Cearenses no OnlyFans chegam a faturar R$ 40 mil em um mês com fotos sensuais; conheça histórias

Seja para ter uma renda extra, para explorar novos conhecimentos sobre o corpo ou para retratar a nudez artística, plataforma tem sido cada vez mais utilizada para o compartilhamento de conteúdo adulto

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
pedro zull onlyfans
Legenda: Pedro Zull está há mais de três anos no OnlyFans e ganha, em média, R$ 4 mil por semana

Desde que o OnlyFans começou a ser utilizado para a divulgação de conteúdo adulto, diversos artistas e influenciadores digitais têm apostado na plataforma como fonte de renda. A ex-BBB Lumena Aleluia, por exemplo, afirmou em entrevista ao Extra que faturou mais de R$ 100 mil em apenas 10 dias do perfil.  

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E os valores são surpreendentes até para quem não é famoso. Há pouco mais de um ano o cearense Lucas Henrique, de 25 anos, começou a vender conteúdo adulto na plataforma e, em um mês, já conseguiu faturar R$ 40 mil. O jovem faz em média R$ 8 mil. Com mais de 100 assinantes atualmente, ele cobra US$19,90 a mensalidade – cerca de R$ 110 na atual cotação- para quem quer ver o seu conteúdo.   

“No Instagram, eu sempre publiquei coisas do mundo fitness, exibia o corpo, atraia muito público de pessoas se espelhando em mim e isso me fez conquistar muitos seguidores. As pessoas começaram a pedir pra eu criar um perfil no OnlyFans e fui descobrir o que era. Juntei o que eu gosto de fazer que é tirar foto e mostrar o corpo com o agradável que é ganhar dinheiro”.  
Lucas Henrique
estudante

De acordo com dados repassados à reportagem pelo OnlyFans, mais de 750 criadores de conteúdo da plataforma já conseguiram faturar mais de US$1 milhão.

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bilhões de dólares já foram pagos pelo site a quem fatura com o conteúdo
  

O preço da assinatura é determinado pelo produtor de conteúdo, mas o valor mínimo que a plataforma permite que seja cobrado é de US$4,99 e o máximo é de US$50.  

Lucas, que tem mais de 380 mil seguidores no Instagram, conta que, hoje, consegue faturar mais com o OnlyFans que com publicidades na rede social. “Logo de imediato, quando divulguei no Instagram, foi um boom, consegui conquistar várias coisas que eu queria, então isso foi me motivando”, relata. 

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Legenda: No site, Lucas compartilha fotos e vídeos sensuais

‘Comprei casa, carro e pago minha faculdade’ 

Nascido e criado na periferia de Messejana, todo aquele dinheiro foi algo surpreendente para Lucas. “Eu não sabia nem como lidar, mas aí comecei a pensar que posso usar pra cuidar de mim, fazer as coisas que eu queria. Hoje, pago minha faculdade, comprei um carro e uma casa pra minha família”.  

Apesar das conquistas, Lucas conta que no início ele mesmo ainda tinha certo preconceito, mas entendeu que é um trabalho e uma produção profissional. “Eu já me exibia muitos nas redes sociais, então nem pra minha família foi algo espantoso, como é algo rentável, eles até me apoiam”.  

O jovem cursa Odontologia e pretende seguir a carreira de formação, mas usa a renda do OnlyFans como uma ponte para conquistar os objetivos e pretende dar uma pausa na produção de conteúdo sensual quando conquistar estabilidade na profissão. 

Gravações profissionais 

O cearense Pedro Zull, de 27 anos, já está há três anos na plataforma e a encara como um trabalho. Para isso, faz uma programação de gravações em três dias da semana para manter os conteúdos atualizados no site, já que, de acordo com ele, o público está sempre pedindo novidades.  

Tanto Pedro quanto Lucas Henrique contratam fotógrafos e videomakers, para as gravações. "Vamos pra uma locação e disponibilizo uma quantia pra contratação desses profissionais. Gravo com outras pessoas e também solo”, explica Pedro.   

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Todo o conteúdo publicado pelo perfil fica disponível para os mais de 3 mil assinantes. Pedro, no caso, cobra US$20 por semana e US$100 dólares por mês. Em média, o faturamento dele fica em cerca de R$ 4 mil por semana, o valor varia conforme o engajamento dele na plataforma.  

Para Pedro, o OnlyFans é um complemento do trabalho dele, que atua também como ator pornô, mas pretende seguir como digital influencer.

“Quero ser influenciador, divulgar parcerias, dicas e mais. Existe muito preconceito ainda, mas o que me ajuda é que tenho muito apoio dos meus pais e marido”.  
Pedro Zull
ator pornô

Processo de autoconhecimento  

A necessidade de dinheiro extra e a vontade de ter novos experimentos sexuais fizeram o arquiteto Adrian (cujo nome real será preservado a pedido do entrevistado), de 27 anos, entrar para a plataforma. Desde abril deste ano, ele tem publicado fotos e vídeos explorando a nudez e a sensualidade.  

“É meio que uma extensão de uns experimentos que eu já vinha fazendo no Instagram, mas num espaço mais privado para amigos próximos. À medida que eu fui amadurecendo, ganhando experiência, eu fui me permitindo certas brincadeiras, experimentos com meu corpo, percebi que instigava as pessoas”.  
Adrian
produtor de conteúdo adulto

No final do ano passado, Adran saiu da casa dos pais para morar sozinho e passou a ter mais liberdade para novos experimentos. “Comecei a gravar stories mais picantes, então juntando o processo que eu tava vivendo de desgaste no meu trabalho e eu tava precisando de grana, e resolvi me lançar e foi daí que veio o start pra monetizar esse conteúdo e ver o que dava”. 

