'Lojão dos shortinhos' vira hit no Carnaval ao vender calções originais de futebol dos anos 1980

Curtas, leves e totalmente nostálgicas, peças viralizaram nas redes sociais e agora compõem o look de foliões dentro e fora do Ceará; ao mesmo tempo, resgatam memória afetiva

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Preço dos calções varia entre R$ 35 e R$ 70, e procura tem sido cada vez maior com proximidade do Carnaval
Foto: Kid Júnior

É uma loja grande e recuada na Avenida Antônio Sales. Logo na entrada, a plaquinha: “Preços - Calções Anos 80”. Não era assim antes. Mas desde que se tornou o verdadeiro point de venda das peças, o Lojão dos Esportes - O Garotão exibe o cartaz como forma de facilitar para o cliente. Não cansa de chegar gente em busca dos shorts nas últimas duas semanas.

“Eu já os tinha colocado em exposição. O que aconteceu? Uma pessoa publicou nas redes sociais e viralizou. Chegou um momento em que a gente não tinha tempo nem de atender direito, foi bem complicado”, conta Sérgio Vasconcelos, proprietário do estabelecimento. Segundo ele, a tendência é real e tem movimentado bastante o negócio, creditado na internet como "Lojão dos shortinhos".

Veja também

Homens, mulheres, famílias e toda sorte de compradores aparecem ávidos pelo item. São centenas, talvez milhares de calções originais dos anos 1980 reunidos em grandes caixas de papelão posicionadas no chão, no melhor estilo “escolha você mesmo”. Bastante informal, comércio raiz. Você pega, escolhe cor, estilo e marca, e vai acumulando nas mãos.

A adesão é justificada. O público mais jovem, por exemplo – grande parcela da clientela recente, conforme Sérgio, chamada por ele de “alternativa” – elege a peça como vestuário carnavalesco. Os shorts são curtos, leves e ainda exalam aquele charme retrô. Como não aderir? “Teve uma pessoa que nos marcou nas redes pois estava saindo com o calção da Adidas vendido aqui”, pontua.

Outra função deles é servir para uso próprio, na rotina de todo dia. Clientes vestem para ir do shopping à academia, passando pelos rolês aos fins de semana. Por fim, e não menos importante, os shorts resgatam memórias afetivas, uma vez terem já terem sido uniformes de grandes times de futebol e até da seleção brasileira em Copas longínquas.

Legenda: "Chegou um momento em que a gente não tinha tempo nem de atender direito, foi bem complicado”, conta Sérgio Vasconcelos, proprietário do estabelecimento, sobre a viralização dos shorts nas redes sociais
Foto: Kid Júnior

“Colecionadores também vêm aqui – gente que, na época em que os calções foram lançados, eram crianças ou não tinham condições de comprar. Uma senhora, por exemplo, veio e comprou para a filha, na Bahia; outros para pessoas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Mandamos pelos Correios também”. O preço varia entre R$ 35 e R$ 70.

Camisas são outros itens procurados – embora com menos alcance que os calções. Elas vão de R$ 59 a R$ 89. Para Sérgio, além da alegria de ver a loja ocupada, há um reconhecimento pela qualidade e pelas especificidades dos produtos. O que hoje tem cores neutras e discretas, antes era berrante e estampado. Resistem ao tempo com graça e estilo.

Mas de onde vêm os calções?

Não é de hoje que os shorts estão na loja. Antes do boom de vendas, já tinham descido do estoque e ocupado o piso central. O modo como eles foram parar no Lojão dos Esportes é curioso. Dialoga com o início do negócio, há 55 anos no comércio fortalezense – fundado pelos pais de Sérgio, Cabral Vasconcelos e Maria Chagas.

Seu Cabral gerenciava as Lojas Pernambucanas e comprou um ponto na Rua Pedro Pereira, começando algo nos moldes de um armarinho. Tempos depois, a loja vizinha ao ponto – cujo um dos sócios era Sílvio Carlos Vieira Lima, ex-presidente do Fortaleza – fechou e o próprio Sílvio falou com o pai de Sérgio para saber se ele gostaria de comprar o estoque de material esportivo – incluindo, claro, os calções. Não deu outra.

Legenda: São centenas, talvez milhares de calções originais dos anos 1980 reunidos em grandes caixas de papelão posicionadas no chão, no melhor estilo “escolha você mesmo”
Foto: Kid Júnior

“Foi assim que meu pai migrou para o ramo de venda de materiais esportivos”, diz o filho, mencionando ainda que o genitor era torcedor fanático do Ceará e tinha costume de acompanhar partidas de futebol pelo radinho. O Lojão dos Esportes - O Garotão abriu em 1965 e desde 2002 funciona no ponto onde está atualmente, incorporando essa energia.

“Cansei de atender o pessoal do Ceará e do Fortaleza nos primeiros anos da loja porque eles não tinham patrocínio. Precisavam de chuteira, de calções… Hoje esses itens continuam à venda, vindos dessa época”. 

O próprio Sérgio incorpora o look ao corpo. Surge dos fundos da loja com camisa original do Santos Futebol Clube, calção, tênis esportivos e meia depois do joelho. Um jogador. Um fã. “Torço para todos os times”.

Permanecer depois da folia

Passada a algazarra carnavalesca, nada de aposentar os calções. Continuarão expostos, tecendo a trajetória do estabelecimento. O que mudará – dinâmica já sentida na loja, a propósito – é um maior investimento em divulgação pelas redes sociais, tendo em vista o potencial do negócio de viralizar.

Legenda: Antes do boom de vendas, calções já tinham descido do estoque e ocupado o piso central, onde devem permanecer após o Carnaval
Foto: Kid Júnior

Extenso em tamanho e em quantidade de produtos, o Lojão dos Esportes - O Garotão dispõe itens tanto em prateleiras como, a exemplo dos calções, no chão. Além de artigos para futebol, natação e miríade de modalidades, investe em materiais para treinamento funcional e até objetos como medalhas e troféus, para premiações esportivas.

“Hoje toco a loja sozinho, tenho sete funcionários. E é muito bom quando um cliente vai ao shopping e o vendedor diz, ‘Esse item você não encontra aqui, mas lá no Lojão dos Esportes’. Viramos referência. O desejo é de que isso continue”. A loja grande e recuada na Avenida Antônio Sales não cansa de surpreender.

Assuntos Relacionados