Chefe do CV no Ceará, que 'rasgou a camisa' da GDE e estava decretado pela facção, é preso em Santa Catarina

O suspeito é apontado como um dos responsáveis pelo conflito entre as duas organizações criminosas, nos bairros Vicente Pinzón, Papicu e Cidade 2000, em Fortaleza, que se intensificou nos últimos meses

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Foto mostra policiais civis realizando a prisão de Leandro Farias da Silva em um condomínio. Três policiais conduzem um homem preso e algemado
Legenda: Leandro Farias da Silva, conhecido como 'Léo da 2000', 'Léo Gringo' ou 'Comendador', de 39 anos, foi preso por policiais civis em um condomínio em Blumenau, Santa Catarina
Foto: Reprodução

Um homem que "rasgou a camisa" de uma facção criminosa, aderiu a um grupo rival e foi "decretado" por antigos comparsas no Ceará foi preso no Estado de Santa Catarina, na última quinta-feira (11). Ele é apontado como um dos responsáveis pelo conflito entre as duas organizações criminosas, nos bairros Vicente Pinzón, Papicu e Cidade 2000, em Fortaleza, que se intensificou nos últimos meses.

Leandro Farias da Silva, conhecido como 'Léo da 2000', 'Léo Gringo' ou 'Comendador', de 39 anos, foi capturado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), com apoio da Polícia Civil de Santa Catarina (PCSC), no Município de Blumenau, durante a sétima fase da Operação Nocaute.

12
mandados judiciais - sendo 3 de prisão preventiva e 9 de busca e apreensão - foram cumpridos pelos policiais civis, em Blumenau e nos municípios cearenses de Aquiraz e Cascavel.

Conforme as investigações da Draco, 'Comendador' era um fornecedor de drogas e armas da facção criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE), com atuação principalmente nos bairros Cidade 2000 e Papicu, em Fortaleza.

Foto mostra uma coleção de relógios (pelo menos 17 unidades) e pulseiras que foram apreendidos pelos policiais civis, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão em uma operação
Legenda: Uma coleção de relógios (pelo menos 17 unidades) e pulseiras foram apreendidos pelos policiais civis, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão
Foto: Divulgação/ PCCE

Entretanto, Leandro da Silva foi um dos líderes da GDE a "rasgarem a camisa" e aderirem ao Comando Vermelho (CV), no plano da facção carioca de tomar a área do Vicente Pinzón e dominar o tráfico de drogas em toda a Capital.

Antigos comparsas do 'Léo da 2000' não aceitaram a "traição" e o decretaram de morte. Ele sofreu uma tentativa de homicídio, no Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), mês passado. 

Em razão das ameaças, o novo líder do CV decidiu sair do Ceará e procurou esconderijo em Blumenau. O 'Comendador' não esperava que seria alcançado pela Polícia Civil, poucos dias depois. Ele já tinha passagens pela Polícia por porte ilegal de arma de fogo e violência doméstica.

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Bens de luxo apreendidos

Na sétima fase da Operação Nocaute, a Draco também cumpriu mandados de prisão preventiva contra Renara Milena Oliveira de Sousa, 34, que seria uma executora das ordens do 'Comendador'; e um antigo comparsa do homem detido em Blumenau, Dally Douglas Alves, 31.

A mulher foi detida em Fortaleza. Enquanto Dally Alves já estava preso, desde dezembro do ano passado, quando foi alvo de outra ação da Draco. Ele também responde por homicídio, posse de arma de fogo, receptação e dano.

A Justiça Estadual também decretou o sequestro de dois imóveis de luxo, em Aquiraz e Cascavel, avaliados em um valor total de R$ 1 milhão; e o bloqueio de R$ 9 milhões das contas dos investigados.

Um veículo de luxo, da marca BYD, e uma coleção de relógios (pelo menos 17 unidades) e pulseiras foram apreendidos pelos policiais civis, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão.

A foto mostra um policial civil em cumprimento de mandado de busca e apreensão em um condomínio de luxo no Ceará. Um veículo BYD de cor cinza foi apreendido
Legenda: A Justiça Estadual decretou o sequestro de dois imóveis de luxo, em Aquiraz e Cascavel. Um veículo luxuoso foi apreendido pela Polícia Civil
Foto: Divulgação/ PCCE

Intensificação do conflito entre facções

A intensificação do conflito entre facções criminosas, no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza, nos últimos meses, resultou no aumento de homicídios, em tiroteios quase diários e numa operação policial permanente na região. A maior presença da Polícia "desviou" a força dos grupos criminosos para o Papicu, que também registrou crescimento da violência. Moradores ficaram assustados e escolas suspenderam as aulas.

39 homicídios
foram registrados, entre junho e agosto deste ano, na soma de dados da Área Integrada de Segurança (AIS) 1 - que inclui o Vicente Pinzón - e da AIS 10 - onde está incluso o Papicu. Apesar das Áreas terem outros bairros, a reportagem apurou que a maioria das mortes violentas na região tem relação com o mesmo conflito - que tem focos nos dois bairros.

Conforme fontes policiais que pediram para não serem identificadas, a "guerra" que leva consequências aos dois bairros começou com um "racha" na facção cearense Guardiões do Estado (GDE), que dominava o tráfico de drogas no Vicente Pinzón - que fica arrodeado de bairros importantes para o comércio de entorpecentes, como Cais do Porto, Mucuripe e Praia do Futuro.

Alguns integrantes da GDE "rasgaram a camisa" da facção e aderiram à organização criminosa de origem carioca Comando Vermelho (CV), que investiu no ataque aos rivais, no Vicente Pinzón, com o objetivo de tomar um reduto dos Guardiões do Estado na Capital.

Uma fonte da SSPDS afirmou que a GDE reagiu com força ao ataque do CV e pediu o apoio até de integrantes de outros bairros de Fortaleza e de cidades do Interior do Estado, para manter um dos principais redutos do tráfico de drogas na Capital.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) destacou, em nota enviada no fim de agosto, que as forças de Segurança do Ceará capturaram de 109 pessoas por prisões em flagrante e por cumprimentos de mandados de prisão no bairro Vicente Pinzón. No bairro Papicu, foram registradas 53 prisões em igual período.

Também nesse período, a SSPDS informou que foram apreendidas 54 armas de fogo no bairro Vicente Pinzón e 15 no bairro Papicu, totalizando 69 armas apreendidas.

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