Criança cearense de 10 anos tem projeto aprovado na Lei Aldir Blanc para difusão da música

Na última reportagem da série "Pequenos protagonistas", Maria Flor Caminha compartilha, com outras crianças e o público em geral, as ações realizadas em prol da fruição musical

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: O repertório musical de Maria Flor Caminha envolve influências de nomes como Alceu Valença, Chico César, Roberta Campos e Raul Seixas
Foto: Thiago Gadelha

O nome de Maria Flor Caminha ganhou repercussão em Fortaleza no início de 2020. À época, com a cidade ainda um tanto distante dos efeitos da pandemia de Covid-19, a menina de 10 anos se apresentou com o Bloco Hospício Cultural na Praça da Gentilândia, no Benfica. Ao entoar alguns dos clássicos do cantor e compositor Raul Seixas (1945-1989), cravou seu nome na novíssima cena de artistas da Capital, conquistando o público.

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Fato é que a inclinação da garota para a música vem bem antes desse acontecimento, conforme relata a mãe, a produtora cultural Georgette Caminha. “Desde muito pequena, ela sempre gostou de cantar, desenhar, fazer artesanato, reciclar coisas, pegar embalagens, colar e fazer bonecos… Na parte da música, costumava aprender canções difíceis. Cantava errado, mas cantava do jeito dela, e fazia isso no banheiro, pela casa, vivia sempre cantando”, situa.

Legenda: “Meu maior sonho é poder chegar em vários cantos, fazendo minha música ir para muitos lugares e pessoas”, afirma Maria Flor
Foto: Thiago Gadelha

Envolta nessa atmosfera de tantos fazeres intuitivos, aos sete anos fez o derradeiro pedido: estudar canto. “Decidi aprender direitinho, pra colocar em prática de fato. E acho que essa foi uma das melhores escolhas que fiz até agora porque isso me faz muito bem”, percebe Maria Flor, aluna na instituição BSB Musical Fortaleza.

Nesta pandemia, ela conquistou um destacado feito: tornou-se a primeira criança a ser aprovada em ampla concorrência, enquanto executora de um projeto, na Lei Aldir Blanc, pela Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor). A iniciativa otimizou o show virtual “Flor e ser”, realizado no dia 16 de janeiro, o primeiro solo na iniciante carreira da cantora-mirim. 

Legenda: O protagonismo de Maria Flor tendo como suporte a música tem fomentado várias ações durante o período pandêmico
Foto: Thiago Gadelha

O repertório da apresentação passeou pelo cancioneiro de Alceu Valença, Caetano Veloso, Chico César, Roberta Campos e, claro, Seixas. “Meu maior sonho é poder chegar em vários cantos, fazendo minha música ir para muitos lugares e pessoas”, almeja a pequena. O desejo vem acompanhado de uma fortuita percepção. Maria Flor afirma que a música a ajudou “de todas as maneiras”, e acredita que o mesmo deve ter acontecido com todas as pessoas, sobretudo as crianças, que passaram a tê-la como inspiração.

“Acho que eu estimulo muitas crianças a cantar porque também sou uma e estou no palco. Se fosse algum adulto cantando, isso talvez não chegasse a elas, nem estariam vendo aquilo”, diz. 
Maria Flor Caminha
Cantora mirim

Solidárias ações

O protagonismo de Maria Flor tendo como suporte a música fomentou outras ações durante o período pandêmico. Inspirada por um vídeo que viu de um cantor italiano, ela resolveu lançar, em março de 2020, o desafio “A Música Muda o Mundo”, quando cantou na varanda de casa a música “Tente Outra Vez”, de Raul Seixas. A motivação foi alegrar a vizinhança, acossada em pleno isolamento. Na ocasião, Maria Flor também pediu para que outros músicos fizessem o mesmo. 

