Assis: o que fazer em um dia na cidade de São Francisco, na Itália
Terra natal de São Francisco e Santa Clara, Assis, na Itália, conquista os visitantes pelos ares medievais, inspira tranquilidade e traz a pausa necessária aos percursos
A Itália nem sempre está no roteiro daqueles que se aventuram pela primeira vez na Europa. No meu caso, o "país da bota" não apenas integrou o percurso, mas foi a essência dele, e tudo isso começou com a vontade de conhecer Assis, cidade da região da Umbria, onde nasceram São Francisco e Santa Clara.
Embora não seja uma pessoa religiosa, a formação em uma escola franciscana me deixou fascinada pela história do santo e despertou o desejo, ainda na adolescência, de conhecer a cidadezinha que guarda ares medievais e não se rende com facilidade aos apelos turísticos.
Para chegar em Assis, partindo de Florença, são três horas de trem - mas que passam tranquilamente se você for munido de aplicativo de música, fones de ouvido e uma garrafinha de água. O desembarque é uma estação pequena, e bem na saída há um ponto de ônibus onde passa a linha que leva ao centro histórico, sem erro.
Como é de se esperar na cidade natal de dois santos, as igrejas constituem a maior parte do roteiro, mas fogem à regra dos grandes templos que ostentam riqueza. Ao contrário: são locais guardados pelo silêncio de quem vai agradecer em preces, mas convidativos a qualquer outro visitante que se deixe envolver pela atmosfera de paz e contemplação.
Se o ritmo da sua viagem não combinar com pausas quase meditativas, a visita às igrejas de Assis vale a pena pelo caráter histórico. Na Basílica di Santa Chiara é possível acessar o túmulo de Clara de Assis e ver as poucas peças de roupas que a jovem italiana possuía após ter adotado o estilo de vida devoto da pobreza.
Já a Basílica di San Francesco abriga, além do túmulo do santo, os poucos itens que ele levava consigo e os primeiros escritos da ordem franciscana. Acredite: depois de peregrinar pelos suntuosos templos religiosos apinhados de turistas nas mais famosas cidades da Itália, você vai querer sentar e apenas admirar como a simplicidade das igrejas de Assis têm algo de pacífico.
Esticando as pernas
Após o percurso divino, é hora de esticar as pernas pelas ruelas da cidade, a maioria emoldurada por construções de pedra e que ainda exibem bandeiras ao estilo medieval. Passear por Assis não tem erro, você vai enveredar por caminhos estreitos e tortos, com subidas e descidas, passar por minijardins e portinholas de restaurantes, mas é só seguir as placas e sempre cairá na praça principal, a Piazza del Comune.
É lá, inclusive, onde se pode saborear um bom sorvete e visitar a Zuboli, livraria centenária que imprime o Cântico das Criaturas e a Oração de São Francisco em pergaminho bem pequeno, mas ótimo para ter como lembrança.
Já se afastando um pouco mais da praça, os caminhos ficam ainda mais charmosos e silenciosos, com direito a som de pássaros e árvores chacoalhando, sombra e vistas típicas dos cartões postais europeus, com vales esverdeados e uma ou outra cúpula de igreja. A caminhada fica ainda melhor se parar para comer em um dos vários restaurantes cuja maioria dos cardápios se encaixa no orçamento de euros do dia.
Mesmo que sourvenires não sejam compras recorrentes nas suas viagens, você vai acabar se rendendo a pelo menos uma loja de artesanato, ainda que apenas para admirar as diversas plaquinhas coloridas, em madeira ou gesso, com os escritos "Pax et Bonum" e "Pace e Bene", ou Paz e Bem, saudação franciscana usada até hoje pelos membros da irmandade. Entre os pontos de venda é possível encontrar, ainda, lojas que parecem casinhas de boneca e são, na verdade, perfumarias especializadas em lavanda, planta comum em regiões próximas dali. Os produtos são caros, mas compensa entrar para sentir o cheirinho.
Antes de voltar à estação e se preparar para mais três horas de trem, desça do ônibus uma parada antes do fim da linha e visite a Basílica di Santa Maria degli Angeli - sim, mais uma igreja. Essa tem ares monumentais e foi construída em volta da Porciúncula, capela restaurada por São Francisco e onde ele morreu, em 1226.
Pessoalmente, esse foi mais um dos lugares em que o silêncio quase sagrado me desconectou do mundo e o roteiro, até então turístico, ganhou um componente espiritual. Na verdade, parte da experiência ao visitar a cidade franciscana consiste em esquecer celulares, redes sociais e somente andar e respirar - e depois, assim como eu, ter um pequeno trabalho ao contar para os amigos sobre essa experiência incrível sem tantas fotos para mostrar.
Mas Assis é assim mesmo: não dá para explicar ou ilustrar, é preciso vivenciar.