que foram demolidas para a urbanização da orla, na década de 1990. Entre eles, o motel Brisa do Mar. Contudo, o processo não foi pacífico.
A construção do calçadão de 900 metros ligando a Praia de Iracema à Avenida Beira-Mar começou em novembro de 1992, ao custo de 500 milhões de cruzeiros. A previsão de término inicial era de 90 dias, mas o processo se estendeu por mais de um ano devido a batalhas judiciais entre a Prefeitura e proprietários de imóveis.
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Segundo os arquivos do Diário do Nordeste, a maior complicação envolveu justamente a remoção do Brisa do Mar, que foi o penúltimo prédio demolido para a intervenção. À época, ele tinha 21 quartos equipados com aparelhos de TV, geladeira, ar condicionado e interfone.
O proprietário, José Gomes, resistiu por muito tempo até aceitar a indenização paga pela Prefeitura. Ele julgava o valor insuficiente - ele queria 70 milhões de cruzeiros, enquanto a Prefeitura oferecia 30 milhões com base em avaliação pericial - e recorreu à Justiça para manter a posse.
Porém, após oito meses de disputa, precisou ceder à liminar ganha pela Procuradoria-Geral do Município. Na noite do dia 17 de dezembro de 1993, o motel foi demolido. Após a derrubada, José Gomes foi para o sobrado em que mora e que também deveria ser demolido, na mesma avenida.
Ele chegou a ameaçar atirar em quem se aproximasse e pedia um prazo para retirar móveis e objetos pessoais da casa, onde morava há 30 anos. Gomes recusou uma proposta da Prefeitura de se alojar em qualquer casa ou hotel da cidade, ou receber 7 milhões de cruzeiros a mais. A questão só foi resolvida dias depois.
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Ainda conforme os arquivos do Diário do Nordeste, José insistiu na propriedade e, tempos depois, cercou o terreno vazio onde antes havia o motel e sua residência e pôs uma placa onde se lia: "Propriedade particular - não entre".
Apesar da série de problemas, o calçadão foi construído e oficialmente inaugurado em março de 1994, com um show musical que atraiu milhares de espectadores. A obra completa envolveu drenagem, pavimentação e iluminação mais moderna.
Segunda demolição
Pelo mesmo projeto, outro motel foi destruído ali perto, também na Praia de Iracema, mas alguns meses antes. O Motel Calango existia desde que a Avenida Historiador Raimundo Girão era conhecida como Avenida Aquidabã.
Em janeiro de 1993, foram realizadas desapropriações e demolições para a segunda etapa das obras de urbanização da Praia de Iracema, que contemplariam o calçadão. O projeto original também previa a instalação de bancos, um posto salva-vidas e barracas.
História da Beira-Mar
A Avenida foi construída oficialmente a partir de 1961, na gestão do prefeito Manuel Cordeiro Neto, embora já tivesse um "rascunho" desde meados dos anos 1920, quando a região do Meireles era ocupada por pescadores.
A inauguração do primeiro trecho, de 1,5 km, ocorreu em 1963, mas a conclusão só aconteceu na administração do prefeito general Murilo Borges (1963-1967).
Seu primeiro nome foi Avenida Getúlio Vargas, em homenagem ao ex-presidente brasileiro. Em 1964, passou a se chamar Avenida Presidente Kennedy, em alusão ao presidente americano morto no ano anterior. Porém, ficou popularmente conhecida como "Beira-Mar".
Nas décadas seguintes, a via se tornou uma importante zona de lazer e local cobiçado para negócios de turismo e entretenimento. A primeira etapa do calçadão foi inaugurada em 1979. Na década de 1980, foi instalada a Feirinha que dura até hoje.