Jorge Bodansky, Orlando Senna e João Moreira Salles debatem longa sobre questão ambiental

Clássico do cinema nacional, "Iracema, uma transa amazônica" será exibido online, na conta do YouTube do Porto Iracema das Artes, nesta terça (8), a partir das 18h

Escrito por Redação ,
Legenda: Iracema cai na estrada com Tião Brasil Grande e, da rotina pacata na Amazônia, parte para uma vida repleta de humilhações longe da terra
Foto: Reprodução

Durante o regime militar, o filme "Iracema, uma transa amazônica" foi censurado e, dessa forma, o público no País ficou 6 anos sem ter acesso à obra, uma crítica forte à exploração da terra e dos nativos da Amazônia. Dirigido por Jorge Bodansky e Orlando Senna, o longa-metragem foi finalizado em 1974, mas até 1980, enquanto esteve proibido no Brasil, foi exibido poucas vezes, somente pelo circuito de cinema autoral, e ganhou prêmios em festivais mundo afora.

Liberado para exibição no Festival de Cinema de Brasília em 80, o longa ganhou o prêmio de melhor filme e virou referência no debate sobre a questão ambiental. Agora, a última edição da Mostra Fabulações no Real, da Escola Porto Iracema das Artes, promove uma exibição de "Iracema", seguida de bate papo sobre a obra, com a dupla de diretores e o renomado documentarista João Moreira Salles. A programação online acontece às 18h desta terça (8), pelo Facebook e You Tube do Porto Iracema; e terá ainda a mediação do crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, além da participação da curadora da mostra, a pesquisadora Kamilla Medeiros.  

Segundo Kamilla, "Iracema, uma transa amazônica" foi escolhido para encerrar a mostra por sua relevância histórica. A curadora observa também como o longa atualizou questões de linguagem cinematográfica, sendo uma ficção que se baseia bastante na realidade. Para ela, o filme é um olhar sobre "tudo que está à margem, literalmente (da construção da rodovia Transamazônica), as pessoas e a natureza que estão ali postas no jogo político. Como a mostra começou em setembro com um filme recente (Partida, Caco Ciocler, 2019), nossa intenção foi fazer uma volta no tempo, e desaguar nessa obra de 74", detalha. 

A curadora identifica que, com as restrições de circulação da pandemia, o cenário audiovisual - a exemplo de diversas áreas - esteve repleto da realização de "lives". Dessa forma, ela pensou na Mostra Fabulações no Real para levar ao público discussões que há tempos já são comuns na crítica e no meio acadêmico. "Queríamos falar dessas fronteiras entre documentário e ficção. Trazer essa conversa para mais pessoas. E (no caso do encerramento), não é todo dia que você junta Bodansky, Orlando e João Moreira para debater sobre um filme tão importante pra filmografia brasileira", sinaliza. 

Filme

Na tela, o espectador se depara com uma realidade incômoda e complexa para as comunidades da Amazônia e o meio ambiente onde estão inseridas. O diretor Orlando Senna descreve o movimento do personagem "Tião Brasil Grande" (Paulo César Pereio), um explorador ilegal de madeiras "nobres" e um dos eixos de desenvolvimento da trama.

"O personagem é um predador em várias extensões dessa palavra, tanto ambientais como humanas. Ele transporta meninas prostituídas de Belém para os confins da floresta e as deixa lá, entregues à própria sorte", descreve o diretor. Mais que um personagem, ele explica, Tião seria uma metáfora do regime sob o qual o Brasil vivia. Os indícios estão em sei sobrenome, "Brasil Grande", e na mensagem do parachoque "Ame-o ou Deixe-o", dois slogans da propaganda oficial da época.

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