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Qual o cenário da disputa eleitoral em Fortaleza a um ano das eleições municipais

A disputa na Capital promete colocar à prova mudanças no equilíbrio de forças vistos no nível estadual ano passado

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Pelo menos quatro siglas já confirmaram pré-candidaturas para o pleito do próximo ano
Legenda: Pelo menos quatro siglas já confirmaram pré-candidaturas para o pleito do próximo ano
Foto: Natinho Rodrigues/Diário do Nordeste

Em um ano, os eleitores de Fortaleza irão às urnas decidir quem será o prefeito que irá comandar a quarta maior capital do País pelos próximos quatro anos. Apesar da distância para o pleito, a disputa de 2024 já vem acirrando ânimos, principalmente dentro dos partidos. 

A eleição na Capital promete colocar à prova mudanças no equilíbrio de forças vistos a nível estadual no ano passado. Contudo, tais lideranças partidárias precisam, antes, alinhar interesses internos de alas partidárias. 

PDT rachado

Sigla que comanda a Prefeitura de Fortaleza desde 2015, o PDT vive seu momento mais conturbado no Ceará. A legenda rachou ainda no ano passado por conta de uma disputa estadual e quem colhe o ônus dessa queda de braço é o prefeito da Capital, José Sarto.

Eleito com uma ampla base de apoio em 2020, ele agora tem visto uma debandada de aliados. Recentemente, o PSD e o PSB deixaram a base governista no Município. Uma ala do PDT também tem criticado o gestor, inclusive com “conselhos” públicos do senador Cid Gomes (PDT).

Em julho deste ano, logo após assumir interinamente a presidência do PDT Ceará, o senador Cid Gomes chegou a declarar que a prioridade não era definir nomes para a disputa do grupo em 2024.

“É importante a gente definir o projeto, o que queremos para Fortaleza. Segundo, definir a aliança, quais são os partidos, as forças políticas que vão se fazer representar. Por último, o nome, a pessoa, isso é o de menor importância”, disse. 

Sarto tem se queixado da disputa interna na sigla ao mesmo tempo em que evita se envolver diretamente. Na última segunda-feira (2), ele minimizou o peso do racha em sua busca pela reeleição. 

"Os partidários que advogavam a tese da presidência do senador (Cid Gomes) a gente já sabe que na eleição passada, por exemplo, mesmo o PDT tendo um candidato aprovado em assembleia, preferiram não votar nesse candidato. E, se à luz do dia foi feito desse jeito, imagine nos bastidores partidários"
José Sarto (PDT)
Prefeito de Fortaleza

Na quinta-feira (5), o presidente municipal do PDT, o ex-prefeito Roberto Cláudio, reforçou que manter o comando da Capital é uma prioridade para a sigla e que Sarto é o candidato natural. A fala ocorreu após a destituição de Cid Gomes do comando do PDT Ceará.

"O PDT tem prefeito eleito, pré-candidato à reeleição com muitas realizações na cidade. Essa condução do diretório afinado com o discurso de candidatura à reeleição do Sarto é o que é natural, é o que é razoável", declarou à imprensa.

PT dos muitos candidatos

Após um período turbulento, inclusive com a prisão de sua principal liderança no País, o PT é a sigla que reúne as melhores condições para o pleito em Fortaleza. A sigla comanda o Governo Federal, com o presidente Lula, e o Governo do Ceará, com o governador Elmano de Freitas (PT). 

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Contudo, atualmente, há uma disputa interna — e externa — sobre quem vai representar os petistas nas urnas da Capital. Ao todo, há quatro nomes mais cotados por lideranças da legenda. Três deles são petistas e um nem ao partido está filiado: Luizianne Lins (PT), Larissa Gaspar (PT), Guilherme Sampaio (PT) e Evandro Leitão.

Ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne anunciou sua pré-candidatura no último dia 25 de agosto. "Depois de algumas reflexões pessoais e muitos diálogos com parceiros e aliados da vida e da política, decidi colocar o meu nome como pré-candidata do PT à Prefeitura de Fortaleza nas eleições de 2024", declarou em primeira mão ao colunista e editor de Política do Diário do Nordeste, Wagner Mendes.

A ex-prefeita explica que decidiu anunciar neste momento porque tem visto "os possíveis candidatos à Prefeitura já se colocando". Entre esses nomes estava Evandro Leitão, o pedetista é aliado de primeira ordem do ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e já recebeu diversos convites para se filiar ao PT.

Em entrevista ao PontoPoder, ele comentou sobre o interesse em disputar a Prefeitura. “Tenho o meu foco, as minhas atenções e as minhas energias todas voltadas para a Assembleia, para o nosso mandato que nos foi confiado pelos cearenses e também para a Presidência da Assembleia. Eu confesso a ti que hoje não tenho esse foco, essa coisa de candidatura a prefeito”, disse.

O nome de Evandro enfrenta resistências internas no partido, principalmente porque o parlamentar ainda está em processo de desfiliação do PDT e já chegaria ao PT para disputar o pleito. 

No mês passado, foi a vez o presidente do PT Fortaleza, o deputado estadual Guilherme Sampaio, anunciar a pré-candidatura. "A própria má avaliação da administração atual precipitou esse debate, a manifestação de vários quadros dentro do PT, fora do PT, a ruptura da aliança. Tudo isso impôs uma antecipação do debate político, e eu acho que a vida dita aquilo que deve ser objeto da nossa atenção", disse em pronunciamento na Alece.

