Da autopublicação a livro lançado por editora: escritora realiza sonho após vídeo viralizar na web

Larinha chamou a atenção da Editora Sextante ao compartilhar reflexão sobre sermos "figurantes no filmes dos outros"

Escrito por Beatriz Rabelo , beatriz.rabelo@svm.com.br
Escritora Larinha
Legenda: Livro de Larinha foi publicado pela editora Sextante no dia 3 de outubro deste ano
Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A escritora Larinha, que escolheu o próprio pseudônimo, comemorou o lançamento do seu primeiro livro de ensaios na última quinta-feira (3). Aos 27 anos, já tinha autopublicado a primeira versão do livro "eu quero a árvore que existe", mas foi apenas um vídeo viralizar nas redes sociais, que ela realizou o sonho de ter um lançamento por uma editora brasileira. 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a jovem explica que “eu quero a árvore que existe: seis reflexões para o mundo real” é fruto de um trabalho de quase dois anos e surge como sua forma de tentar compreender o mundo. A produção ganhou destaque depois dela publicar um vídeo no Instagram sobre, às vezes, sermos figurantes no filme dos outros.

“Foi um retorno incrível, de um vídeo que teve muito alcance e que furou a bolha de uma forma que nem sei. Teve muita gente repostando nos stories e atraiu muita gente para o perfil. O que foi muito legal para o livro (recém-lançado) na época”, disse.

O vídeo em questão, publicado no dia 18 de fevereiro deste ano, conta com quase 16 milhões de visualizações no Instagram. Nele, de uma forma muito singela, Larinha conversa com os seguidores como se estivesse sentada ao lado deles em um café da tarde. “De vez em quando, mais interessante ainda que ser o 'protagonista do próprio filme' é ser figurante no filme dos outros”, começa dizendo no vídeo. 

Então, ela explica como, um dia, ao voltar para casa, o metrô parou em uma estação qualquer e ficou parado por mais tempo do que o usual. "Ele ficou parado por uns cinco minutos assim, ninguém entrou, ninguém saiu. Até que, quando finalmente tocou aquele sinal sonoro do 'cuidado, a porta vai fechar', entra pela porta correndo, toda esbaforida, uma menina com uma mochila gigantesca nas costas". 

Essa jovem, logo ligou para a mãe e avisou que conseguiu pegar o metrô. Ela disse que, se tivesse perdido, iria perder o voo e não conseguiria fazer a viagem para visitar a família. "E eu sentada do lado dela, escutando caladinha, pensando: 'ah, então era você que o universo estava esperando!’. Era ela a protagonista desse momento e eu, só uma figurante”. 

Autopublicação de seu primeiro livro 

No momento em que ela publicou o vídeo, fazia menos de um mês que ela tinha autopublicado seu primeiro livro, chamado "eu quero a árvore que existe: cinco escritos para o mundo real". O livro foi editado e organizado por Larinha, publicado de forma independente através da Amazon. O sonho dela era publicar o livro através de uma editora, mas como não estava conseguindo, decidiu fazer por si mesma. 

Natural de Goiânia, em Goiás, ela se mudou para o interior da França em janeiro de 2022, para um ano sabático, mas acabou decidindo ficar por lá. No mesmo período, começou a publicar vídeos no Instagram. Porém, foi apenas no segundo semestre de 2022 que decidiu sentar para escrever os ensaios de seu futuro livro. 

Duas versões do livro eu quero a árvore que existe
Legenda: Nas redes sociais, Larinha compartilhou as duas versões do livro
Foto: Reprodução/Instagram

O projeto foi finalizado em janeiro deste ano, quando Larinha decidiu que precisava fechar o material para publicar. A jovem que editou a capa, organizou a formatação e fez todo o processo para autopublicar pela Amazon.

Formada em Letras, a escrita sempre esteve presente em sua vida e, ainda durante conversa ao Diário do Nordeste, revelou que já desejou ser como sua professora de Literatura da época da escola.

“Mas escrever é uma coisa que eu faço desde que me entendo por gente. Minha percepção de mundo, minha consciência sempre esteve atrelada à escrita. Queria muito estar exagerando, mas eu preciso escrever, porque se eu não escrevo, fico muito desesperada, muito angustiada com meus pensamentos”. 
Larinha
Escritora

A escrita, assim como os ensaios presentes no livro, nascem como uma maneira de organizar os pensamentos e de compreender o mundo. 

