'Não é comigo, é com todas as mulheres', comenta Paolla Oliveira sobre pressão estética

Para a atriz, que está em Fortaleza para uma ação de marketing sobre autoestima, as cobranças endereçadas aos corpos femininos são condições com alicerces históricos e culturais

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
Paolla Oliveira na praia
Legenda: A atriz é uma voz potente na luta contra pressão estética, ditadura da beleza e ataques virtuais
Foto: Thiago Gadelha

A atriz Paolla Oliveira, 41, vive uma nova fase na carreira e tem direcionado seu olhar para uma pauta especial, a da liberdade dos corpos. Em Fortaleza, neste sábado (13), a artista concedeu entrevista ao Diário do Nordeste e afirmou que as críticas feitas a ela com relação a sua forma física não são apenas pra si, mas algo direcionado a todo o público feminino. 

"A pressão estética não é comigo, é com todas as mulheres. E historicamente, culturalmente. Existe uma pressão que não vai sair rapidamente, mas a gente tem que ir combatendo ela o tempo inteiro. E conscientizando as mulheres, devolvendo o poder a elas", sugeriu.

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Dona de uma carreira com papéis marcantes na televisão e no cinema, ela foi vítima de ataques na internet após ter participado de um evento na quadra da Grande Rio, escola de samba em que tradicionalmente desfila como rainha de bateria. Os usuários do X, antigo Twitter, acusaram que ela teria "dado uma engordada" e "perdido a forma". O assunto foi um dos mais comentados no microblog.

A resposta para tal problemática, segundo Paolla, é o empoderamento, devolvendo para mulheres, que nunca tiveram ou que perderam por subtraírem delas, a liberdade para ser, existir, falar e viver como quiserem. "É assim que eu lido com a pressão, a gente devolve essa voz e faz essa pressão ser menor", completou.

A própria visita à Capital cearense tem diálogo com a temática. A convite de uma marca de cosméticos, Paolla Oliveira participou de uma ação de marketing sobre autoestima e aceitação na Praia do Futuro.

Recentemente, em uma conversa do programa Assim Como a Gente, comandado pela apresentadora Fátima Bernardes, ela falou sobre um hábito que tem adotado nos últimos tempos: o de não usar filtros para publicar fotos em seu perfil nas redes. O tema tem uma relação direta com a liberdade feminina que ela defende como bandeira. 

Provocada a falar sobre possíveis receios ao assumir esses compromissos, ela respondeu que não existem. "Não tem receio, porque nunca falei que não é para usar. É sobre liberdade e consciência. Você tem que ter a consciência de que usar filtros pode te afastar do que é real em você, do que é verdadeiro", explicou.

"É sobre a gente trazer mais para a consciência todas as ferramentas que afastam a gente, de quem a gente é, de todas as nossas particularidades. Não estou falando para não usar, de maneira alguma. Uso monte de ferramentas. Faço foto, tenho luz, maquiagem, a gente se posiciona da melhor maneira", completou, adicionando ser preciso ponderar quais artifícios podem ser usados sem que haja uma perda da sua autonomia. 

O Carnaval

Durante o bate-papo, ela ainda detalhou sua relação com o Carnaval. Paulista de nascimento, Paolla disse que conheceu o espetáculo do samba carioca pela televisão. Foi pela telinha, ainda menina, que passou a nutrir um sentimento pela folia e também que aprendeu a sambar.

"Sabe quando a gente tem um desejo? Nunca imaginei que fosse dar certo. Uma vez tentei numa escola de São Paulo, mas era jovem e ainda tinha uma situação de não saber, não conhecer... Meu pai era super rígido. Conheci o Carnaval no Rio de Janeiro, e até saí numa escola antes, que foi a Portela, mas depois fui acolhida pela Grande Rio", discorreu. 

O posto de rainha, indicou durante a conversa, nunca foi pensado, mas o primeiro contato com o chão da Sapucaí provocou nela um sentimento de felicidade que se renova a cada ano quando entra na passarela por onde desfilam carros alegóricos, musas e outros elementos que compõem a festividade. "Vou ser Grande Rio para sempre", prometeu.

O Carnaval, no entanto, não era tão presente em sua vida quando pequena, por conta da postura conservadora dos pais. Ela revelou que, apesar disso, a família foi unida algumas vezes para a rua como foliões. "Quando podiam me levavam, eu e meus irmãos. Aí a bagunça tava certa. Lembro da minha avó fazendo fantasias para mim de trança, de tecido. As memórias que tenho são muito simples e afetivas", confessou.

A junção das lembranças do passado com as mais recentes, quando assumiu a personalidade carnavalesca, se juntam num repertório que alimenta sua proximidade com o período festivo. "Agora, que tenho outro lado do Carnaval, porque o desfile na avenida é muito glamouroso, todas as memórias estão em mim e me fazem ser essa pessoa apaixonada por ele", explanou. 

Carreira e projetos

Em dezembro do ano passado, a musa contou em seu Instagram que havia encerrado seu contrato de quase duas décadas com a TV Globo. A última produção rodada na emissora foi Justiça 2, minissérie escrita por Manuela Dias, e deve ser exibida inicialmente na Globoplay. Apesar do encerramento do vínculo, outros projetos devem entrar na lista de compromissos da atriz.

"Minha vida deu uma guinada muito grande. Saí de uma empresa, encerrei um ciclo depois de 18 anos, mas aí emendei numa coisa de Carnaval que é um projeto maior que a festa em si. É um projeto de raízes como mulher e também como artista, mas a única coisa que sei de verdade nessa vida é atuar. É o que mais amo. Já, já estou de volta", ressaltou, assegurando também que seu ano deve começar depois do Carnaval. 

Paolla Oliveira
Foto: Thiago Gadelha

Questionada pela reportagem sobre os pontos positivos e negativos da alteração no formato de contratação do mercado da teledramaturgia brasileira, liderado pelos Estúdios Globo, ela disse que essa movimentação não é recente e envolve vários aspectos: "A própria internet é uma grande mudança. É uma mudança para a gente, para quem faz conteúdo, para todos os conteúdos, inclusive da televisão aberta. Essa mudança estava para acontecer. Não sei se é uma questão de costume, mas é uma questão de que os tempos não voltarão".

"E eles podem ser tempos muito bons, de diversidade, de uma diversificação do mercado como um todo, dos streamings, da TV aberta, de produções de outras ordens e com mais atores, com a classe artística mais empregada e satisfeita", finalizou.

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