Da periferia de Fortaleza, banda Dragaxé Raiz do Poço movimenta o Carnaval com 50 crianças tocando
Entre gingados, batucadas e muita alegria, projeto deve estrear na folia momina com duas apresentações e toda a graça da infância
São estreitos os becos onde vivem dezenas de crianças moradoras do Poço da Draga. Quando elas se unem para fazer música, porém, o mundo se estica. Ao toque do tambor, da zabumba e da malemolência do gingado corporal, 50 pequenos e pequenas revolucionam a arte e a si mesmos. Integram projeto importante: a Dragaxé Raiz do Poço.
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Nascida em agosto do ano passado, a banda se apresenta pela primeira vez no Carnaval de Fortaleza neste 2024. Serão dois shows – um no dia 10 e outro no dia 12 de fevereiro, ambos às 17h, no Parque Rachel de Queiroz. Nesses instantes, o público terá contato com a força e o talento provenientes de gente que, apesar da pouca idade, já tem muito a mostrar e vibrar. São faróis de inspiração.
“O objetivo da ação é ensiná-las percussão baiana a partir do axé do Bahia. Além disso, trazer alegria para cada uma”, introduz Rafael de Santana Santos, o Baiano. Mestre de bateria e entusiasta da música negra brasileira, ele concebeu e lidera a iniciativa até hoje após ter encontrado lar na capital cearense em 2020.
O músico adota como foco uma missão bonita: proporcionar musicalização e iniciação rítmica para quem muitas vezes não têm acesso a oportunidades feito essas. E faz isso acompanhado. A Dragaxé é parte vital do Coletivo Raiz do Poço, que envolve moradores do Poço da Draga em diversas atividades culturais. Além da música, atividades como pesca, cineclube, batalha de rimas e iniciação em artes plásticas dão o tom do trabalho.
“A Dragaxé tem ritmo diferenciado, misturando samba, reggae, Olodum e Timbalada. É assim que invadimos os cantos da cidade, com esse som. Todas as crianças participantes são do Poço da Draga e têm entre 5 e 18 anos”, detalha, enfatizando que o grupo é a primeira banda de axé de Fortaleza com o toque da genuína música negra baiana. De brilhar os olhos.
Ocupar Fortaleza
Apesar da estreia no Carnaval, não é de hoje que a banda circula por Fortaleza. Já subiram ao palco do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, da Central Única das Favelas (Cufa), do Parque Raquel de Queiroz e do Museu da Imagem e do Som (Mis) – neste último, como programação do Festival Elos. Tudo muito emocionante.
“Foi muito legal, as crianças gostaram muito. E foi uma experiência muita massa porque elas nunca haviam feito aquilo”, recorda o mestre ao mencionar o festival. Por sua vez, no Pré-Carnaval, ocuparam o Passeio Público – crianças tocando para crianças – e o já citado Parque Rachel de Queiroz. Apesar de o grupo todo ter 50 integrantes, sobem ao palco entre 10 e 15 instrumentistas, revezando-se
O preparo para cada instante é acalorado. Semanalmente, às terças e quintas, a partir das 19h, ocorrem ensaios no Pavilhão Atlântico, na própria comunidade do Poço da Draga. Ali a magia começa. De acordo com o professor, não são repassados apenas ensinamentos sobre os ritmos do axé, mas efetivamente a respeito da própria vida.
Baiano acredita que a música, feita naqueles moldes e sob aquelas circunstâncias, dá novo ânimo à turma e a todos os que se achegam para contemplar o trabalho. O peso de tudo é tremendo. “O projeto empodera jovens a acreditar nos próprios talentos e a sonhar alto”.
Transformação pela música
Essa predisposição para mudar as coisas é sentida pelo mestre à medida que encontra ainda mais as crianças. Faz parte da sensibilidade do artista. Outrora ritmista em grupos de Salvador, Baiano desembarcou em Fortaleza e foi direto para o Poço da Draga. Na comunidade, além de lidar com música e arte, ele vende quitutes na Coxinha do Baiano.
A Dragaxé nasceu quando, junto à companheira e alguns vizinhos, surgiu a vontade de promover inicialização musical e formação rítmica para crianças e jovens da localidade. Junção de cultura e cidadania. Não à toa, além das apresentações e da agenda de atividades, ao término de cada ensaio é servido lanche aos participantes.
O número de crianças só aumenta. “Elas começam sem perspectiva e, com o passar do tempo, nota-se que querem um futuro melhor para a família, por exemplo, a partir da integração com os colegas. Assumem uma postura mais positiva diante da vida”.
Serviço
Apresentações da banda Dragaxé no Carnaval de Fortaleza
Dias 10 e 12 de fevereiro, às 17h, no Parque Rachel de Queiroz (Rua Edgar Falcão, Presidente Kennedy). Gratuito. Mais informações no perfil da banda no instagram