Nova rota turística em Baturité faz passagem por pontos históricos e religiosos

Rota turística lançada pelo Sebrae no último fim de semana, "Caminhos de História e Fé" é opção com cinco percursos para fazer passagem por locais e momentos marcantes de Baturité

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: Baturité apresenta o roteiro "Caminhos de história e fé", nova opção de turismo na cidade
Foto: Mylena Gadelha

Localizada a poucos quilômetros de Fortaleza, cerca de 113 km, Baturité é daquelas cidades onde é possível sentir a história nos muros alicerçados há anos, bem como na natureza exuberante, delicada e teimosa que insiste em dar contornos à vida dos moradores nativos.

No último sábado, com o intuito de valorizar a cultura local e promover o desenvolvimento da região, o Sebrae Ceará lançou a rota turística "Caminhos de História e Fé". Com um total de cinco percursos, ela faz passagem por momentos e lugares marcantes do município, conhecido como ponto inicial de surgimento do Maciço de Baturité. As paradas foram denominadas como Baturité de Fé, Curta Baturité, Baturité Artesanal, Serra do Evaristo e Viva Estação Ferroviária de Baturité. Fora do percurso tem ainda o Corredor 7 de Setembro.

Legenda: Baturité apresenta o roteiro "Caminhos de história e fé", nova opção de turismo na cidade
Foto: Mylena Gadelha

Entre as caminhadas por pontos onde a fé transparece os contextos históricos da cidade, como o Mosteiro dos Jesuítas, por exemplo, e os monumentos erguidos por personalidades importantes, como a estátua em homenagem ao Comendador Ananias Arruda, o roteiro pode ser opção para conhecer mais sobre o solo cearense e entender como o povo do nosso Estado segue vivendo as tradições e mantendo o patrimônio.

Primeira ferrovia

Ainda era 1822 quando o prédio principal da primeira ferrovia do Ceará foi inaugurado em Baturité. Hoje, o local abriga utensílios da época, objetos de artesanato fabricados especialmente por produtores baturiteenses e peças importantes dos trens que deram vida ao movimento comercial, no qual a banana e o café se destacavam no início do século XIX.

O espaço onde os trens faziam parada é um dos primeiros pontos da rota inaugurada pelo Sebrae. A ocasião é perfeita para entender como o desenvolvimento da região foi se organizando aos poucos e como, atualmente, o artesanato local tem sido fonte de renda para muitas famílias.

É por lá também que são vendidas as peças confeccionadas especialmente para os turistas que chegam por meio do novo percurso. Com preços variando entre R$ 10 e R$ 30, nos objetos mais simples, pode-se ainda levar um pedaço da história e contribuir para a economia da região.

Caminho da Serra

Ao sair da estação ferroviária, uma das partes mais interessantes da rota, vai exigir uma demanda de tempo maior. Prepare-se para encarar o caminho até a Serra do Evaristo, onde a Comunidade Quilombola vive há mais de 200 anos.

Segundo os próprios organizadores, o ideal é que o transporte seja realizado em um veículo adequado, por conta da estrada de terra e das pedras no meio do caminho. Aqueles que optarem por visitar apenas a Serra, podem entrar em contato com os moradores e acertar pacotes para facilitar o acesso.

Legenda: Uma das partes da rota faz visita ao Museu Comunitário

Quando chegamos na comunidade fomos recebidos com encanto: algumas das crianças das famílias nativas - ao todo 160, que moram nos arredores da serra - apresentaram o hino, escrito como uma forma de personificar a luta e a resistência intrínseca destes povos.

Em 2010, a comunidade da Serra do Evaristo recebeu o certificado da Fundação Cultural Palmares, responsável por fixá-los na categoria de quilombolas. Nos dias de hoje, uma associação é gerida na localidade e tem como presidente Evandro Ferreira, que recebeu grupo de jornalistas na tarde de sábado. Ao lado dele, outra referência é a Mestre da Cultura Maria do Socorro Fernandes Castro, uma das responsáveis por comandar a imersão da cultura aos que chegavam no intuito do conhecimento.

De início, uma passagem pela faixa extensa de terra com a proposta de identificar os locais onde escavações foram realizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), após a constatação da existência de um Sítio Arqueológico. A ação foi realizada mediante os achados de várias urnas, onde foram encontrados vestígios da existência de antigos moradores indígenas.

