Projeto realiza publicação coletiva de oito pesquisas no campo das artes visuais

A ação integra a 8° edição da Mostra de Artes do Porto Iracema e conta com trabalhos desenvolvidos Laboratório de Artes Visuais da Escola

Escrito por Redação ,
Esta é uma imagem do projeto Língua Ferina: artista retirante e a fertilização da imagem
Legenda: "Língua Ferina: artista retirante e a fertilização da imagem" é um projeto da artista visual Maria Macêdo
Foto: Divulgação

Fugindo da ideia das já tradicionais lives, a 8° edição da Mostra de Artes do Porto Iracema realiza nesta sexta-feira (4), às 19h, uma publicação coletiva das oito pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Artes Visuais da Escola. A iniciativa busca mostrar para o público não só o processo de pesquisa, mas também documentar as mudanças do próprio projeto e as vivências de cada artista durante o laboratório.

Os resultados serão compartilhados em uma plataforma virtual, onde o material estará disponível para download. O formato inédito da etapa de finalização dos processos formativos da Escola nasceu de uma demanda dos próprios artistas do projeto, que sentiram a necessidade de mostrar ao público os processos pelos quais passaram nesta edição tão diferente. 

“Quais foram os registros de processo? Quais foram os rascunhos? O que a gente passou nesse tempo? Quem que tava junto com a gente?”
Sy Gomes
Artista visual e historiadora

A historiadora explica que os oito projetos possuem poéticas distintas, mas que estão conectados por pertencerem à cena da arte contemporânea cearense. Cada pesquisa tem seu espaço na obra final, onde artistas desenvolveram os textos de apresentação, relatos, fotografias, digitalização e vídeos.

Esta é uma imagem de Sy Gomes
Legenda: Sy Gomes desenvolveu o projeto "Travestis são como plantas"
Foto: Divulgação

A intenção é que a obra seja publicada no formato impresso também, porém não como um catálogo, já que o resultado das pesquisas não acompanha uma exposição ou instalação presencial diante do contexto de pandemia, explica Sy Gomes. A modalidade impressa seria uma forma de registrar as oito pesquisas na história das artes visuais do Estado. 

“Eu, enquanto historiadora, não podia deixar de fazer uma ação que marcasse o tempo. Eu acho que essa é a intenção principal. Uma publicação que demonstra que essas pessoas se juntaram no laboratório esse ano e que produziram algo. Eu pessoalmente acho que isso não seria tão bem demonstrado caso a gente fizesse só uma live ou oito live diferentes”, pontua Sy Gomes. 

Na publicação, o público pode conferir os projetos “Como construir nosso próprio país”, do coletivo Terroristas del Amor; “Plantomorfias: uma coleção de sensibilidades entre corpo e natureza”, de Henrique Braga; “na barriga do monstro”, de Charles Lessa e Vita da Silva; “Historicizando o invisível”, de soupixo; “Arqueologia de Luzes Negras”, de David Felício e Jorge Silvestre; “Língua Ferina: artista retirante e a fertilização da imagem”, de Maria Macêdo; “Encantadas: saberes mágicos em lugares sagrados”, de Eliana Amorim; e “Travestis são como plantas”, de Sy Gomes.

Pesquisas

Em “Travesti são como plantas”, Sy Gomes parte de uma relação poética intensa entre as plantas e as pessoas trans. O projeto nasceu dentro de um aquário, onde a artista cultivava sementes.

A historiadora explica que da mesma forma que essas sementes estavam guardadas e precisavam ser cultivadas, as pessoas trans também precisam desse cuidado para brotar. Assim, “das folhas eu fiz uma substância transexualizadora”, acrescenta.

“Essa é a poética central de todo o projeto: uma relação do que a gente pode aprender e do que a gente pode ofertar e receber da vida vegetal, da relação das plantas e da natureza. Trazer isso para a experiência das pessoas trans no Brasil, que é uma experiência de genocídio, falta de acesso a cidadania, emprego e educação”, completa.

Esta é uma imagem do projeto Arqueologia de Luzes Negras
Legenda: Arqueologia de Luzes Negras parte da pergunta "Onde estavam os negros durante o processo abolicionista no Ceará?"
Foto: Divulgação

Já o projeto “Arqueologia de Luzes Negras”, de David Felício e Jorge Silvestre, parte do questionamento: onde estavam as pessoas negras no processo de abolição do Ceará? Silvestre explica que a história oficial não consegue responder essa pergunta, já que essa versão dá ênfase, quase que exclusivamente, aos abolicionistas majoritariamente brancos da época. 

“Documento nenhum dá conta desse evento histórico que é a abolição, muito menos no Ceará. Essa pergunta então foi o princípio da pesquisa, a partir dela percebemos que a abolição, como encenada no quadro "Fortaleza Liberta" de José Irineu de Souza, que faz parte do acervo do Museu do Ceará, fazem parte de uma narrativa romântica que compõe essa cegueira arquivista e seu poder de circular, mobilizar e reproduzir imagens que apagam a existência de pessoas negras e indígenas”, pontua Jorge.

Como a versão oficial não dá conta de responder, os pesquisadores decidiram subverter o tempo, colocando presente, passado e futuro juntos para compreender que a resposta a esse questionamento está compartilhada no sentimento da família deles e nas famílias de outras pessoas que são descendentes dessa história excludente. 

Esta é uma imagem dos artistas visuais David Felicio e Jorge Silvestre
Legenda: David Felicio e Jorge Silvestre são os autores do projeto Arqueologia de Luzes Negras
Foto: Arquivo pessoal

“A gente foi encontrando não só nos documentos da história oficial, mas a gente foi encontrando na nossa história pessoal, na história dos nossos amigos e amigas, das pessoas que a gente admira, das pessoas que a gente conhece, das pessoas do movimento negro de hoje, uma resposta para essa pergunta. Usando da ficção para responder”, compartilha o historiador, professor e artista visual David Felício.

Inicialmente pensado para ser concretizado em uma instalação, do projeto nasceu um vídeo, onde será possível realizar troca de conhecimentos e saberes entre o público e a obra, explica o historiador. 

“É um feito enorme essa edição do laboratório. Majoritariamente a gente compôs o laboratório com negros descendentes, além de ter uma presença LGBTQIA+ que não tinha até então. Essa edição é histórica. É histórica pela presença dos artistas que estão e também pela pandemia”, pontua.  

Serviço

MOPI de Artes Visuais

O lançamento da publicação acontece nesta sexta-feira (4), às 19h, no YouTube.

 

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