Por sua vez, em setembro, mês de aniversário, a menina teve a ideia de fazer uma live beneficente em comemoração à primeira década de vida, fruto de uma campanha de arrecadação para que pudesse continuar os estudos em canto. A gravação encontra-se disponível no canal do YouTube.

Sob outro espectro, após ter projeto contemplado na Aldir Blanc, Maria Flor foi aprovada também na chamada pública do Sesc-CE, e deve apresentar o show “Flor e Ser” em breve. Além disso, no último dia 18 de maio, a criança lançou seu segundo videoclipe, com a música “A Sorte é Cega”, de Luiz Gonzaga (1912-1989). No processo, Maria Flor esteve acompanhada de músicos renomados, a exemplo de Feitas Filho, Dudu Santos e Rilvas Silva.

A produção foi inteiramente gravada de modo remoto, no pico do último lockdown, respeitando todas as regras de distanciamento social, o que representou um grande desafio. Neste momento, a pequena está se dedicando a preparar o lançamento de sua primeira música autoral, prevista para outubro, mês das crianças.

Ontem (30), ela disponibilizou, no YouTube, a música "Benzinho", canção inédita de Dudu Santos, com interpretação da menina. A criação será sua música de trabalho para junho, mês das festas juninas, e deve ser uma das canções de seu EP, com previsão de lançamento para outubro. Outras atividades de Maria Flor também podem ser conferidas no perfil @cantamariaflor, no instagram.

“Eu acho que a música faz muito bem para todos, ela tem que fazer parte da vida de cada um, não importa o estilo, se rock, pop ou MPB”, defende. Ao que a mãe sublinha, ao observar cada iniciativa fomentada pela filha: “Com essa pandemia, a gente teve a certeza de que a música salvou a Maria Flor, eu não tenho a menor dúvida disso. Porque ela é super ativa e, de uma hora para outra, a gente se viu em casa, trancados. E foi quando ela teve um processo de amadurecimento musical e de produção ativa na área”.

Legenda: "Eu acho que a música faz muito bem para todos, ela tem que fazer parte da vida de cada um", considera Maria Flor Caminha
Foto: Thiago Gadelha

Continuar entre canções

Com os avanços na Medicina em combate ao novo coronavírus, Maria Flor agora anseia que tudo isso passe para voltar aos palcos o quanto antes. Até lá, ela sobe na pequena estrutura que montou em casa, repleta de plantas e ornamentos. Ali, encara o ambiente como o tablado possível para deixar que a música invada os sentidos e faça morada cada vez mais permanente.

“Se a pessoa quer realmente levar isso pra vida dela, então que estude porque vai ser mais um cantor no mundo. Isso vai ajudar muito. E, se ela não quiser, a música é boa para todo mundo, afinal quem canta seus males espanta”, reitera.
Maria Flor Caminha
Cantora mirim

Georgette Caminha, por sua vez, desenvolve o pensamento da filha: notar a evolução pessoal de Maria Flor é motivo de alegria porque o crescimento é compartilhado.

“A gente vê a importância de ela protagonizar isso na vida dela, escolhendo a música não apenas como um hobby, mas como uma profissão mesmo, uma responsabilidade porque foi o compromisso que ela assumiu. Enquanto mãe, deixo com que isso seja leve, mas, ao mesmo tempo, que ela entenda que está fazendo uma escolha, e isso deve ser realizado da melhor forma possível”. 

Legenda: A produtora cultural Georgette Caminha dá suporte à filha para que alcance cada vez mais pessoas com o trabalho musical
Foto: Thiago Gadelha

Com a menina partindo de mãos dadas com tantos, o horizonte parece entoar uma melodia em troca. “Há uma voz que canta/ Uma voz que dança/ Uma voz que gira/ Bailando no ar”.

Serviço
Vídeos do projeto “Flor e ser”, de Maria Flor Caminha
Disponível no canal da artista, no YouTube.  A artista também está presente no instagram, por meio do perfil @cantamariaflor

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