'Bebê milagre' de Caucaia morreu em corrida de app ao hospital; mãe denuncia omissão de motorista

O pequeno Eliseu morreu nos braços da mãe dentro do Uber, após a família sair de Caucaia para Fortaleza para levá-lo à emergência do Albert Sabin

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
bebê milagre de caucaia nos braços da mãe em festa de aniversário
Legenda: Eliseu ficou cerca de seis meses com a família, pois o resto de sua vida foi em hospital e fazendo cirurgias
Foto: Arquivo pessoal/ @fotografojosemir

A mãe de Eliseu Naftali, 'bebê milagre' de Caucaia de 1 ano que morreu nesta segunda-feira (6) e tinha "síndrome do meio coração" denuncia que o motorista de aplicativo que levou a família ao hospital foi negligente e omitiu socorro, pois o pequeno morreu nos braços da mãe, Sara Faustino, dentro do carro. Segundo o relato, o profissional se recusou a ir mais rápido "por não querer levar multa". 

"[O motorista] não se sensibilizou nem um pouco com a gente, e o Eliseu morreu nos meus braços ali na [avenida] Bezerra de Menezes. A gente chegou no Hospital Albert Sabin o médico ainda entubou e tentou reanimar, mas não teve jeito", desabafa Sara. Ele teve uma parada cardiorrespiratória, e seu coração não aguentou. 

A família solicitou uma corrida de aplicativo por volta de 1h da madrugada, após a mãe notar que o bebê estava tendo uma convulsão. Sara conta que ele passou o dia "normal", só que um pouco "choroso". 

"Ele se omitiu de socorrer o Eliseu. Eu já vi casos que o Uber corria em velocidade quando uma mulher estava tendo um filho dentro do carro, e esse cara não fez isso, não teve um pingo de solidariedade com a gente", conta. O menino só ficou com cerca de seis meses em casa com os pais, pois passou quase 11 meses internado. 

Conforme Sara, ela e o marido, Edson Junqueira, pretendem abrir um Boletim de Ocorrência (B.O) contra a plataforma e o motorista, e pensam até em processá-lo. Com a recusa do condutor em acelerar ou avançar os sinais vermelhos na madrugada, Edson comentou que o homem poderia pegar uma declaração com o hospital para que eventuais multas fossem contestadas. 

Eu e o Edson estamos arrasados, porque o Eliseu era minha vida. A gente perdeu o carro, o emprego e agora perdemos o nosso filho. Lutamos com ele quase um ano internado, e eu preferia não ter nem onde morar, o que comer e vestir, mas ter meu filho comigo. Se eu pudesse trocar de lugar, era eu que teria sido enterrada hoje, e não o meu filho. Ele era o amor da minha vida, e ei nunca vou esquecer o sorrisinho dele e os beijinhos que ele soltava pra mim
Sara Justino
Mãe de Eliseu

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Uber informa que app não é 'urgência e emergência' 

Em nota, a Uber informou: "Estamos profundamente entristecidos e compartilhamos nossos sentimentos de mais profundo pesar com os pais do bebê Eliseu".

Entretanto, a empresa explicou que o aplicativo "não substitui serviços de urgência e emergência, que demandam veículos e profissionais com preparação adequada para atender casos dessa natureza".

"Em caso de necessidade, recomendamos que sejam acionados os canais de emergência apropriados. De qualquer forma, a Uber está à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei", diz texto. 

'Síndrome do meio coração'

Eliseu tinha uma cardiopatia congênita grave popularmente chamada "síndrome do meio coração", e já passou por uma série de cirurgias e até cateterismo. O bebê de 1 ano estava na fila para um transplante de coração, por conta da síndrome do coração esquerdo hipoplásico, o que agravou sua situação e causou insuficiência cardíaca.

Três órgãos chegaram a aparecer durante o tratamento, mas, em dois casos, a família não teria feito a doação; no outro, teria interesse da família, mas não o órgão não estaria em condições de ser doado.

Segundo um dos médicos, uma das aortas de Eliseu era “fina como um fio de cabelo”. Sara Justino contou nesta segunda que os profissionais chegaram a avisar que ele poderia morrer subitamente. 

Em julho, a família de Eliseu contou a história do pequeno ao Diário do Nordeste, e relatou que eles passavam por dificuldades financeiras para pagar as contas médicas e os cuidados especiais inspirados pelo quadro de saúde dele. 

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