Cadastro do 'RH' da facção GDE levou à operação contra 139 suspeitos no Ceará e mais três estados

A Polícia Civil cumpriu 88 mandados de prisão contra a organização criminosa. A Operação expôs a atuação da facção cearense em outros estados, principalmente no Nordeste

Escrito por
Messias Borges messias.borges@svm.com.br
(Atualizado às 07:35)
Foto mostra viaturas e policiais que participam da Operação Nocaute V, deflagrada pela Polícia Civil do Ceará nesta quarta-feira (20)
Legenda: Mais de 200 policiais civis participaram do cumprimento de ordens judiciais na Operação Nocaute V, no Ceará, Piauí, Maranhão e Distrito Federal
Foto: Divulgação/ PCCE

A Operação Nocaute V, deflagrada nesta quarta-feira (20), foi originada pela descoberta de um cadastro de membros da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE), feita pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) há cerca de 10 meses. O banco de dados se assemelhava a um cadastro de funcionários mantido pelos Recursos Humanos de uma empresa, segundo os investigadores.

139
suspeitos foram identificados e tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Estadual. Em grupos da rede social WhatsApp, os criminosos compartilhavam dados como nome completo, foto, "vulgo" (apelido), data de nascimento, "quebrada" (área de atuação), "padrinho" (quem o apadrinhou na facção), tempo de atuação e especialidade (quais crimes costuma cometer).

"Cada um tinha o seu cadastro com foto, nome, apelido, tempo no crime, padrinho, bairro, 'quebrada', todas essas informações, como se fosse uma empresa mesmo, como se fosse um RH desse grupo criminoso. Foi desarticulada essa organização criminosa, visando não só a prisão desses indivíduos, bem como asfixiar financeiramente esses indivíduos", resumiu o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), delegado Thiago Salgado.

Até o fim da manhã de quarta (20), a Polícia Civil havia cumprido 88 mandados de prisão - sendo 43 contra suspeitos que estavam em liberdade e 45 contra pessoas que já estavam presas. Isso significa que 51 alvos da Operação continuam a ser procurados e passaram a ser considerados foragidos da Justiça.

A Draco também conseguiu, junto à Justiça Estadual, o bloqueio de até R$ 13,9 milhões das contas bancárias dos suspeitos - sendo até R$ 100 mil por investigado.

Ao cumprir os mandados de busca e apreensão contra os investigados, a Polícia Civil apreendeu mais de 30 aparelhos celulares, que devem ser alvos de extração dos dados, para aprofundar as investigações. Três suspeitos também foram presos em flagrante com drogas, enquanto outro alvo foi detido com uma arma de fogo.

O delegado Thiago Salgado afirma que a Operação Nocaute significa "um golpe certeiro nessas organizações criminosas, que insistem em permanecer aqui no Estado do Ceará, em atuar em diversos crimes violentos, como extorsões, expulsões, ameaças, tráfico de armas, homicídios e tráficos de drogas".

Nas quatro fases anteriores da Operação Nocaute, deflagradas durante o ano de 2025, a Polícia somou mais 53 prisões contra membros de facções criminosas. Com a quinta fase, esse número chega a 141 capturas.

Veja também

Atuação em outros estados

Os mandados de prisão da Operação Nocaute V foram cumpridos em diversos bairros de Fortaleza e vários municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), do Interior Norte e do Interior Sul do Estado, além dos estados de Piauí, Maranhão e Distrito Federal.

Uma mulher, companheira de um membro da facção Guardiões do Estado (que também já foi monitorado pela Polícia cearense), foi detida no Município de Luís Correia, no Estado do Piauí, onde ela morava.

Já os mandados cumpridos no Maranhão e no Distrito Federal se deram em unidades penitenciárias, onde já estavam presos suspeitos de cometerem tráfico de drogas e um homicídio no Ceará, respectivamente. Eles estão encarcerados nos outros estados em razão de terem sido capturados por lá, há alguns meses.

Segundo o delegado Thiago Salgado, a maioria dos alvos da Operação são lideranças locais, responsáveis por pontos de drogas espalhados pelo Estado.

A facção GDE atua principalmente no Ceará, mas também tem alianças com grupos criminosos de outros estados nordestinos, o que leva os membros da organização criminosa cearense a outros estados. 

"Isso é um movimento desses grupos criminosos de origem local, que tentam expandir os seus braços para outros estados da Federação. Isso ocorre não só aqui no Ceará. Organizações criminosas locais do Maranhão, da Bahia, do Rio Grande do Norte, a gente já viu também tentando entrar no Ceará. Eles fazem alianças e tentam expandir a sua área de atuação", explica o titular da Draco.

Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados