Morre o escritor cearense Carlos Emílio Corrêa Lima

Nome importante das letras e cultura do Ceará, autor foi responsável por formar e apoiar inúmeras gerações de novos escritores. Velório acontece nesse sábado (2), na Casa Barão de Camocim

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Cearense integrou importantes movimentos literários e teve trajetória reconhecida por promover a cultura do Ceará
Legenda: Cearense integrou importantes movimentos literários e teve trajetória reconhecida por promover a cultura do Ceará
Foto: Felipe Palhano

Morre o escritor, poeta e ensaísta cearense Carlos Emílio Corrêa Lima. O anúncio do falecimento foi publicado pela Secretɑriɑ dɑ Culturɑ do Ceará (Secult-CE), na manhã deste sábado (02). A causa da morte do artista e docente não foi revelada.  O velório será iniciado às 16h30, na Casa Barão de Camocim.

Nome reconhecido das letras no Ceará, Carlos Emílio Corrêa Lima é autor de obras como "A cachoeira das Eras", "Pedaços da história mais longe" e "Virgílio Varzea: os Olhos de Paisagem do Cineasta do Parnaso". Romance, poemas, ensaios, a pena afiada do cearense desbravou a literatura do Ceará para o Brasil. 

Natural de Fortaleza, Carlos Emílio nasceu em 1956. Era também professor, editor e Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

"Talentoso, criativo, de personalidade forte, entusiasta, ácido, critico imprescindível para o debate aguerrido sobre política cultural. Com seus textos intensos e densos, ocupava as rodas de leitura, calçadas, palcos, corações e mentes dos amantes da leitura e escrita", solidariou-se, em nota, a Secult-CE.

Trajetória

Carlos Emílio escrevia desde os sete anos e ainda criança chegou a escrever um poema contra a guerra do Vietnã. Foi aluno do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC). Escreveu "Solário – Contos infantis para adultos" (1970) quando tinha menos de 14 anos.

Em 1976, ele e um grupo de escritores cearenses criam a revista de cultura "O Saco". A publicação é considerado um marco da cultura cearense e chegou a circular em outras capitais brasileiras. Além de Carlos Emilio, faziam parte José Jackson Coelho Sampaio, Nilto Maciel e Manuel Coelho Raposo.

Carlos Emílio Corrêa Lima nas páginas do Diário do Nordeste (maio de 1982)
Legenda: Carlos Emílio Corrêa Lima nas páginas do Diário do Nordeste (maio de 1982)
Foto: Ari Lago

Anos depois, Emílio foi um dos responsáveis pela criação do grupo literário "Siriará". Na década de 1980, escreveu resenhas literárias para os jornais "Última Hora" e "O Estado de São Paulo" (suplemento cultural) e para as revistas "Visão" e Isto É".

É autor "A Cachoeira das Eras – A Coluna de Clara Sarabanda" (1979), "Além, Jericoacoara – O Observador do Litoral" (1982), "Ofos (1984). Um dos contos dessa obra, "O Barco" foi adaptado para o cinema pelo cineasta Petrus Cariry.

Escreveu "Pedaços da História mais Longe" (1997); "Virgílio Várzea: os olhos de paisagem do cineasta do Parnaso" (2002), "O Romance que Explodiu" (2006) e "Maria do Monte: o romance inédito de Jorge Amado" (2008). 

Sem Fronteiras

Figura marcante na cena cultural, Carlos Emílio organizou inúmeros projetos de leitura, abrindo espaço para o surgimento de inúmeras gerações de escritores e leitores cearenses. Editou nos anos 2000 a "Arraia PajéurBR", revista que promovia a literatura cearense.

O formato triangular, semelhante à vela de jangada, tinha design elogiado  e chegou a reunir em uma mesma edição cerca de 120 autores da mais nova geração. O poeta falou o amor pela escrita ao Diário do Nordeste em 1982. 

"No momento, a única coisa que me dá santidade é escrever. Não há mais o que fazer. Escrever, para mim, é permanecer vivo. No fundo, ninguém sabe nada. As pessoas divagam em cima de suas experiências. Nem os santos, nem os profetas, só os poetas, só os artistas podem salvar o mundo".