Quatro pontos para ficar atento na estratégia de Capitão Wagner para as eleições em Fortaleza

Pré-candidato pelo União Brasil, Wagner se prepara para a terceira disputa pela Prefeitura da Capital desde 2016

Legenda: Capitão Wagner é presidente do União Brasil no Ceará e secretário da Saúde de Maracanaú
Foto: Thiago Gadelha

A vitória de Elmano de Freitas (PT), em primeiro turno, na disputa pelo Governo do Ceará em 2022, foi um feito histórico para o grupo petista no Estado. A disputa, no entanto, teve um gosto amargo no maior colégio eleitoral: Fortaleza. Na Capital, o mais votado foi Capitão Wagner (União Brasil, 602 mil votos) que, além de deixar o candidato do PT (Elmano, 545 mil votos) para trás no total de votos, de um partido que governou a cidade por oito anos; colocou na terceira posição um recente ex-prefeito, Roberto Cláudio (PDT, 299 mil votos). 

Esse resultado está na base da estratégia que Capitão Wagner começa a traçar para ser candidato na Capital pela terceira vez em menos de uma década. Em entrevista ao PontoPoder, na última quinta-feira (22), algumas declarações do presidente do União Brasil e secretário da Saúde de Maracanaú são simbólicas para entender como ele analisa o cenário e os adversários de uma disputa que já acontece publicamente.

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A preço de hoje, sem tirar de vista a instabilidade inerente a contextos políticos, Wagner deve não só mirar artilharia contra o prefeito José Sarto (PDT), mas atrelá-lo ao prefeito vizinho, ex-aliado, Vitor Valim, em Caucaia, alvo também da estratégia do União para o próximo ano. O ex-deputado fez elogios a Roberto Cláudio, apesar de terem sido adversários em outros pleitos; sinalizou tomar partido de Luizianne Lins no impasse recente do grupo governista no Estado e evitou desgastes com o PL, aliado em 2022, mas que avalia ter candidatura própria para Fortaleza.

Não são acenos em vão. Em 2024, Wagner pode enfrentar a oitava eleição em sua trajetória política, a quarta para cargo do Executivo, uma articulação que em muito difere dos planos quando o alvo é uma vaga no Legislativo.

Vale a pena acompanhar toda a entrevista do pré-candidato. Por isso, aproveito para ressaltar quatro pontos que chamam atenção na fala de Capitão Wagner há um ano das eleições do próximo ano.

1) "Desgaste de Vitor Valim e de Sarto pode nos fortalecer"

Em 2020, tanto Fortaleza como Caucaia tiveram disputas decididas em segundo turno. Em Caucaia, o resultado foi uma virada inesperada em relação ao que apontavam pesquisas de intenção de voto. Vitor Valim, à época no Pros, hoje no PSB; derrotou o então prefeito Naumi Amorim (PSD). Em Fortaleza, ainda que Sarto tenha mantido o desempenho do primeiro turno e vencido o pleito, a diferença para Capitão Wagner foi de pouco menos de 44 mil votos. 

Valim e Wagner eram aliados na época. A relação se inverteu menos de um ano depois, quando o prefeito de Caucaia se aproximou do Governo Camilo, tornando-se, na eleição seguinte, em 2022, um dos principais cabos eleitorais da campanha petista de Elmano.

A reação eleitoral em Caucaia já é preparada com a pré-candidatura do vice-prefeito, Deuzinho Filho, rompido com Valim, e a soma de outros ex-aliados, como os deputados estaduais Emília Pessoa (PSDB) e Felipe Mota (União). Essa mesma estratégia, Wagner sinaliza buscar em Fortaleza, com uma ampla frente de oposicionistas contra Sarto.

"Esse desgaste que o Vitor Valim tem na Caucaia, como o Sarto tem aqui, em Fortaleza, pode nos fortalecer. A gente está na expectativa de que o povo queira alternância de poder, queira uma proposta nova, uma proposta com um grupo novo. Você está em Fortaleza com um grupo há 20 anos se revezando, só revezando PT e PDT, uma hora o povo cansa. E me parece que cansou porque na eleição de 22, ele me deu a vitória aqui, em Fortaleza. Nunca imaginei tirar mais do dobro dos votos do Roberto Cláudio aqui em Fortaleza, acho que muito por conta do desgaste do governo do Sarto. É um governo que não tem cara, que não tem bandeira, que não tem ainda uma característica, como tinha o Roberto Cláudio. Qual era o governo do Roberto? Era o governo da Areninha, era o governo da mobilidade urbana, das obras estruturantes. O Sarto é o governo de quê? O Vitor Valim é um governo de quê? A esses governos falta identidade", disse Wagner.

2) "Eu e Roberto Cláudio estávamos preparados para a candidatura e para a gestão"

Em diferentes momentos da entrevista, Capitão Wagner faz acenos ao ex-prefeito Roberto Cláudio, com elogios à gestão e ao desempenho pré-eleitoral para 2022. Com o racha entre PT e PDT, Wagner sabe que tem, com Roberto Cláudio, um "inimigo" em comum: o grupo governista liderado pelo ministro da Educação, Camilo Santana (PT) e o governador Elmano.

Em um suposto cenário em que Sarto não consiga levar a disputa ao segundo turno ou não seja candidato, o que parece remoto, Wagner prepara o caminho para um possível apoio em um eventual segundo turno. Por agora, há que se preparar para todas as possibilidades que a vista alcança.

Ao analisar o próprio desempenho na disputa de 2022, quando começou as pesquisas de intenção de voto liderando a disputa, Wagner atrelou a vitória de Elmano a um "derretimento" do desempenho de Roberto Cláudio e à migração de votos para o candidato do PT, à "força da máquina" e à "força da onda do PT".