Completa a lista de pré-candidatos, a deputada estadual Larissa Gaspar. "Estou à disposição para ajudar na construção de um projeto popular que olhe para o futuro e enfrente os reais problemas da população", disse ao anunciar a pré-candidatura.

Líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, o deputado federal José Guimarães (PT) ressaltou que "não tem pressa" para a discussão eleitoral, que será feita "na hora certa". "Vamos juntar todos no palanque, em uma construção coletiva que ainda vamos fazer", ressaltou. "Vamos ter que trabalhar bem para que o projeto do Lula em Fortaleza seja vitorioso", completou. 

União Brasil e a oposição

Partido que abriga a principal liderança da oposição em Fortaleza, o União Brasil tem como pré-candidato o secretário da Saúde de Maracanaú, Capitão Wagner. O político chega para sua terceira disputa para o comando do Município após a disputa acirrada de 2020, quando obteve 48% dos votos válidos e José Sarto chegou a 51%.

Para o próximo ano, o ex-deputado federal já confirmou que irá liderar uma chapa pelo União Brasil. Em entrevista aos editores e colunistas de Política do Diário do Nordeste, Jéssica Welma e Wagner Mendes, o político disse que o pleito de 2024 deve ser o mais “diferente” que ele já disputou. “Nunca vi uma eleição tão antecipada”, declarou em entrevista no mês passado. 

Ele se disse surpreso com a “antecipação” das articulações e das disputas por espaço no próprio grupo governista, que tradicionalmente, no Ceará, deixa essas movimentações para a última hora.

Para a terceira disputa municipal, Wagner aposta no cenário desafiador que o atual prefeito terá pela frente. “Estamos vendo um enfraquecimento da candidatura de reeleição do Sarto, porque desidratou em termos de aliança política, perdeu o PSD, alguns vereadores estão na base apenas por conveniência, já tem alguns que escaparam e estão falando com o Governo”, disse.

Para ele, há um desgaste do projeto representado por Sarto. “Quando você repete demais uma prática ou uma estratégia ela acaba fadada ao insucesso. Os Ferreira Gomes criaram uma estratégia que é colocar o indivíduo como presidente da Assembleia e depois como prefeito Deu certo com o Roberto Cláudio, quase não deu certo com o Sarto e agora não sei se essa fórmula vai dar certo”, aponta.

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PL: representantes bolsonaristas

Partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL tem dois nomes disputando o pleito: o deputado estadual Carmelo Neto e o deputado federal André Fernandes. Os dois parlamentares figuram como os aliados mais fiéis no Ceará dos ex-chefe do Executivo nacional. 

Em visita recente de Bolsonaro à Capital, a dupla acompanhou o político em todas as agendas na Cidade e a expectativa do grupo é de que o próprio ex-presidente aponte um nome para as urnas. 

Contudo, tanto André quanto Carmelo têm enfrentado percalços. O deputado estadual corre risco de perder seu mandato já que a chapa do PL foi cassada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) por fraude na cota de gênero. A decisão é questionada pela defesa dos parlamentares.

Além dele, correm risco de perder as cadeiras na Assembleia Legislativa (Alece) o deputado Alcides Fernandes e as deputadas Dra. Silvana e Marta Gonçalves, outros nomes fiéis ao bolsonarismo no Ceará.

Já em nível federal, o Supremo Tribunal Federal (STF) investiga André Fernandes por ter, supostamente, promovido os atos de 8 de janeiro contra a Praça dos Três Poderes em Brasília.

Durante os atos de terrorismo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, o cearense publicou imagem de partes do gabinete do ministro do STF Alexandre de Moraes, justamente o responsável pelo inquérito que investiga os atos antidemocráticos.

Siglas na disputa

Além dos partidos com pré-candidaturas confirmadas, há siglas que discutem a possibilidade de lançar uma chapa. O PSB, por exemplo, agora comandado pelo ex-deputado Eudoro Santana, pai de Camilo Santana, aguarda decisão de Evandro Leitão sobre a filiação. A candidatura do parlamentar é cotada no PSB caso a resistência ao nome dele prevaleça no PT.

Outra sigla que debate o lançamento de uma chapa é o Psol, partido que costuma ter candidatos à Prefeitura de Fortaleza. No mês passado, o presidente estadual da legenda, Alexandre Uchoa, disse que o grupo que ele integra está "disposto a trabalhar uma candidatura própria" em Fortaleza, mas sem "descartar a possibilidade de construir uma aliança mais ampla". 

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Já o Novo tem nomes cotados para o pleito na Capital. Conforme o presidente estadual, Afonso Maranguape, o senador Eduardo Girão é uma dessas figuras. Além do senador, o dirigente lembrou do advogado Rodrigo Saraiva, que já foi candidato a vereador pela legenda.

Uma das siglas que já tem os rumos encaminhados, ao menos nos planos de seu presidente, é o PSDB. Em entrevista recente ao Diário do Nordeste, o vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista, defendeu a manutenção da aliança com José Sarto nas urnas.

“Não há possibilidade da gente disputar contra o prefeito, a não ser que ele não queira o PSDB. Hoje, o que queremos é trabalhar junto com o prefeito e junto com o PDT municipal para que a gente construa uma aliança no próximo ano”, ressaltou.

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