CV quer dominar áreas dos portos cearenses para exportar drogas para EUA e Europa, diz relatório da Polícia Civil
A facção carioca já domina a região do Porto do Pecém e ataca rivais no Vicente Pinzón, em Fortaleza, para controlar a região do Porto do Mucuripe, conforme as investigações policiais
O relatório da Polícia Civil do Ceará (PCCE) que aponta o domínio da facção carioca Comando Vermelho (CV) no Estado também revela que a organização criminosa pretende controlar as áreas dos dois portos cearenses, para exportar drogas para os Estados Unidos e para a Europa.
Segundo o documento da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), o CV "já domina a região do Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante/CE, e agora quer dominar a área em que está inserido o Porto do Mucuripe, no grande Vicente Pinzon, em Fortaleza/CE".
O interesse da facção vislumba "não só a expansão dos 'negócios' ilícitos dos integrantes da ORCRIM no Estado, mas também a nível nacional, devido a localização estratégica dos portos cearenses com a Europa e os Estados Unidos", afirma a Draco.
Mapas desenhados pelos investigadores mostram que a região do Pecém já é dominada pelo Comando Vermelho. Enquanto a área do Porto do Mucuripe tem predominância da facção cearense Guardiões do Estado (GDE), mas o CV tenta tomar o território com ataques aos rivais realizados desde o mês de junho deste ano, principalmente nos bairros Vicente Pinzón e Papicu.
Apreensões de drogas realizadas nos últimos anos, nos portos cearenses, mostram uma maior atuação da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) - que já foi aliada da GDE no Estado, e ainda manteriam negociações de entorpecentes.
O PCC também se aliava a uma máfia sérvia para realizar o tráfico internacional de drogas por meios marítimos. Embarcações carregadas de drogas teriam saído dos portos cearenses com destino à África e, de lá, para a Europa. Pelo menos dois barcos, com 5,668 toneladas e 1,2 tonelada de cocaína, foram interceptados em alto-mar, em 2022.
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Conflito no Vicente Pinzón
Conforme fontes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) que pediram para não serem identificadas, a "guerra" no Vicente Pinzón começou com um "racha" na facção cearense Guardiões do Estado, que domina o tráfico de drogas no Vicente Pinzón - que fica arrodeado de bairros importantes para o comércio de entorpecentes, como Cais do Porto, Mucuripe e Praia do Futuro.
Alguns integrantes da GDE "rasgaram a camisa" da facção e aderiram à organização criminosa de origem carioca Comando Vermelho, que investiu no ataque aos rivais, no Vicente Pinzón, com o objetivo de tomar um dos últimos redutos dos Guardiões do Estado na Capital.
A área do Vicente Pinzón registrou aumento de homicídios, e a Polícia precisou montar uma operação permanente no bairro. A maior presença policial "desviou" a força dos grupos criminosos para o Papicu, que também teve crescimento da violência, nas últimas semanas. Tiroteios quase diários levaram escolas a suspenderem as aulas, na semana passada.
foram registrados, entre junho e agosto deste ano, na soma de dados da Área Integrada de Segurança (AIS) 1 - que inclui o Vicente Pinzón - e da AIS 10 - onde está incluso o Papicu. Apesar das Áreas terem outros bairros, a reportagem apurou que a maioria das mortes violentas na região tem relação com o mesmo conflito - que tem focos nos dois bairros.
As investigações da Draco apontam que um dos principais líderes do CV por trás dos ataques no Vicente Pinzón é José Roberto de Sousa Severo, o 'Imperador' ou 'Jogador', preso junto do 'braço direito' dele, Alex Sousa da Silva, o 'Pit', em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no último dia 20 de agosto.
'Imperador' tinha casa em São Gonçalo do Amarante e seria o líder do Comando Vermelho na região do Pecém - onde fica um Porto. Ele também teria atuação na Comunidade dos Cocos, na Praia do Futuro, e no bairro Caça e Pesca, em Fortaleza, regiões próximas do Porto do Mucuripe.
Combate às facções criminosas
Em nota, a Polícia Civil do Ceará informou que "os relatórios técnicos produzidos pelos setores de inteligência e/ou de investigação, servem para subsidiar ações policiais contra alvos específicos e, também, contra grupos criminosos. Esses documentos têm como objetivo apresentar subsídios à autoridade policial, bem como, posteriormente, aos integrantes do Poder Judiciário e do Ministério Público, da importância da expedição de mandados de prisão, de busca e apreensão, além do bloqueio de bens móveis, imóveis e outros ativos oriundos de atividades criminosas".
Em relação aos dados constantes de um relatório produzido pelo Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), em agosto deste ano, o documento serviu como elemento para robustecer as investigações contra um homem de 41 anos, apontado como liderança de um grupo criminoso de origem carioca, e de seu braço direito. Ambos foram presos pela PCCE e tiveram suas prisões homologadas pela Justiça e convertidas em prisões preventivas. Destaque-se que o suspeito é investigado por crimes como homicídio, tráfico de drogas e organização criminosa desde 2006, tendo ficado preso em 2021 e posto em liberdade em 2023."
Segundo a Polícia Civil, "para reforçar a importância das prisões, o relatório detalhou a atuação deste grupo de origem carioca baseando-se em análise do cenário macronacional. Com base neste e em outros documentos produzidos pelos setores de investigação e de inteligência, a Polícia Civil reforça que vem promovendo, em parceria com as demais forças de segurança, dentro e fora do estado, operações constantes contra os grupos criminosos, com prisões relacionadas a investigados por Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs); tráfico de drogas; tentativas de extorsão a comerciantes e empresários; e por integrar organização criminosa".
No comparativo entre janeiro e junho de 2025 e o mesmo período de 2024, as prisões realizadas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) tiveram crescimento de 156% - ao subirem de 124 para 318 prisões. Somente a Operação Strike, contra integrantes do Comando Vermelho ligados a ataques a provedores de internet, resultou na prisão de 57 suspeitos, entre fevereiro e agosto deste ano.
Já o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) "efetuou a prisão de 136 pessoas apenas em julho deste ano, um aumento de 51,11% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram realizadas 90 prisões. Dados do Departamento de Recuperação de Ativos (DRA) da Polícia Civil, apontam que, entre janeiro de 2023 e julho de 2025, foram representados mais de R$ 2 bilhões (2.234.280.432,58) de ativos, entre imóveis, veículos, dinheiro em espécie e valores bloqueados em contas bancárias, investigados como oriundos do crime organizado".
"Com base nesses dados e nas muitas prisões também realizadas pelos departamentos de Polícia da Capital, Região Metropolitana, Interior Sul, Interior Norte e pelas demais delegacias distritais e especializadas, a Polícia Civil do Estado do Ceará, em parceria com as demais forças de segurança, vem promovendo um enfrentamento massivo aos grupos organizados em todo o estado", conclui a Instituição.