Bandas locais apostam nos videoclipes para reler seus repertórios e reforçar divulgação

O videoclipe hoje é considerado um item fundamental para a formação de público dos artistas independentes. Difundida no Brasil desde os anos 90, com a MTV Brasil, a linguagem cresceu e se consolidou na era do You Tube

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: A atriz Ludmila Santiago atuou no último videoclipe dos cearenses do Backdrop Falls

Na primeira metade da década de 1990, parte da juventude brasileira curtia a linguagem dos videoclipes com acesso à programação da MTV Brasil. Ainda sem internet e nem sonhar em se tornar audiência do YouTube, o público consumia os clipes veiculados em canais de televisão (como o Multishow também, na grade nacional) e os artistas precisavam levantar um orçamento razoável para conseguir criar seu cartão de visitas audiovisual.

Hoje, a produção audiovisual é praticamente um pré-requisito para o artista que queira alcançar seu público. E, graças às possibilidades da cultura digital, existe uma série de videoclipes bancados por um custo reduzido, em relação ao que se fazia na "era" analógica (até 1995). No cenário musical de Fortaleza de hoje, as bandas encontraram no metiê de fazer videoclipes a oportunidade de "reler" as próprias obras e agregar novos olhares e elementos ao repertório musical.

Para a cantora e compositora cearense Ilya, produzir um videoclipe é como fazer mais uma "gestação" da música. "Capta e expressa sensações que a música traz de uma forma visual, em movimento e também documental. Conta outros detalhes, de certa forma sugerindo tons que revelam as motivações do disco em narrativas e poéticas subliminares. Assim como engaja mais pessoas ao projeto", sintetiza a artista.

No mês passado, ela lançou o videoclipe de "À Vontade", o quinto dentre as nove faixas do álbum "Doces Náufragos" (2018), seu primeiro disco. Ilya fez parte da geração que cresceu acompanhando os primeiros clipes no Brasil e lembra - do acervo da cena local - do videoclipe da música "Coca Colas e Iguarias", canção de Valdo Aderaldo, interpretada pela cantora cearense Kátia Freitas.

Ilya lembra, bem humorada, que imitava Kátia quando passeava com a família pelas dunas da Praia do Futuro, reproduzindo os gestos da cantora no vídeo. "Passava horas fazendo a Kátia nas piscininhas que se formavam na areia da praia, sentindo o vento no cabelo e cantando (risos). Meu irmão tirava onda, as pessoas não me levavam muito a sério, mas aqui estou eu respondendo sobre meus próprios videoclipes. O que me deixa bem feliz e com vontade de fazer mais", sinaliza.

Realizador audiovisual e baterista da banda cearense Backdrop Falls, o músico Roger Capone observa que há 10 anos, "ou mais", o videoclipe já é um item básico na divulgação das bandas independentes. O grupo lançou o segundo vídeo do álbum "There`s no such place as home", da música "Out of My Mess", no último mês de junho.

Segundo Roger, o Backdrop Falls deve lançar videoclipes de todas as faixas do disco. "Além dos clipes, estamos lançando vídeos acústicos, lyric videos, making of, tudo dividido em séries, como em um canal de televisão. Como estamos focados em uma carreira internacional (eles cantam em inglês), o vídeo tem um peso ainda maior em nossa divulgação", destaca o baterista.

Evolução

Ele reconhece a evolução do videoclipe alinhada às mudanças tecnológicas. Antes a gravação era para fitas VHS, e hoje se volta aos suportes digitais. Além disso, Roger chama atenção para a estética das produções, voltada à experimentação, a exemplo do cinema, e mais livre se comparada a uma peça publicitária.

Sobre o valor investido nos vídeos, o músico vislumbra como "continuará existindo vídeos geniais com um orçamento altíssimo. E outros gastando quase zero. Esse universo não para, está sempre girando, e utilizando as diferentes formas de captação, edição e exibição".

Básico

Outro sinal de que o videoclipe fundamenta a carreira dos músicos de hoje está na disposição que os artistas têm de trabalhar a linguagem logo cedo. Há pouco tempo, a cantora Bi Santana lançou seu trabalho autoral e, ao lado de artistas visuais da produtora Voir Image, desenvolveu o clipe da canção "Pronto Socorro", publicado no You Tube no último dia 1º.

"É o meu primeiro videoclipe. Antes mesmo de pensar em seguir uma carreira autoral, eu já conseguia perceber como se repercutia minhas postagens nas redes sociais quando acompanhadas não de foto, mas de vídeos", observa Bi, que também é formada em Comunicação Social.

Para conceber o vídeo de "Pronto Socorro", ela conta que não teve uma referência de inspiração direta, mas partiu de uma "tela em branco na mente" a fim de experimentar a linguagem. Indagada sobre a evolução dos videoclipes no cenário musical, Bi Santana enxerga a amplitude da produção audiovisual.

"O cenário local vem evoluindo, diante da necessidade em divulgar em uma única mídia várias informações: canção, imagem, quem é o artista e a que veio. Um videoclipe fala tudo isso", reflete a cantora.

Assuntos Relacionados