Ex-jogador e comparsa, ligados a ataques e expulsões no Vicente Pinzón, são acusados pelo MP de integrar Comando Vermelho

Um dos acusados é um ex-jogador de futebol, José Roberto de Sousa Severo, o 'Imperador' ou 'Jogador', que virou chefe do Comando Vermelho, segundo a Polícia Civil. O outro, seria o 'braço direito' dele na organização criminosa

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
Foto mostra dois suspeitos presos pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas, da Polícia Civil do Ceará. São dois homens sem blusa, com tatuagens, e shorts pretos
Legenda: 'Imperador' e 'Pit' foram presos pela Polícia Civil em uma residência em São Gonçalo do Amarante, no último dia 20 de agosto, e levados à sede da Draco, em Fortaleza
Foto: Reprodução

José Roberto de Sousa Severo, o 'Imperador' ou 'Jogador', de 41 anos, e Alex Sousa da Silva, o 'Pit', 37, foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) por integrar organização criminosa. Eles são apontados como integrantes da facção carioca Comando Vermelho (CV) e como responsáveis por ataques a rivais e expulsões de moradores no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza.

Conforme a denúncia do MPCE, apresentada à Justiça Estadual na última sexta-feira (5), José Roberto "é uma das principais lideranças do Comando Vermelho (CV) na Comunidade dos Cocos, bairro Praia do Futuro, e no bairro Caça e Pesca, ambos em Fortaleza-CE, além de atuar nas localidades da Tabuba, Vila Nova e Guabiras, distritos da Taíba, município de São Gonçalo do Amarante/CE".

'Imperador' teria sido encarregado pela facção para tomar o território do Vicente Pinzón, que pertencia à facção cearense Guardiões do Estado (GDE). Os dois grupos criminosos travam uma "guerra" na região, com aumento de mortes, desde o fim de junho deste ano.

As investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará (PCCE), apontaram que 'Pit' é o "braço direito" do 'Imperador'. "Alex faz a logística da droga comercializada pelo 'patrão', bem como é responsável por abordar as famílias com ameaças para que desocupem suas casas. Alex ainda 'trabalha' como motorista do patrão, dirigindo seus carros blindados principalmente no trecho entre Fortaleza e São Gonçalo do Amarante", diz trecho do inquérito policial.

A dupla seria responsável por ordenar ataques do CV à GDE no Vicente Pinzón e por expulsar moradores. Segundo os investigadores, áreas que já foram tomadas pela facção carioca tiveram casas pintadas com tinta branca.

Imagens mostram pichações da facção Comando Vermelho, que tenta tomar territórios dos Guardiões do Estado, no bairro Vicente Pinzón e arredores, em Fortaleza
Legenda: A facção Comando Vermelho tenta tomar territórios dos Guardiões do Estado, no bairro Vicente Pinzón e arredores, em Fortaleza
Foto: Reprodução

'Imperador' e 'Pit' foram presos pela Polícia Civil em uma residência em São Gonçalo do Amarante, no último dia 20 de agosto. O Ministério Público também pediu à Justiça pela manutenção da prisão preventiva da dupla, "ante a existência de fortes indícios das práticas criminosas por eles praticadas e do risco concreto que oferecem à ordem pública e à persecução penal".

A defesa de José Roberto de Sousa Severo, representada pelos advogados Raymundo Nonato da Silva Filho e Marcos Igor Morais Ponte, afirmou, por nota, que "não entrará, neste momento, no mérito técnico da causa, a fim de preservar a condução adequada da estratégia defensiva no curso do processo judicial".

Reitera-se, entretanto, que o constituinte é inocente das acusações que lhe foram imputadas, sendo certo que tal inocência será devidamente comprovada no regular deslinde processual, perante o Poder Judiciário, local próprio para a produção e apreciação das provas."
Raymundo Nonato da Silva Filho e Marcos Igor Morais Ponte
Advogados de defesa

A defesa de Alex Sousa da Silva não foi localizada pela reportagem para comentar a investigação policial e a denúncia do Ministério Público. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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Extorsão a espanhol e fechamento de igreja

Testemunhas contaram à Polícia Civil que 'Imperador' atuava na expulsão de moradores, em nome de uma facção criminosa, há pelo menos cinco anos. Ele foi apontado como o mandante das ordens de extorsão a um espanhol, no bairro Caça e Pesca, em Fortaleza, em 2020. O estrangeiro não teria pago um valor cobrado pela facção e, por medo, teria se mudado do local. O terreno foi tomado por criminosos.

