Legislativo Judiciário Executivo

Videochamadas com aliados e postagens com filhos influenciaram prisão de Jair Bolsonaro

Ex-presidente participou de atos contra Alexandre de Moares e o STF por meio de ligações em vídeo com outros líderes partidários, entre eles os deputados André Fernandes (PL-CE) e Nikolas Ferreira (PL-MG)

Escrito por
Lucas Monteiro lucas.morais@svm.com.br
(Atualizado às 22:05)
Bolsonaro em imagem com a tornozeleira eletrônica, e Nikolas Ferreira mostrando o rosto do ex-presidente
Legenda: Bolsonaro participou, em silêncio, de atos contra o poder judiciário no domingo (3)
Foto: Reprodução / Redes sociais

Uma série de postagens produzidas para redes sociais durante as manifestações contra o ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal (STF), nas quais o ex-presidente Jair Bolsonaro participou remotamente, fundamentou a decisão do relator do caso, que determinou a prisão domiciliar do líder bolsonarista na noite desta segunda-feira (4), em resposta aos ataques direcionados a ele pelos manifestantes.

Entre os materiais veiculados nas redes estão um discurso de Bolsonaro postado pelo filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que foi posteriormente apagado pelo congressista. Em razão das medidas cautelares impostas por Moraes, o ex-presidente está proibido de usar redes sociais, direta ou indiretamente.

“Boa tarde Copacabana, boa tarde meu Brasil, um abraço a todos. É pela nossa liberdade, estamos juntos. Obrigado a todos, é pela nossa liberdade, pelo nosso futuro, pelo nosso Brasil. Sempre estaremos juntos! Valeu!”, disse Bolsonaro na postagem publicada pelo filho, onde aparece sentado, com a tornozeleira eletrônica visível.

“Posteriormente, também em 3/8/2025, após o Senador FLÁVIO NANTES BOLSONARO ter divulgado nas redes sociais a participação de JAIR MESSIAS BOLSONARO na manifestação, também foi noticiado que o Senador apagou a postagem em um claro intuito de omitir o descumprimento das medidas cautelares praticado por seu pai”, diz um trecho da decisão, que tem 25 páginas.

Trecho da decisão
Legenda: Ação de Nikolas Ferreira durante manifestação colaborou com decisão pela prisão domiciliar do ex-presidente Bolsonaro
Foto: Reprodução

Além de Copacabana, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro participou por videochamada com o deputado federal André Fernandes (PL), em uma manifestação em Fortaleza (CE). O parlamentar exibiu o celular para mostrar o aliado aos apoiadores que se reuniram na Praça Portugal, que ficou em silêncio durante a transmissão. O ex-presidente também apareceu em cidades como Belo Horizonte (MG) e Salvador (BA).

Na Avenida Paulista, o deputado Nickolas Ferreira disse em tom ameaçador que o STF “não está acima do Brasil”. “Bolsonaro não pode falar, mas pode ver”, disse ele, exibindo o rosto de Jair Bolsonaro aos manifestantes. “É sua forma, mesmo estando preso dentro de casa”, afirmou durante o discurso.

Nikolas Ferreira se manifesta contra prisão domiciliar de Jair Bolsonaro

Aplaudido pelos presentes, Nikolas disse que “o clima está diferente, está diferente porque eles achavam que nós íamos desistir. O STF não está acima do Brasil”. Em Belém, foi a mulher de Bolsonaro e ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que conduziu o ato contra o Poder Judiciário, em cima de um trio elétrico.

"Irregularidade isolada"

Em 24 de julho, a equipe jurídica do ex-presidente teve de se manifestar após Alexandre de Moraes pedir esclarecimentos sobre a divulgação de falas de Bolsonaro durante um encontro com lideranças do PL na Câmara dos Deputados, onde mostrou pela primeira vez a tornozeleira eletrônica.

O relator do caso afirmou que a ação foi uma "irregularidade isolada", deixando de "converter as medidas cautelares em prisão preventiva". Entretanto, o ministro advertiu que, "se houver novo descumprimento, a conversão será imediata".

Na época, o magistrado disse na decisão que o ex-presidente poderia ser responsabilizado pela "utilização dolosa de redes sociais de terceiros (“milícias digitais”, apoiadores políticos previamente coordenados e combinados, outros investigados) para a perpetuação da conduta criminosa".

Acusado de Golpe de Estado

O ex-presidente Jair Bolsonaro é acusado de liderar um plano de golpe de Estado após perder as eleições presidenciais de 2022 contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ação penal, Bolsonaro é réu no chamado “núcleo principal” da trama golpista, que tem previsão de julgamento para ocorrer até setembro deste ano.

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