Tecnologia de volta

Lançamento de Homem-Aranha para PlayStation 4 abre portas para a Marvel no universo dos games

Escrito por Áquila Leite , aquila.leite@diariodonordeste.com.br

Se no cinema a Marvel é indiscutivelmente dona do mais complexo e rentável universo de super-heróis, no mundo dos games a realidade é bem diferente, já que há tempos a empresa não consegue emplacar um título realmente bom, enquanto sua concorrente direta, a DC, construiu franquias de bastante sucesso, como Batman Arkham e Injustice. Este panorama, porém, tem tudo para mudar nos próximos anos, principalmente após a chegada do novo jogo do Homem-Aranha, lançado exclusivamente para Playstation 4 no último dia 7 de setembro, que promete elevar o patamar da ‘Casa das Ideias’ e seus personagens entre os players da atual geração.

Com uma história totalmente nova, sem ligação com quadrinhos ou filmes, o game tem a liberdade de explorar bem a extensa galeria de vilões e personagens secundários do ‘Amigão da Vizinhança’, que nos acontecimentos do jogo já exerce suas atividades de super-herói há cerca de oito anos (não, não veremos o Tio Ben morrer mais uma vez). O enredo, inclusive, começa após o Homem-Aranha, juntamente com a polícia de Nova York, conseguir finalmente prender Wilson Fisk, o ‘Rei do Crime’, desencadeando uma disputa de criminosos pelo comando de Nova York. O roteiro é bem escrito e combina com o personagem, mas demora um pouco a engatar e poderia ter mais surpresas, caso os trailers do game já não tivessem mostrado tantos detalhes.

Além das atividades como Homem-Aranha, as missões principais também nos levam a encarar a rotina do próprio Peter Parker, mostrando como é difícil para ele conciliar sua vida de herói com a de um jovem cientista que vive atrasado para seus compromissos – no game, ele não trabalha mais no Clarim Diário. A personalidade de Peter, inclusive, é um dos pontos altos do jogo, tendo em vista que fica evidente a dificuldade que ele tem de pagar suas contas em dia, se fazer presente na vida da tia May e, principalmente, manter contato com sua eterna paixão, Mary Jane Watson, com quem havia rompido relações há aproximadamente seis meses. MJ, aliás, é retratada aqui como uma jornalista investigativa que não mede esforços para desmascarar atividades criminosas e descobrir a verdade por trás de todos os acontecimentos, algo semelhante ao papel de Lois Lane nas histórias do Superman. Uma inspiração, talvez?

Fora a história central, o game também conta com algumas missões secundárias que trazem maior imersão nas atividades do ‘Amigão da Vizinhança’. Durante a exploração da cidade, por exemplo, é possível impedir crimes, invadir esconderijos secretos de Fisk, encontrar itens perdidos por Peter durantes seus anos como herói e até ajudar o melhor amigo do Aranha, Harry Osborn, em algumas pesquisas científicas em benefício da cidade. Todas essas quests, além de darem experiência, concedem ‘fichas’ que servirão para adquirir novos trajes, habilidades e equipamentos para o herói. Em certos momentos do jogo, cidadãos também pedirão a ajuda do protagonista para lidarem com algum problema, algo que jamais será recusado pelo ‘teioso’.      

Jogabilidade
Outro ponto bastante positivo do game é, sem dúvidas, sua jogabilidade fluida e intuitiva. Se nos nostálgicos jogos do Homem-Aranha para Playstation 1 e 2 o fato de ‘surfar’ pela cidade sempre trazia uma série de bugs, aqui a atividade é simples e viciante, permitindo que o jogador utilize toda a agilidade do herói para passear por Nova York e se locomover das formas mais acrobáticas imagináveis. É possível lançar teias, correr por prédios na vertical, fazer manobras ao saltar, se empoleirar de cabeça para baixo, entre outras opções que são a cara do protagonista.

Em combate, o Homem-Aranha também mostra sua versatilidade com diversas combinações de combos possíveis, principalmente quando o jogador domina completamente a arte de jogar teias. Nesse aspecto, o game se assemelha bastante aos jogos da franquia Batman Arkham, inclusive na hora de o herói desviar de golpes através do ‘sentido aranha’, algo bem parecido com o contra-ataque do homem-morcego nos games da DC. Até mesmo as finalizações em câmera lenta e o som que faz quando derrotamos o último inimigo de um grupo remete aos ótimos títulos do Batman. A inspiração certamente é das melhores, mas a falta de originalidade pode incomodar um pouco.          

Nova York
Se o Homem-Aranha é o protagonista absoluto do game, Nova York certamente é um dos melhores coadjuvantes do título. A vista aérea da cidade, enquanto o herói ‘surfa’ através dos prédios, é simplesmente fantástica e não deixa nada a desejar para filmes recentes do cabeça de teia, tamanho capricho da desenvolvedora Insomniac Games. Todas as características e pontos clássicos estão lá, desde o Empire State à ponte do Brooklyn. Uma das missões secundárias, inclusive, é fotografar lugares emblemáticos de NYC, o que gera comentários de Peter sobre determinados monumentos, aumentando ainda mais a imersão do jogador.

Apesar do capricho na ‘visão geral’ de Nova York, o game também traz alguns pontos que podem incomodar os jogadores mais exigentes. As pessoas que transitam nas ruas, por exemplo, são bastante genéricas e longe de serem tão bem trabalhadas como os personagens principais, assim como os carros que cruzam as vias da cidade, que certamente poderiam ser mais polidos. O mesmo pode ser dito sobre os ‘capangas’ que enfrentamos ao longo do jogo, todos com fisionomias e modos de combate parecidos. Tirando os vilões icônicos do herói, nenhum adversário mostrou carisma o suficiente para convencer sobre sua real ameaça ao Aranha.   

Localização
No quesito localização, a Sony mais uma vez mandou bem e trouxe o jogo para o Brasil totalmente em português, incluindo uma dublagem muito competente feita por profissionais. Apesar disso, alguns bugs foram detectados durante o gameplay, incluindo alterações no volume das falas, falta de sincronia e até mesmo algumas falas em inglês por parte de pessoas na rua. É algo que às vezes atrapalha na imersão, mas que não compromete o bom trabalho feito na conversão do game para a nossa língua.

Um ponto específico que me incomodou foi o fato de eles terem optado por não traduzir o nome de alguns personagens. O próprio protagonista do jogo, por exemplo, é tratado por todos como ‘Spider-Man’, e não como Homem-Aranha. A entonação muitas vezes não encaixa com o momento e é estranho ouvir pessoas que falam português pronunciando o nome do herói em inglês.  É difícil de se adaptar no começo, mas, com o tempo, o jogador acaba se acostumando.

Veredito
Assim como Homem de Ferro (2008) foi o ponto de partida para o Universo Cinematográfico Marvel, o novo título do Homem-Aranha, personagem mais icônico da ‘Casa da Ideias’, tem tudo para definitivamente abrir as portas para a empresa no mundo dos games. Moderno, fluido, com boa história e uma ótima trilha sonora, o game, apesar de alguns probleminhas, deixa claro que há espaço de sobra para os super-heróis na atual geração de consoles. Já pensou em um jogo épico de Os Vingadores?  No cinema, começou como um sonho e deu no que deu... 

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