Decidir sobre a cama compartilhada cabe a quem? 

Além de ser uma questão familiar e dos profissionais que dão suporte à criação dos filhos, a decisão se tornou mais complexa quando se consideram as expectativas sobre a maternidade ideal  

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Krys e Iago: cama compartilhada e amamentação prolongada envolvem a criação do filho
Foto: Foto: Fabiane de Paula

A decisão sobre aderir à prática da cama compartilhada na criação dos filhos virou um tema complexo para os pais e cuidadores. No centro do debate público das redes sociais, a ideia de uma maternidade “ideal” leva a crer que a escolha envolve outros atores além da família da criança e os profissionais que dão suporte aos cuidados.  

Adepta da cama compartilhada, a doula Krys Rodrigues tenta aliviar a questão e reflete como a decisão pode provocar embates desnecessários. “Quem é que vai saber que o bebê dorme contigo se você não disser? Você precisa estar no almoço de domingo dizendo isso pra todo mundo? A não ser que queira levantar uma bandeira de ativismo”, aponta.  

“Quando eu falo nas redes sociais de amamentação prolongada, vem um bocado de gente me descascar, mas eu estou preparada. Porque me propus a isso. Se você tem aquela vó, de mais de 90 anos, que não vai mais mudar a maneira dela pensar, é desnecessário entrar em conflito", sugere a doula.  

Para ela, vários estereótipos sobre a criação com apego ainda precisam ser desconstruídos. “O parto humanizado não é parir debaixo de uma cachoeira, com pétalas de rosa caindo. Pode ser dentro de um hospital. Então, posso fazer uma cama compartilhada de forma segura, ou um berço compartilhado dentro do quarto. Criar outras formas de vincular”, reflete Krys.  

Outros vínculos 

A psicóloga Karine Martins, n`outro sentido, se posiciona a favor de que pais e filhos durmam em camas e quartos separados. E ela justifica seu viés, alegando que os cuidadores, nesse caso, têm a oportunidade de construir vínculos com as crianças de outras maneiras.  

“O vínculo é formado em toda história da criança: no brincar, no passeio, no levar para a escola, nas regras acordadas (entre pais e filhos). Então, tudo isso faz parte da formação infantil. Não vai ser estimulado só por conta de dormir na mesma cama”, desenvolve Karine. 

Ela orienta que, mesmo quando os pais e a criança já têm o costume de dormir todos na mesma cama, criar um espaço próprio para o filho pode ajudar o pequeno a crescer com a mudança. “Estimular que a criança olhe para o quarto dela, veja como é legal, dizer que ela está crescendo, e que enxergue como uma coisa positiva esse crescimento”, observa a psicóloga. 

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