Exatamente nesse ponto, a comunidade se abre para um dos espaços mais ricos de Baturité: o Museu Comunitário. Lançado oficialmente em 2013, ele abriga o material coletado nas escavações e todo o conhecimento adquirido pelos moradores da região com a ação. Além da rota, as visitações são feitas de terça a sábado, sempre das 9h às 17h, com um acervo compreendendo desde as urnas até as pequenas pedras datadas encontradas pelos arqueólogos.

Quando pensamos ter visto de tudo, é nesse ponto a surpresa. Como uma forma de encerrar a passagem do grupo, os moradores nos acolheram nas residências e preparam um almoço com cara de banquete. De um lado, uma feijoada completa e farta. Do outro, pratos com galinha caipira feitos com gostinho de "casa".

De acordo com Evandro, a refeição com os moradores locais é algo oferecido tanto dentro do roteiro do Sebrae como em acerto direto com a associação. Os valores podem ser combinados diretamente com o contato e, as opções do menu são oferecidas com uma variedade diversa, seguindo a preferência dos turistas e disponibilidade da região.

Construção antiga

Se na serra as crenças religiosas são distintas e fortes, no restante do território de Baturité não seria diferente. Sendo assim, o passo seguinte da rota é conhecer um dos pontos mais visitados: o Mosteiro dos Jesuítas.

O percurso faz parte do "Baturité Artesanal", onde se pode conferir a produção de café e banana no próprio Mosteiro por meio da Fazenda Caridade. Construído há 95 anos, tendo levado um total de dez anos para ser concluído, o equipamento também recebe diversos eventos religiosos e pode servir como hospedagem.

Do alto, em meio às dependências do espaço que já foi a casa da Companhia de Jesus, a vista é privilegiada para visualizar o Açude de Vazante, a Pedra Aguda, a Serra do Tamanco, o monumento à Nossa Senhora de Fátima, o Cruzeiro e a cidade de Baturité.

A entrada já se mostra diferenciada de todo o restante do roteiro. O silêncio do espaço parece ser a oportunidade perfeita para imergir na esfera religiosa e sentir a presença de anos de história.

Assim como no restante do passeio, um dos guias da cidade contou os detalhes da construção. O Comendador Ananias Arruda, por exemplo, foi crucial para que ela fosse realizada, já que o plano inicial era escolher outro município nordestino para a realização. O sobralense é uma figura forte e presente em diversos pontos turísticos de Baturité e foi intimamente responsável pelo desenvolvimento do Município.

Outra curiosidade em relação ao lar dos jesuítas pode ser notada nos pequenos buracos espalhados pela estrutura. Por lá, antes da conclusão da montagem, foram colocados bambus de tamanhos distintos para suportar o peso das obras constantes e árduas, além dos trabalhadores.

No centro do Mosteiro, a imagem de Nossa Senhora dá boas-vindas àqueles que entram pela porta principal. O jardim, fazendo margem ao altar construído para a divindade, acumula flores bonitas e com uma vivacidade capaz de transparecer a tranquilidade presente nos corredores.

Clima e rua

Além dos passeios montados pelo próprio roteiro, os momentos de presenciar o cotidiano foram os verdadeiros encarregados por fazer sentir a essência da vida nas ruas de Baturité.

Quase no fim de um dia longo e cheio de programações, foi na Praça da Matriz onde comecei a saber ainda mais da formação e das residências locais. Com a criação da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Palma, construída em estilo barroco no Século XVIII e instalada em 1762, foi dada a largada inicial a uma nova configuração: blocos de casas de um lado e do outro, também responsáveis por dar continuidade ao que é visto hoje.

À noite, após degustação em uma fábrica de cervejas artesanais, criada no próprio Município, a responsabilidade de encerrar o encanto visto no roteiro turístico ficou com o evento FIO Maciço. Em meio aos stands de produtores comerciais locais, a população se reuniu para curtir a cidade e também para expor todo o trabalho diário capaz de sustentar as famílias e desenvolver tanto Baturité como os municípios nos arredores.

Como um encerramento, a sensação é de ver o carregamento de histórias tão rico e presente nos mais diversos cantos do solo cearense. Não é necessário ir muito longe para se surpreender com a beleza da natureza, com a fé que arrebata os corações ou a força dos antepassados para erguer uma comunidade. Fica a vontade de atestar sempre: é importante agregar o nosso e ver a beleza em cada canto, por mais próximo que seja.

*A repórter viajou a convite do Sebrae