Ainda no começo, o jovem relata que tem um faturamento baixo comparado ao de outros produtores, média de US$ 50 (cerca de R$ 260 na cotação atual), mas que pretende investir mais na produção dos conteúdos para obter mais assinantes e também aumentar o valor da mensalidade que cobra.  

Canal para amadores

“Uma coisa boa do Only é que ele é realmente um canal pra amadores e existe público pra tudo. Tem pessoas bem fora dos padrões estéticos e se mostrando, então é muito bacana ver isso, ajuda com a autoestima e o autoconhecimento. Tenho tentado postar com frequência, mas nem sempre tenho energia”, diz.  

Apesar de os amigos mais próximos a ele saberem que Adrian é um produtor de conteúdo, a família dele não tem conhecimento.

Qualquer pessoa com mais de 18 anos pode entrar na plataforma, tanto como usuário como criador de conteúdo. Além da modalidade paga, há ainda a opção gratuita, em que alguns produtores fazem suas publicações sem cobrar um valor de mensalidade. 

Legenda: Para o conteúdo, Lídia aposta em fotos mais artísticas
Foto: Di Carnage

Nudez e a arte  

A bartender Lídia Varela, de 26 anos, já fazia fotos sensuais quando conheceu o OnlyFans por meio de um colega fotógrafo que falou da plataforma e a possibilidade de monetização. Para ela, contudo, a ideia é retratar a nudez de forma mais artística. O foco não é o nu explícito.  

“A produção é bem simples, nada muito profissional. Gosto de coisas naturais, então procuro sempre postar coisas em meio à natureza e quase sem maquiagem. Normalmente faço esses conteúdos em parceria com o fotógrafo”, detalha.  

Lídia cobra US$20 a mensalidade dos assinantes e consegue faturar, em média, de US$500 a 600 no mês.  

Embora orgulhosa da coragem que tem de expor essa arte, Lídia conta sofrer bastante preconceito e ser criticada, principalmente, por mulheres. “Isso me deixa muito triste, pois busco a liberdade feminina”.  

"Já me falaram que sou vulgar, que ganho dinheiro vendendo o corpo, que minha família deveria sentir vergonha, que só consigo chamar a atenção mostrando o corpo e outras coisas baixas demais pra serem ditas. Acho que a vida é individual e cada um faz o que quer e é obrigação dos outros respeitarem e a arte precisa ser reconhecida como arte”.  
Lídia Varela
bartender

Legenda: A bartender conta sofrer preconceito por estar na plataforma
Foto: Di Carnage

O que instiga a busca pelo conteúdo adulto? 

A sexóloga e psicóloga Mariana Oliveira pontua que esse interesse pode estar muito relacionado com duas fantasias sexuais: o exibicionismo e o voyeurismo. “O exibicionismo é quando a pessoa gosta de se exibir, já o voyeurismo é quando a pessoa gosta de assistir atos sexuais. Todas as pessoas têm essas fantasias de ver e de ser visto, mas em níveis diferentes”.  

De acordo com Mariana, o OnlyFans se torna ainda mais atrativo que o pornô, por exemplo, por proporcionar uma maior proximidade com o público, já que no site é possível que os assinantes mandem mensagens ao criador de conteúdo.  

"No Onlyfans, se desenvolve quase como uma relação, é algo que é alimentado pela pessoa que tá produzindo, a pessoa manda mensagem e é respondida, conhece mais da pessoa que tá se expondo ali”.  
Mariana Oliveira
sexóloga e psicóloga

Para a sexóloga e ginecologista, Sabrina Forte, o OnlyFans é uma evolução tecnológica de algo que foi sempre consumido, antes em revistas como a Playboy e Sexy. “O que motiva alguém a consumir um conteúdo sensual, sexual é o prazer, que não deixa de ser uma recompensa cerebral".  

Além disso, a psicóloga Mariana Oliveira explica que são muitas as motivações que fazem alguém querer produzir esse tipo de conteúdo. “Para alguns, é o dinheiro, ou o prazer que tem em se mostrar, em receber elogios e atenção, depende muito de cada pessoa”.  

Mesmo tão buscado, ainda existe muito pudor e preconceito com relação a esse tipo de conteúdo. Conforme Sabrina, isso é explicado pela criação social, já que culturalmente os homens são treinados para serem sedutores, desejados, enquanto as mulheres precisam ter o comportamento de ‘princesas da Disney’.  

"Não se fala de sexo porque os mais velhos não falam de sexo. Ainda é muito difícil desmistificar, trazer alguns comportamentos, alguns pensamentos, alguns mitos, alguns valores muito errados, muita engessados. Falar de sexo, eu mexo com vergonha, com insegura, com criação, com valores religiosos, com crenças, com experiências que podem ser boas ou ruins”.  
Sabrina Forte
sexóloga e ginecologista

Dinheiro fácil?   

Por ser algo que pode dar bastante lucro, existe a ideia de que é um dinheiro fácil, porém Mariana pondera que não. “É um trabalho, esses produtores precisam fazer algo todo dia, seja uma sessão de foto ou vídeo, alimentar as redes sociais, interagir com os assinantes”.  

“É uma exposição muito grande, psicologicamente tem um preço também, podem acontecer situações constrangedoras, porque não necessariamente a pessoa que está lá produzindo esse conteúdo tem um suporte emocional para aquilo. Algumas abordagens podem ser invasivas, como um trabalho, tem seus ônus e bônus”, conclui.  

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