Desafios da escrita

Nesse processo, ela explica que — apesar de sempre ter escrito bastante — a parte mais desafiadora do livro foi a própria escrita. “Não é porque escrevo que acho escrever fácil. É muito difícil, é amargo, é terrível. Eu sou completamente capaz de passar uma hora parada na frente do computador e escrever apenas uma palavra”. 

Escritora Larinha com o livro Eu quero a árvore que existe
Legenda: Livro publicado pela editora Sextante tem um ensaio inédito em relação à versão autopublicada
Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

Para ela, a escrita lhe coloca muito face a face com a humanidade. E o processo de escrita, tentando desembaralhar os pensamentos que estão “horrivelmente embaraçados”, nem sempre é agradável.

Mas ao fim, surge o livro, com ideias que estão conectadas, em um processo que ao fim, percebe ser bastante natural. 

“Eu acredito que a coisa que sobressai e une todos eles, o que coloca todos eles em contato, é essa ânsia de tentar compreender como existir e se relacionar com o mundo. Dilemas humanos velhos como o tempo. Essa ânsia de entender como existir em um mundo, como compreender e absorver o mundo. Como mediar essa relação com o mundo que nos cerca, que é o mundo real.”
Larinha
Escritora

Contato de uma editora

Dois meses depois da publicação do vídeo, em abril de 2024, ela recebeu um e-mail da diretora de aquisições da Editora Sextante, Nana Vaz de Castro, demonstrando interesse em publicar o livro através deles.

Larinha disse que, ao perguntar como Nana soube sobre seu livro, descobriu que a diretora viu seu vídeo e chegou a questionar: “Essa menina conta história bem, será que ela não escreve?”.

Foi assim que seu primeiro livro de ensaios ganhou uma nova publicação, através da Sextante, com o título "eu quero a árvore que existe: seis reflexões para o mundo real". A nova versão conta com um ensaio a mais do que o primeiro, mas contendo o mesmo primor.

“O sentimento com o lançamento agora é de uma felicidade imensa porque o livro existe, porque as pessoas podem ir na livraria para comprarem, porque tem uma pilha desse livro nas livrarias do Brasil”, celebra.

Veja também

Coletânea de seis ensaios

Em seu Instagram, Larinha apresentou um resumo sobre os seis ensaios e os temas debatidos em cada um deles.

  • “eu quero a árvore que existe”: aborda a passagem do tempo (e a angústia face a ela), a ânsia de “viver no presente” e a interminável busca humana por respostas, por compreender e encontrar sentido no mundo e na existência;
  • “é por isto que escrevo”: aborda a importância e valor do trabalho enquanto fator fundamental na busca pela satisfação (e pela felicidade). Ela realiza um paralelo entre o assunto e a própria relação com a escrita; 
  • “tecendo o arco-íris só um pouquinho”: reflete sobre a "velha rixa entre a ciência e a poesia". Ela faz um contraponto com o livro ‘desvendando o arco-íris’, do biólogo Richard Dawkins;
  • assim germina o fascínio: fala sobre como nascem as paixões — e não de relacionamentos românticos, mas de paixão por alguma atividade ou assunto. explorando como o contato com um apaixonado pode motivar o desejo pelo objeto da sua paixão;
  • a terra sangra nosso nome: aborda os laços eternos que são nutridos com a terra que "nos viu nascer e crescer", mesmo que tentemos fugir ou evitar. é um texto de memórias, o mais pessoal do livro. Nele, Larinha conto história de sua infância; 
  • em busca do orvalho das estrelas: fala sobre a exaustão da sociedade, a ânsia humana de deixar tudo pra trás e ir morar numa cabana no meio do mato (hoje e através dos séculos), e a importância de restaurar as relações comunitárias que ela acredita terem sido perdidas em razão da cultura do individualismo.

Para ler

O livro "eu quero a árvore que existe: seis reflexões para o mundo real", de 288 páginas, pode ser adquirido em livrarias ou em sites como:

  • Editora Sextante: aqui
  • Amazon: aqui
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