A Mandíbula de Caim, livro-sensação do TikTok, só foi resolvido por 4 pessoas; você conseguiria?

Obra foi relançada no fim de 2022 e tem dado o que falar pela (quase) impossibilidade de resolver a trama; engajamento do público na internet impressiona pela criatividade

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Desde o lançamento, no último mês de dezembro, “A Mandíbula de Caim” vendeu mais de 60 mil exemplares em menos de 20 dias
Foto: Divulgação

Seis assassinatos. Milhões de combinações possíveis. Apenas uma é a correta. A sinopse é de “A Mandíbula de Caim”, livro-sensação da internet nos últimos meses. O motivo: a (quase) impossibilidade de resolução do mistério. Para você ter uma ideia, as chances realmente são mínimas: 32 milhões de possibilidades espalhadas pelas 100 páginas. Quem consegue?

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Em todo o mundo, apenas quatro pessoas atingiram o feito – mesmo depois de 90 anos da publicação original do romance. Explica-se: no fim de 2022, a obra do inglês Edward Powys Mathers (1892-1939), sob o pseudônimo de Torquemada, foi relançada no Brasil pela editora Intrínseca. Impulsionado pelo Tik Tok, tornou-se um fenômeno. Agora, além de protagonizar vídeos e posts, tem gerado engajamento matemático e intelectual.

Vamos aos detalhes. Em 1934, Powys Mathers – um compilador de palavras cruzadas do jornal The Observer – escreveu o livro em questão, uma referência à primeira arma assassina de que se tem notícia. A priori, a história pareceu apenas mais um suspense policial. No entanto, à medida que o enredo se desenvolvia, o público se viu diante de um dos quebra-cabeças mais intrigantes já publicados.

Legenda: Edição brasileira conta com páginas destacáveis para ajudar na solução do mistério: um livro-objeto
Foto: Divulgação

Não à toa, o comentário estampado na capa: “Se Agatha Christie e James Joyce tivessem um filho literário bastardo, seria este livro”. É que os leitores precisam identificar seis assassinatos distribuídos em 100 páginas impressas em ordem totalmente aleatória. 

Apenas com muita lógica e leitura atenta pode-se organizá-las na progressão correta, de modo que se revelem as vítimas e os respectivos algozes. Tarefa árdua e que, por isso mesmo, está cheia de recompensas para quem conseguir.

Estímulo não falta 

Além de todo o mistério envolvendo o livro em si, impressiona o engajamento que a obra tem provocado nas redes sociais. Diversos perfis literários no TikTok mostram aos seguidores o desafio de resolver a trama. São diferentes métodos, estratégias e curiosidades para que mais gente se sinta convidado a participar da empreitada.

Em alguns vídeos, os influenciadores comentam que até animais narram determinadas passagens do romance, o que embaralha ainda mais a mente. Para completar, personagens com nomes semelhantes ou com variações mínimas reforçam essa complexidade do enredo. Como não se envolver?

Legenda: Com as páginas destacáveis do livro, dá para montar um verdadeiro mural de investigação, estilo FBI
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A própria forma de publicação da obra otimiza essa aderência coletiva – sobretudo por parte dos jovens. A edição brasileira conta com páginas destacáveis para ajudar na solução do mistério. Um livro-objeto. Dá para montar um verdadeiro mural de investigação, estilo FBI. No entanto, quem não quiser desmontar a brochura, pode anotar e grifar à vontade.

Além disso, logo no início da publicação, há uma folha de respostas para ser preenchida por quem acha que solucionou o enigma. Com o “gabarito” em mãos, o próximo passo é enviar para a editora, pelos Correios ou pelo site

O vencedor ou vencedora do concurso – com direito a conhecer a sede da Intrínseca, no Rio de Janeiro – será a primeira pessoa que enviar a folha de respostas original corretamente preenchida e contendo todos os acervos previstos no gabarito do quebra-cabeça da obra. 

Para manter as ideias originais do autor, todos os cuidados foram tomados durante o processo de tradução e edição do livro, que contou com a participação de um especialista na obra e a colaboração entre editores e tradutores de diversos países.

Alcance tremendo

Desde o lançamento, no último mês de dezembro, “A Mandíbula de Caim” vendeu mais de 60 mil exemplares em menos de 20 dias. Várias pessoas entraram para a “trend” nas redes sociais, compartilhando as experiências com o livro. 

As duas primeiras pessoas a resolverem o mistério, ainda nos anos 1930, foram Sydney-Turner e WS Kennedy. Eles ganharam 25 libras na ocasião, segundo o The Guardian.

Oito décadas depois, Patrick Wildgust – curador do museu Shandy Hall, em North Yorkshire (ING) – resolveu o problema após a Laurence Sterne Trust, instituição de caridade criada para promover os escritos do romancista Laurence Sterne, receber uma cópia do livro. 

Legenda: Várias pessoas entraram para a “trend” nas redes sociais, compartilhando as experiências com o livro
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Por fim, o comediante John Finnemore foi o felizardo em 2020, durante um concurso promovido por uma editora inglesa. O livro, inclusive, voltou a bombar após uma tiktoker encontrá-lo na livraria, em 2021, e ficar intrigada para resolver o enigma. Ela postou um vídeo na rede social relatando a experiência e nem imaginava a repercussão.

No Skoob – rede social voltada para literatura – alguns leitores deram dicas para ajudar a pelo menos chegar perto da solução. Eles classificaram a obra como “confusa, mas incrível”.

A sequência correta do enigma está em posse da editora britânica responsável pelo livro, a Unboud.

 

A Mandíbula de Caim
Torquemada
Tradução de Myra Marple 

Intrínseca
2022, 216 páginas
R$49,65

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