Carnaval das antigas: bloco É Só Isso Mesmo desfila pelas ruas do Benfica em dois dias de folia

Bloco sairá no domingo e na terça de Carnaval resistindo a dificuldades e com desejo gratuito de espalhar alegria pelas ruas

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Cerca de 300 pessoas saem em desfile pelas ruas do Benfica com o "É Só Isso Mesmo"
Foto: Divulgação/É Só Isso Mesmo

Fruto da parceria entre os bares Serpentina e Alpendre – redutos incorrigíveis da boemia fortalezense – o bloco É Só Isso Mesmo há sete anos celebra a tradição momina, no melhor estilo “Carnaval das Antigas”. Aliado ao desejo de se unir a mais pessoas e tribos, conserva a aura inicial da festa ao investir nas famosas marchinhas e em um desfile atemporal.

Esse charme sonoro, sentido também nas vestes, na energia e no comportamento dos foliões, protagonizará outros momentos ao percorrer as ruas do Benfica em mais um ano. Neste 2024, o bloco desfilará no domingo e na terça de Carnaval a partir das 15h, com concentração às 13h. Esta acontece em frente ao Barvioli, na Rua Princesa Isabel.

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“É uma coisa simples, dá pra todo mundo ir sem problema, com a banda acompanhando”, resume o engenheiro agrônomo Marcos Vinicius de Oliveira, o Marvioli, fundador de outro bloco, o “Concentra, Mas Não Sai” e um dos organizadores do “É Só Isso Mesmo”. Segundo ele, o percurso – de 400 a 500 metros de extensão – vai além da animação nas ruas.

Busca alimentar a liberdade e a alegria da folia gratuita, ao ar livre e com um pé nas antigas gerações brincantes, ao mesmo que dialoga com as atuais. Tudo no mesmo balaio. “A característica do bloco é essa, de ser ‘só isso mesmo’. Não há problema com questões maiores. É um bloco simples, de animação, que o povo chama de ‘arrasta’”.

Legenda: O bloco procura a alimentar a liberdade e a alegria da folia gratuita, ao ar livre e com um pé nas antigas gerações brincantes, ao mesmo que dialoga com as atuais
Foto: Divulgação/É Só Isso Mesmo

A importância desse movimento é urgente: celebrar o Carnaval de rua significa, para o folião, estimular a sanidade mental das pessoas. Depois da pandemia de Covid-19 – único período em que o bloco não saiu – ocupar o asfalto com barulho e cor torna-se meta. “O povo está se soltando, é boa essa folia”.

O desafio de brincar

Mas há desafios. Manter uma agremiação anual, feita de forma gratuita e na rua, exige logística apurada. Contratação de banda e empresa de segurança, aluguel de banheiros químicos, entre outros detalhes, precisam ser vistos com antecedência e cuidado. “Patrocínios privados são bem poucos. Temos alguns, estampados na nossa camisa, mas é coisa pequena”.

Marvioli mensura a situação de um lado e Maurição Lima de outro. Este – jornalista e bancário aposentado, 60 anos de idade e 55 de Carnaval – é o fundador do “É Só Isso Mesmo”, já tendo organizado outras agremiações, a exemplo do “Matou a Pauta” e o “Arlindo e Voltando”. Para ele, dá muito trabalho prosseguir com um bloco, e é preciso “aperrear” muita gente para fazer a brincadeira.

Legenda: Depois da pandemia de Covid-19 – único período em que o bloco não saiu – ocupar o asfalto com barulho e cor torna-se meta para a agremiação
Foto: Divulgação/Bloco É Só Isso Mesmo

“Mesmo com custo relativamente baixo, porque nosso bloco é pequeno, neste ano as despesas beiram R$10 mil. A única receita é a venda de camisas, além do apoio de alguns amigos com microempresas. Gostam muito de carnaval e compram lotes de camisas em troca da exposição da marca. Às vezes a gente consegue empatar os custos. Botamos 200 camisas à venda, se vender tudo, paga as contas. Mas, na maioria das vezes, sempre sobra alguma conta pra pagar”, dimensiona Maurição.

