Quixadá no mapa do cinema: Sertão Central vira set de filmagens de três produções nacionais

Projetos audiovisuais impulsionam a geração de renda na região, cuja infraestrutura e aspectos naturais favorecem a imaginação dos artistas da sétima arte

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Parte da equipe do filme
Legenda: Parte da equipe do filme "Bem-vinda a Quixeramobim" no Distrito de Juatama
Foto: Reprodução/Instagram

Cinema significa comida na mesa para muitos brasileiros. Em 2018, segundo estudo da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o audiovisual gerou R$ 26,7 bilhões à economia do País em 2018. Na análise do órgão federal, o dado coloca o setor acima de indústrias relevantes como a farmacêutica, têxtil e de equipamentos eletrônicos.  

Com isso, defender a sétima do Brasil é lutar por empregos diretos e indiretos. Três produções cinematográficas que estão sendo rodadas no Sertão Central cearense atestam que os benefícios econômicos e culturais caminham juntos.  

Halder Gomes ("O Shaolin do Sertão") dirige mais um projeto de grande porte na região. Petrus Cariry (“O Barco”) filma o longa "Mais Pesado é o Céu", que reúne elenco com Matheus Nachtergaele, Ana Luiza Rios, Sílvia Buarque, Galba Nogueira, Danny Barbosa e Buda Lira (PB).  Quem também está presente e produzindo é a equipe e elenco do curta-metragem "Deus Castiga"

A proximidade de Quixadá com a sétima arte é uma tradição que assinala mais de meio século. Em 1960, o município foi o cenário da obra “A Morte Comanda o Cangaço”. Moradora da cidade, Edna Letícia Uchôa atua como produtora há 20 anos.  

Por conta dos filmes que já foram rodados neste território, trabalhou em diferentes áreas. Desde a produção de locações, infraestrutura, figuração, arte e até equipe de figurino. Ela avalia os aspectos positivos da região enquanto polo do cinema.  

“Estas produções contribuem muito para geração de renda na cidade, hotéis, restaurantes, lojas, postos de combustíveis, supermercados, locações de espaços e serviços. Todos faturam”, observa. A realizadora está na equipe de "Mais Pesado é o Céu".  

Indústria  

Em meio à correria das filmagens deste longa, conversamos com o cineasta Petrus Cariry. O drama respira ares de um “road movie” e também desbrava cenários entre Jaguaribara e o Açude Castanhão. Chegamos na metade do filme. É uma produção que já vem de três, quatro anos atrás. Fomos adiando por conta da pandemia”, descreve.  

Ingred Xavier
Legenda: Dia de filmagens no set: Diretor Petrus Cariry e Sílvia Buarque, Matheus Nachtergaele e Ana Luiz Rios
Foto: Ingred Xavier

Com o avanço das vacinas e atenção aos protocolos exigidos, "Mais Pesado é o Céu" saiu do papel. Petrus aponta que boa parte dos filmes que estão sendo feitos remetem a projetos que estavam aprovados quanto ao financiamento.   

As posturas de censura e sucateamento da Ancine por parte do Governo Federal mostram um cenário preocupante. Além disso, inúmeros projetos estão parados aguardando aprovação de recursos. “A grande questão é ano que vem, como vai ser isso”, alerta Petrus.  

"Vai começar a rarear, vai ficar bem escasso. Tem que ter filme, tem que mover a indústria. Cinema é isso. Quando para a indústria, ela meio que colapsa. Profissionais saem da área para se manter”   

Em 2021, o cineasta lança dois longas. A ficção "A Praia do Fim do Mundo" e o documentário "Foi um Tempo de Poesia". As obras integram a programação do próximo Cine Ceará – Festival de Cinema Ibero-Americano de Cinema. A 31ª edição acontece de 27 de novembro a 3 de dezembro. 

Sílvia Buarque em cena de
Legenda: Sílvia Buarque em cena de "Mais Pesado é o Céu"
Foto: Ingred Xavier

Petrus Cariry explica que está feliz com a produção e que Jaguaribara é generosa quanto ao clima e possibilidades visuais. "Estamos usando um grande descampado, com planos bem amplos. Está ficando bem bonito o resultado (...). É bem precioso estar filmando nesse momento do Brasil”. 

Streaming 

Em 2020, o diretor Halder Gomes filmou a comédia "Bem-vinda a Quixeramobim". Sem tempo a perder, o produtor e roteirista encabeça outro novo projeto na localidade.  

“O Sertão Central é um lugar único de belezas e cenários de caatinga irresistíveis de levar às telas. Por ser da região, sempre carrego uma forte relação nostálgica desse universo, e, por isso, escrevo histórias para acontecer nesses lugares”. 

Halder explica que a proximidade de Fortaleza e a infraestrutura hoteleira facilitam a aprovação de trabalhos. Interessa estar atento ao impacto econômico que os filmes geram e a divulgação cultural Ceará. Cada trabalho resulta em centenas de trabalhos temporários e capilariza a distribuição de renda como poucas atividades econômicas alcançam, avalia. 

Halder Gomes e o processo de escrever histórias para o Sertão Central
Legenda: Halder Gomes e o processo de escrever histórias para o Sertão Central
Foto: Reprodução /Instagram

“Sem falar nos empregos específicos de conhecimento do grande público: atores e equipe. Temos trabalhos que seguem em outras etapas no lançamento: eventos, publicidade, etc. Todo esse impacto fomenta várias atividades economicamente, artisticamente e gera conteúdo para sempre e para o mundo com a nossa cultura e identidade”, completa Halder Gomes. 

Ainda conforme a produtora Edna Letícia Uchôa, o distrito de Juatama se destaca em Quixadá. Lá, foi gravado “O Cangaceiro Trapalhão” (1983) e desde então, o mercado de cinema segue modificando a realidade do lugar.   

“Quase toda a população dali já trabalhou prestando serviço de servente, cozinheiro, costureiro etc. ou como figurante. E incrível. Outros distritos da cidade também já foram cenário de filmes como Dom Mauricio, Riacho Verde e Daniel de Queiroz”, finaliza a entrevistada.