"O Elmano foi posto de última hora, não tinha se preparado para ser candidato. Não digo que ele não tenha preparação para ser governador, mas para ser candidato ele não tinha se preparado. Tanto eu, que passei dois anos me preparando, como Roberto Cláudio, pela experiência que ele teve de oito anos de prefeito, estávamos preparados não só para a candidatura, mas também para a gestão", disse Wagner. 

Ao defender a própria candidatura, Wagner ainda disse que, em seus planos, está "conservar o que foi feito de bom pela Luizianne, foi feito de bom pelo Roberto Cláudio", com acenos para os ex-adversários diretos na eleição de 2016. 

3) "Será que não vão alegar a mesma coisa para Luizianne, de que é candidatura natural?"

Ao comentar sobre o cenário atual, com três pré-candidaturas no PT: Luizianne Lins, Guilherme Sampaio e Larissa Gaspar; a pré-candidatura de Evandro Leitão (PDT) ainda numa queda de braço para deixar o PDT, além da pré-candidatura à reeleição do próprio prefeito, Wagner também deu indícios de um discurso no radar que pode custar ao grupo governista.

O PT já protagoniza acirramento interno sobre a candidatura em 2024. Além dos três nomes, paira a possibilidade de Evandro deixar o PDT para se filiar ao PT, com a benção de Camilo Santana para ser candidato. O desenho resgata o fastasma de 2022, quando PT e PDT racharam diante da decisão pela candidatura da então governadora Izolda Cela ou de Roberto Cláudio. 

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"A gente viu, no ano passado, um debate muito intenso em relação à violência política de gênero. A Izolda era 'a candidata natural', era 'a candidata que deveria disputar a eleição', e acusaram o grupo do Roberto Cláudio de atropelar a Izolda e forçar uma candidatura dentro do PDT. Será que não vão alegar agora a mesma coisa em relação a Luizianne, que é 'candidatura natural', que 'tem recall', que 'tem experiência'. É uma pergunta que eles vão ter que colocar na balança. 'Será que a gente vai atropelar a Luizianne e vai botar aqui o Evandro no PT, goela abaixo, e vai ser o nosso candidato?'".

Não há dúvidas de que Wagner prepara artilharia para o desenrolar desse cenário.

4) "PL tem que se decidir se é base ou oposição do Governo Sarto"

Outro ponto importante a ser observado é a relação de Wagner com o PL, partido que o apoiou em 2022, indicando o vice, Raimundo Gomes de Matos, na chapa com União Brasil. Agora, o partido tem como pré-candidato o deputado federal André Fernandes, presidente municipal da sigla, mas enfrenta desgastes internos, como divergências entre Fernandes e o presidente estadual, Acilon Gonçalves, além de outros nomes que também tentam se viabilizar, como o deputado estadual Carmelo Neto e a deputada federal suplente e vereadora Priscila Costa.

"Primeiro o PL se tornou o maior partido do País na última eleição, com o resultado que teve em termos de deputados federais, isso credencia o PL a lançar candidato em qualquer local que eles queiram, porque tem tempo de TV tem estrutura financeira do Fundo Partidário, mas o PL tem que se definir primeiro se ele é oposição ou se ele é base do governo Sarto, porque parte do PL está dentro do Governo Sarto", ressaltou.

Capitão Wagner e Raimundo Gomes de Matos, do PL, na campanha de 2022, acompanhados também da então candidata ao Senado, Kamila Cardoso, e o ex-deputado federal Heitor Freire
Legenda: Capitão Wagner e Raimundo Gomes de Matos, do PL, na campanha de 2022, acompanhados também da então candidata ao Senado, Kamila Cardoso, e o ex-deputado federal Heitor Freire
Foto: Kid Jr

A relação com o Governo Sarto é também uma questão, mas Wagner sinaliza para uma possível aliança entre os partidos novamente. Considerando os nomes em jogo, com Fernandes e Carmelo tendo sido campeões de voto em 2022, o presidente do União Brasil traça um paralelo com a candidatura, em 2020, do deputado federal Célio Studart, à Prefeitura de Fortaleza, logo após ter sido o segundo deputado federal mais votado no Estado.

"Eu acho que a melhor chance que o PL teria era estar junto conosco. Não sei se necessariamente comigo na cabeça ou algum dos integrantes do PL na cabeça, mas a gente precisa fazer uma discussão dos problemas da cidade, quais as discussões. Qual projeto o PL tem para Fortaleza, qual a ideia em termos de gestão, quem é a figura que vai encabeçar esse projeto com a experiência, com a condição de realmente viabilizar uma candidatura majoritária, porque quem assiste pela TV acha que é fácil, mas quem já participou de campanha majoritária como eu, que já participei de três, sabe o quanto é difícil viabilizar essa candidatura. A gente pode pegar como exemplo a candidatura do nosso amigo secretário de Proteção Animal, Célio Studart, que tirou uma votação fenomenal para deputado federal e foi candidato a prefeito de Fortaleza e não teve uma votação expressiva", disse Wagner.

Caminho a percorrer

Para além da leitura que faz do cenário atual, Wagner sabe que o caminho ainda é longo até as decisões para o pleito de 2024. Para o próximo ano, no entanto, a seguir no União Brasil, terá uma estrutura mais robusta de recursos e tempo de rádio e TV em comparação com as campanhas de 2016 e de 2020, quando foi candidato pelo extinto PR e pelo Pros, respectivamente.

No início do próximo ano, Wagner deve deixar a Secretaria da Saúde de Maracanaú para focar nas tratativas eleitorais. É tempo ainda de observar os passos dos adversários. É o básico antes das negociações que estão por vir.

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