Faz parte da afinidade dele com o Carnaval. Já na infância, tocava lata atrás de blocos de rua do carnaval de Aracati. E seguiu assim, sem perder o encanto. “Gosto demais da folia, principalmente de botar bloco na rua. É muito prazeroso ver as pessoas na calçada esperando a nossa passagem. É Só Isso Mesmo que nos energiza e dá vontade de fazer de novo”.

Festa pública

Assim, o desejo de todo o grupo é que o bloco tenha vida longa. É Marvioli quem diz: “Que no próximo ano ele saia melhor, mais organizado, que a gente possa fazer um Carnaval mais interessante, mais bonito. E mantê-lo na rua é fundamental porque o povo precisa ocupar o espaço público com festas públicas, livres de pagamentos, para todo mundo ser feliz”.

Quando recorda o começo da agremiação, Maurição tece o mesmo sonho. O “É Só Isso Mesmo” nasceu em 2017 quando, certo sábado, depois de uma roda de samba no Serpentina Bar e Cultura, uma turma de amigos foi tomar a saideira no Alpendre Bar. Conversa vai, conversa vem, surgiu a ideia de formar um bloco pequeno, só para juntar os frequentadores dos dois bares. 

“Estávamos eu, o Felipe Araújo (jornalista), a Carol Ferraz (dona do bar Serpentina) e o Samuel Bedê (dono do bar Alpendre). A proposta era fazer o percurso entre os dois bares, cerca de 800 metros, porque o nosso povo é preguiçoso. O nome surgiu na hora, ‘É Só Isso Mesmo’, porque, se desse pouca gente, não haveria do que reclamar”, conta.

Legenda: Banda de metais e outras particularidades de Carnavais de outras épocas podem ser brincados no É Só Isso Mesmo
Foto: Divulgação/É Só Isso Mesmo

Não deixa de ser o oposto do tradicionalíssimo “Eu acho é pouco”, de Olinda (PE), que reúne dezenas de milhares de pessoas. O nosso, made in Ceará, tem valor também. O “É Só Isso Mesmo” cresceu tanto que acabou atrapalhando o funcionamento normal dos dois bares – ficavam superlotados e com problemas de atendimento. 

“No início, eram só amigos e amigas. No boca a boca, o povo começou a trazer mais gente e o bloco cresceu demais, tornando-se impossível de organizar. Em 2020, domingo de carnaval, colocamos mais de mil pessoas no circuito Alpendre-Serpentina”.

A pandemia forçou a parada por dois anos e assim resolveram recomeçar de outra forma, mudando o local das saídas. Muita gente estranhou a alteração do percurso – antes era na Aldeota, mas desde o ano passado passou a sair numa rua pouco movimentada do Benfica, a uma distância razoável da algazarra da Praça da Gentilândia. Contudo, seguiram participando.

“A gente não tem a pretensão de crescer muito. Hoje juntamos umas 300 pessoas em cada saída. Quero manter o espírito de bloco pequeno, em que todos se conhecem. É mais seguro e protege contra confusão. Não quero que nosso bloco seja um estorvo pra mim nem pra vizinhança. Vários blocos importantes para a história do carnaval da cidade acabaram porque se tornaram grandes demais”, reflete Maurição.

“Aí começa a chegar gente com paredão, fazendo xixi nas calçadas, gente brigando e dando mais trabalho do que prazer.  Tem que manter esse equilíbrio. A dor não pode ser maior do que o prazer. Se for, a gente aguenta um ano ou dois e depois desiste, como já desistiram antes. Nossa opção é continuar pequeno mesmo”.

 

Serviço
Desfiles do bloco “É Só Isso Mesmo”
Dias 11 e 13 de fevereiro, domingo e terça de Carnaval respectivamente, a partir das 15h, com concentração às 13h em frente ao Barvioli (Rua Princesa Isabel, 1961 - Benfica). Gratuito. Mais informações pelas redes sociais do bloco

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