O que se sabe sobre a ‘kraken’, nova subvariante do coronavírus que circula no Ceará

Foram confirmados 19 infecções da forma mais transmissível que deve se tornar predominante no mundo

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Mutações genéticas deixam o vírus ainda mais transmissível
Foto: Shutterstock

A subvariante do coronavírus XBB.1.5 – conhecida como ‘kraken’ – circula entre os cearenses e 19 pacientes foram identificados com esse tipo de infecção até esta quarta-feira (5). Apesar da confirmação da forma mais transmissível, os profissionais da saúde ainda buscam maior engajamento da população com a vacina bivalente.

Outros 12 pacientes foram contaminados pela XBB.1, uma subvariante similar, conforme o monitoramento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Os primeiros casos da XBB foram identificados entre os dias 22 e 28 de janeiro deste ano no Ceará 

Mas a circulação viral, provavelmente, vai muito além desse grupo de pessoas, já que nem todos os testes de Covid passam por sequenciamento genético. Em janeiro, essa subvariante já era responsável por cerca de 4 a cada 10 da doença nos Estados Unidos.

O avanço da XBB.1.5 internacionalmente indica que essa deve ser a forma predominante por ser “a mais transmissível subvariante Ômicron surgida até hoje”, de acordo com artigo Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UnaSUS).

Além de impressionar pelo potencial de transmissão, a XBB.1.5 tem uma grande capacidade de evasão aos anticorpos neutralizantes produzidos em resposta a outras subvariantes. Por isso, recebeu o nome kraken, que é um monstro marinho da mitologia escandinava.

Legenda: Transmissão e provável escape vacinal motivaram o apelido 'kraken', que é um monstro mitológico
Foto: Shutterstock

Apesar disso, não há indicação de que a subvariante seja mais agressiva ao organismo. Não há casos mais graves e com necessidade de cuidados intensivos relacionados ao surgimento da kraken.

"Normalmente, quando qualquer variante ou subvariante aparece demora para entender o efeito. Elas vão substituindo uma às outras, e algumas têm tendências mais complicadas", explica Mário Oliveira, biomédico e virologista.

O especialista contextualiza que a forma XBB tinha um problema genético, mas sofreu uma mutação em que conseguiu se conectar bem melhor ao receptor da célula para o vírus invadir. 

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O Ministério da Saúde publicou uma nota técnica sobre a kraken explicando que a linhagem XBB é resultado de uma recombinação entre as linhagens Ômicron BA.2.10.1 e BA.2.75. “Foi relatada pela primeira vez em 13 de agosto de 2022 e já foi detectada em mais de 70 países”, informou em janeiro deste ano.

"O que está acontecendo quando compara com outras subvariantes como BA.1 e BA.4, tem a XBB1.5 sendo um 'conserto', ou uma seleção natural do vírus, e diferente das outras variantes está conseguindo superá-las", completa.

Apesar de mudar a identificação – afinal já surgiram várias subvariantes, como a BA.1 e BA.2 (que deu origem à kraken) – essas são todas formas da Ômicron

Legenda: Maioria das subvariantes são resultantes da variante Ômicron
Foto: Shutterstock

No Ceará, de 7.877 sequenciamentos genéticos realizados, 4.746 (60,3%) foram da variante Ômicron – identificada pela primeira vez no Ceará em dezembro de 2021.

Após o domínio das variantes Gama e Delta, a vacina bivalente foi produzida a partir do coronavírus Ômicron para evitar que o imunizante perdesse o efeito com essas transformações. Esse é um processo similar ao que efeito com a vacina da gripe.

"O que tem se percebido é que as doenças mais graves em relação à Covid-19 não estão acontecendo nos pacientes, mostrando que por mais que a XBB1.5 consiga escapar no sistema imune, mas tem a proteção”, frisa Mário.

Vacina bivalente

Esse tipo de imunizante foi desenvolvido a partir da variante Ômicron, que deu origem às subvariantes mais comuns, e surge como uma proteção atualizada. Desde o fim de fevereiro, quando começou a aplicação da bivalente no Estado, 274.548 foram vacinadas.

No entanto, já foram distribuídas aos municípios 642.633 doses do imunizante. Ou seja, apenas 42,7% foi aplicada até o momento, conforme o monitoramento da Secretaria da Saúde.

Legenda: Vacina bivalente produzida pela Pfizer protege contra a cepa original e contra subvariantes da Ômicron
Foto: Reprodução/Sesa

Érico Arruda, infectologista no Hospital São José, ressalta a relevância da proteção dos grupos mais vulneráveis com a bivalente também levando em consideração neste período de maior circulação viral. Os casos de Covid dobram entre janeiro e março no Ceará.

“Temos muitos casos de gripe e também de Covid-19 nessas últimas três semanas. O número aumentou de forma significante e por outro lado nós temos a disponibilidade das vacinas, inclusive, da bivalente”, pondera.

Já podem receber a bivalente

  • Pessoas a partir de 60 anos 
  • Pacientes imunocomprometidos com 12 anos
  • Pessoas abrigadas em instituições de longa permanência (e seus funcionários) Comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas.
  • Gestantes e puérperas
  • Trabalhadores da Saúde
  • Pessoas com deficiência permanente
  • Adolescentes cumprindo medidas socioeducativas (12 a 17 anos)
  • População privada de liberdade (a partir de 18 anos) e funcionários do sistema prisional.

É preciso ter tomado duas doses da vacina, tendo um intervalo de pelo menos 4 meses da última aplicação, para receber a vacina bivalente mesmo estando no público prioritário.

“A vacina bivalente aumenta a cobertura contra o vírus da Covid-19, inclusive, em relação à variante Ômicron. Portanto, tem uma proteção ainda melhor do que a monovalente"

Infelizmente, tem muita gente que não tomou nenhuma dose ou quem tomou uma dose e que precisam complementar a sua imunidade para evitar adoecer novamente de Covid
Érico Arruda
Infectologista

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