'Forró das antigas' conquista fãs com apelo nostálgico dos anos 1990 e letras românticas
Personagens que fazem parte dessa história descrevem como as canções do chamado “forró eletrônico” dos anos 1990 reúnem novas gerações em torno desse universo musical
Circula em inúmeras playlists pelo universo online. É tema de festas temáticas em algumas capitais nordestinas. Além desses espaços de circulação, navega pela memória e atrai novas faixas etárias de fãs. Falamos especificamente do "forró das antigas".
Nos últimos anos, este rótulo conquistou lugar cativo no circuito comercial. Pouco se trata de uma nova forma de fazer ou recriar o forró. Aproxima se mais de uma espécie de resgate. A denominação "das antigas" costuma identificar as bandas que fizeram a cena do "forró eletrônico".
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Esta sonoridade incendiou os anos 1990 e prosseguiu ao longo das décadas. Temos Mastruz com Leite, Noda de Caju, Painel de Controle, Forró Real, Magníficos, Brucellose, Calcinha Preta, Cavalo de Pau, entre outros grupos. Profissionais que marcaram um processo de ruptura na maneira de produzir e consumir o forró.
Conversamos com personagens centrais e que fazem parte da história desta expressão. A ideia é iluminar o que seria este dito “forró das antigas” e as possíveis razões para explicar o fascínio em torno deste repertório até os dias atuais.
Dona de voz marcante, a cantora Kátia Cilene demarca que o termo surgiu de um evento que reúne os ícones que faziam e ainda fazem parte do movimento do forró dos anos 1990. “Isso ficou muito forte e as pessoas sempre quando falam destas bandas usam esse nome”, revela a artista.
Outro nome à frente de sucessos que definiram essa época, Iara Pamella afirma que muito desse carinho atravessa vários sentimentos. “Para mim, o 'forró das antigas' é nostalgia, sentimento, amor, paixão. Um mix de coisas boas, sabe”.
Velho x novo
Em dezembro de 2021, as matrizes tradicionais do forró ganharam o registro de Patrimônio Cultural do Brasil. A iniciativa protege saberes musicais como o xote, baião, xaxado, coco e toada. A conquista reverberou positivamente na cadeia produtiva do forró.
Ainda nos anos 1990, período que efetivamente marca a ascensão dos grupos musicais citados acima, o debate girava em torno do choque entre o “forró tradicional” (também chamado de “pé de serra”) e o então recente “forró eletrônico”.
Reconhecido nacionalmente como o pioneiro no forró eletrônico, o empresário Emanoel Gurgel defende que a única diferença entre os dois formatos era a mudança dos instrumentos usados pelos grupos. A proposta era explorar variações de timbre além do conjunto trio, zabumba e triângulo.
“O Mastruz com Leite tem 32 anos. Houveram muitas variações. Épocas em que as músicas tinham tendência de sertanejo, depois romântico. Veio aquele forrozão, mistura de vanerão com forró, várias misturas. Mas, a música de qualidade é feita para vida toda”.
O título “forró das antigas”, avalia, demarca um cuidado destas músicas em falar ao coração do público. Mastruz tem 48 CDs. Destes, todo disco tem de três a quatro sucessos. "Como você consegue isso? Cantando sobre decepção, primeiro beijo, da saudade do interior. Do nordestino obrigado a ficar nas grandes capitais com saudade da terra natal”, enumera.
Novos públicos
A construção desse imaginário reluz o trabalho de artistas como a compositora cearense Rita de Cássia, fenômeno musical responsável por dar vida a inúmeros destes sucessos. “Brilho da Lua”, “A Saga de Um Vaqueiro”, “Meu Vaqueiro, Meu Peão”, a lista vai longe nas mais de 500 composições. “Música tem que ter conteúdo, sem isso não vai longe”, defende Emanoel Gurgel.
Iara Pamella segue à frente do Noda de Caju e aponta que o forró pé-de-serra, o tradicional, jamais ficou para trás, mesmo com o forró eletrônico ocupando seu espaço dentro do mercado. "Não devemos esquecer que o verdadeiro forró das antigas vêm de muito antes, de Luiz Gonzaga, de Elba Ramalho”, completa.
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Kátia Cilene argumenta que o encontro com novos públicos é uma constante. Após lançar “Um Piseiro Arretado” outra recente produção da cantora é a faixa "I Love You Baby”, regravação dos anos 1980 que se casa com o forró noventista. Em meio às novas produções na carreira, o reencontro de sua arte com novos e cativantes fãs.
“Quando me abordam falam sempre de uma forma muito carinhosa que amam a nossa música e muito deles chegam a falar que queriam ter nascido nos anos 1990. Existe uma influência muito grande que vem de dentro das suas próprias casas, pois os pais deles eram os jovens daquela época e que nos escutam até hoje”, compartilha.
Para Emanoel Gurgel, a oportunidade do Mastruz com Leite levar para a mesma festa o pai, filho e o avô é um caso raro na canção brasileira. “Quem chega mais perto disso é Roberto Carlos. Chiclete com Banana conseguia quando Bel estava lá. Nesse 30 e tantos anos, só esses três. O mais vivo é o Mastruz. Quando você tem que fazer música, tem que lembrar que elas têm que ser feitas para as pessoas”, finaliza.