Muitas vezes mascarado como uma brincadeira, o bullying é uma forma de intimidação vexatória que usa um conjunto de violências, desde a verbal, física, e até mesmo a segregação do indivíduo. A prática pode acontecer em qualquer ambiente, mas é frequentemente encontrada na dinâmica escolar.
O fenômeno pode causar diversas consequências profundas nas vítimas. Baixa autoestima, isolamento social, ansiedade, estresse, depressão, fobia e ideação suicida são alguns dos efeitos associados.
O que é bullying?
A lei nº 13.185, de 2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), define que é intimidação sistemática ou bullying "todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas".
No campo teórico, existem diferentes perspectivas que definem a violência sistemática que acontece no espaço escolar, como explica a psicóloga e professora da Universidade de Fortaleza, Letícia Bessa*. Uma delas, considerada dominante, define o fenômeno como toda atitude agressiva, intencional e repetida, que ocorre sem motivação evidente, adotada por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executada dentro de uma relação desigual de poder.
No entanto, como revela a especialista, ela prefere outro entendimento: o que aproxima o bullying do conceito de preconceito. Nessa linha, o bullying é uma expressão da violência estrutural da sociedade, atravessada por fatores determinantes, diferente da falta de motivação pregada pela definição anterior.
Conforme a terapeuta, pesquisas apontam que as vítimas de bullying são membros de minorias sociais — indivíduos fora dos padrões de beleza, raça, cor, gênero e sexualidade. Assim, como explica ela, existem fatores macrossociais no fenômeno do bullying que a escola tanto reproduz como produz a violência estrutural.
Tipos de Bullying
Os tipos são inúmeros, conforme a Letícia Bessa, e podem abordar características físicas, gênero, raça, cor, sexualidade, entre outros. Ela lista os mais comuns. São eles:
- Bullying LGBTQIA+fóbico;
- Bullying étnico-racial;
- Bullying gordofóbico;
- Bullying capacitista.
Como o bullying se manifesta?
Como esclarece a psicóloga, o fenômeno pode se apresentar de três formas: verbal, física ou mesmo com a segregação e/ou exclusão do indivíduo — ou seja, o colega que não é considerado, não é escolhido.
Como saber se alguém próximo é alvo?
Existem algumas mudanças comportamentais que podem indicar se um indivíduo está sendo vítima de bullying. Segundo a terapeuta, se um(a) estudante estiver se isolando, diminuindo o rendimento escolar, faltando as aulas ou passe a apresentar um comportamento mais agressivo e irritado, ele pode estar dando sinais de que é um alvo.
Como combater o bullying?
Esse tipo de violência pode causar consequências sérias e profundas, como baixa autoestima, isolamento social, problemas psicológicos — ansiedade, estresse, depressão, fobia, ideação suicida —, além de redução do rendimento acadêmico e evasão escolar, alerta a professora.
Uma das formas de combater o bullying, segundo ela, é reconhecer e dar visibilidade, com respeito e valorização, às diferentes formas de existência. Através de iniciativas como, por exemplo, o desenvolvimento de trabalhos educacionais permanentes, com os profissionais e os estudantes, visando desconstruir diferentes preconceitos.
A terapeuta ainda defende a promoção de espaços de diálogo acerca dos diferentes preconceitos que perpassam a sociedade, a instituição escolar e as subjetividades, com objetivo de desconstrução e enfrentamento dos estigmas e discriminações tão enraizados na cultura.
Diferença entre bullying e cyberbullying
O cyberbullying é a prática do bullying no meio virtual — como em aplicativos de mensagem, redes sociais, etc —, conforme explica o advogado criminalista Djalma Brochado*. Nesses casos, a violência é psicológica, quando o agressor deprecia, incita violência, insulta, altera fotos e informações pessoais da vítima, resultando em sofrimento e constrangimento psicológico e social.
Por exemplo, comentar seguidamente, em tom de humilhação, nas fotos de alguém em uma rede social, ridicularizando a pessoa e causando dano emocional é cyberbullying, segundo ilustra o especialista.
A depender da prática, no ato pode ser reconhecida a prática de diversos crimes — além da reparação de danos —, como difamação, calúnia, injúria racial, lesão corporal, importunação sexual, até perseguição, chamado stalking.
*Letícia Bessa é psicóloga com CRP 11/0248. É graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Psicopedagogia (Uece) e em Psicologia Escolar e Educacional (CFP). Docente do curso de Psicologia da Unifor.
*Djalma Brochado é advogado criminalista com OAB 18.602/CE. É graduado pela Unifor, mestre e doutorando em direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em cotutela com a Universidade de Pisa (Itália) e período de estudo na Universidade de Paris (França).