Após mais de seis anos, escultura 'La Femme Bateau' volta ao lugar de origem, na Praia de Iracema

Obra de Sérvulo Esmeraldo foi símbolo da orla de Fortaleza por três décadas, até ser arrancada pela ressaca do mar em 2018

Escrito por Ana Beatriz Caldas , beatriz.caldas@svm.com.br
A escultura La Femme Bateau voltou à Ponte dos Ingleses
Legenda: A escultura La Femme Bateau voltou à Ponte dos Ingleses
Foto: Kid Junior

A escultura La Femme Bateau voltou à Ponte dos Ingleses nesta segunda-feira (24). Levada de jangada até as imediações da ponte durante o dia, a "mulher-barco" foi içada ao lugar de exibição. Obra do artista cratense Sérvulo Esmeraldo, a escultura foi símbolo da Praia de Iracema por três décadas, até ser arrancada pela força das águas do mar em março de 2018. 

Depois da ressaca do mar, a obra foi resgatada por mergulhadores do Corpo de Bombeiros e ficou por seis anos aguardando restauro em uma metalúrgica no Porto do Mucuripe.

Para Dodora Guimarães, presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo e viúva do artista, a demora no restauro – realizado apenas neste ano – ocorreu "porque os nossos dirigentes não veem com responsabilidade as obras de arte que estão na cidade, que são patrimônio público".

Não foi a primeira vez que a obra, uma das esculturas públicas mais famosas e queridas do Ceará, enfrentou intempéries. Inicialmente feita em fibra de vidro, ela passou por dois naufrágios até ser reconstruída em aço inox, na versão mantida até hoje. Mas a ressaca de 2018, que destruiu também o que restava da Ponte dos Ingleses, causou um desfalque ainda maior na paisagem da Capital: faltava ali um ponto "para nos conduzir com segurança, fantasia, coragem e esperança", como Sérvulo gostava de descrever a escultura. 

"Atribuo o restauro, em grande parte, ao fato de a ponte estar sendo restaurada. Isso com certeza impulsionou o interesse da Secultfor em restaurá-la. Mas o que contou mesmo foi a vontade popular, o interesse da cidade em ter a escultura de volta", destaca Dodora Guimarães.

A Femme Bateau é realmente um ícone, uma paixão cearense. É impressionante como ela é querida
Dodora Guimarães
Presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo

Descaso com obras públicas

Para Dodora, o episódio da La Femme Bateau faz parte de um cenário de descaso mais amplo, que contribui para a deterioração de outras esculturas públicas. "Espero que, com essa atitude da Secultfor de restaurar essa obra, de devolvê-la à cidade, outras obras recebam esse cuidado. Não só do Sérvulo Esmeraldo, mas também de outros artistas", completa.

Uma das obras públicas que a gestora cultural cita como "abandonada" é o Monumento ao Vaqueiro, do pernambucano Corbiniano Lins, localizado na praça Brigadeiro Eduardo Gomes, em frente ao antigo aeroporto, na Vila União.

No fim do ano passado, com o intuito de salvaguardar as 37 esculturas públicas de Sérvulo que estão espalhadas pelo Ceará, Dodora solicitou à Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) o tombamento das obras do artista plástico. No momento, aguarda informações sobre o andamento do processo. "Muitas obras dele já foram destruídas", lamenta.

Em meio aos desafios para eternizar o legado de Sérvulo Esmeraldo, o retorno da La Femme Bateau chega como alento para os apreciadores de arte. 

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