'Imperador' e 'Pit' também são suspeitos de exigir um valor de mensalidade a uma igreja evangélica, que fechou as portas em razão do medo dos religiosos, no mesmo bairro. Outra vítima das extorsões seria um parente do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio.

Segundo as testemunhas, a dupla cometia os crimes com o aval de pelo menos dois chefes superiores do Comando Vermelho no Ceará, que estão escondidos no Rio de Janeiro: José Mário Pires Magalhães, o 'ZM', e Marcos Vitor Paiva da Silva, também conhecido como 'Jogador'.

Foto mostra um muro branco pichado por uma facção criminosa, que se denomina Tropa do Imperador. Também foi pichada a ameaça 'X9 é bala'
Legenda: O chefe do CV conhecido como 'Imperador' estaria liderando ataques à GDE e expulsão de moradores no Vicente Pinzón
Foto: Reprodução

Histórico no futebol profissional

A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas citou que José Roberto de Sousa Severo era conhecido como Zé Roberto ou 'Jogador', "pois foi atleta profissional e era conhecido no meio futebolístico e nas rodas de amigos por estes apelidos".

'Jogador' foi apontado como participante de dois homicídios, ocorridos em 2006. E voltou ao alvo da Polícia em 2020, ao ser preso por envolvimento com uma facção criminosa e pela expulsão de moradores no bairro Praia do Futuro, em Fortaleza.

"Jogador/Imperador passou vários anos jogando futebol profissional em outros estados, talvez por isso tenha ocorrido esse interstício de tempo entre os crimes a que responde/respondeu, mais precisamente de 2006 a 2020. Voltou para Fortaleza em 2015 quando começou a trabalhar como autônomo e passou a cuidar dos negócios de sua mãe", detalhou a Polícia Civil.

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, Zé Roberto (nome que ele utilizava como jogador de futebol) atuou no clube Jandaia, do Paraná, entre 2002 e 2007, e nos times cearenses do Horizonte (dezembro de 2009 a novembro de 2010) e do São Benedito (abril a julho de 2011), com contratos profissionais, inscritos na Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Foto antiga mostra José Roberto de Sousa Severo em atuação pela equipe Horizonte, em uma partida de futebol, em 2010. É possível ver jogadores, a bola e campo de futebol em primeiro plano, com torcedores na arquibancada ao fundo
Legenda: Zé Roberto em atuação no futebol cearense, em 2010. Após 15 anos, ele é apontado pela Polícia Civil como um chefe de uma facção criminosa
Foto: Reprodução

"A vida de José Roberto, como todo garoto que mora em uma favela, sempre foi ser jogador profissional de futebol, e este sonho só foi possível ser realizado graças a sua persistência, perspicácia e muita abdicação", alegou a antiga defesa do suspeito, em um processo por tráfico de drogas, aberto em 2020.

Após a aposentadoria dos gramados, Zé Roberto teria aberto escolinhas de futebol, para treinar crianças e adolescentes, segundo o antigo advogado de defesa. Uma testemunha apontou para a Polícia Civil que o suposto chefe de uma facção trabalharia como treinador no Futebol Clube Atlético Cearense. A agremiação foi questionada por uma delegada, por ofício, em julho de 2020.

Em resposta à Polícia, enviada no mês seguinte, o Atlético Cearense garantiu que "José Roberto de Sousa Severo não trabalha, nem trabalhou no Futebol Clube Atlético Cearense". "Para que não reste dúvidas, informamos que o referido senhor, realizou teste/avaliação para compor o elenco do Verdes Mares Esporte Clube, o qual, no ano de 2018, utilizava as instalações deste clube para treinamentos, em razão de parceria entre os clubes", acrescentou.

Entretanto, "José Roberto de Sousa Severo não foi aprovado na avaliação, não tendo o Futebol Clube Atlético Cearense obtido qualquer informação ou contato deste", garantiu o clube de futebol.

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