Há um clima de tensão no grupo governista entorno da escolha do candidato ou da candidata à Prefeitura de Fortaleza em 2024. Boa parte das lideranças políticas tem trabalhado com o cenário provável de uma candidatura de oposição oriunda do grupo governista do Estado contra a tentativa de reeleição do prefeito José Sarto (PDT) - possivelmente uma candidatura do PT, que não abriu mão de nenhuma disputa nos últimos anos.
O desconforto começou quando se passou a cogitar a filiação do presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PDT), ao PT. Para alguns, seria ele um "forasteiro" na sigla, que jogaria para escanteio tradicionais pré-candidaturas, como a da ex-prefeita Luizianne Lins, candidata em 2016 e 2020, a dos deputados Larissa Gaspar e Guilherme Sampaio, dentre outros postulantes internos.
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Evandro chegaria à legenda com a força da aliança pessoal com o ex-governador Camilo Santana (PT), de quem foi líder na Assembleia já no primeiro mandato.
É fato que o presidente da Assembleia chegaria com peso para ser um pré-candidato, seja pelo PT seja por outra sigla, mas o Palácio da Abolição teria de administrar uma tensão inédita: escolher um nome adversário ao candidato da situação no Município.
Desde quando Luizianne era prefeita e rompeu com o então governador Cid Gomes, há mais de uma década, não se via uma situação de oposição como a atual. Na época, Cid apoiou Roberto Cláudio, que derrotou o candidato da então prefeita, o hoje governador Elmano de Freitas (PT).
Em 2016, Roberto Cláudio, então aliado do governador Camilo Santana, disputaria a reeleição. O petista se absteve da campanha pública pró-Roberto Cláudio no primeiro turno por causa da candidatura de Luizianne. O mesmo aconteceu em 2020, na campanha de José Sarto, o nome da sucessão apoiado pelo grupo governista do Estado.
Luizianne Lins ou Evandro Leitão? Enquanto a situação da escolha não se materializa, o que se tem visto é liderança política evitando riscos na hora de listar nomes fortes para a disputa.
O governador Elmano de Freitas, em entrevista ao PontoPoder, incluiu Luizianne e Evandro no seu "top 5" de pré-candidatos. O presidente do PSD, Domingos Filho, recém-chegado à base governista, também colocou os dois - incluindo um nome do próprio partido, claro. E até mesmo Evandro Leitão teve o cuidado de não perder a chance de fazer um aceno a Luizianne, citando-a também como nome forte.
Afinal, quem vai arriscar se indispor com o chefe do Legislativo, aliado de primeira hora de Camilo e Elmano ou com um nome histórico do PT que, apesar de ter ficado em terceiro lugar nas duas últimas campanhas pela Prefeitura, segue mostrando força eleitoral, especialmente na Capital?
Na campanha de 2022, Luizianne foi a deputada federal mais votada de Fortaleza, com 119 mil votos - mais da metade do eleitorado que deu a ela o sétimo lugar entre 22 vagas. Na Capital, Evandro Leitão somou pouco mais de 20 mil votos ano passado, apesar de ter sido o segundo deputado estadual mais votado do Ceará, com 113 mil votos.
Quem acompanha os bastidores da política sabe que Luizianne segue com um eleitorado fiel, que compra a briga do PT com o grupo do ex-prefeito Roberto Cláudio em Fortaleza, e não necessariamente transferiu votos para a candidatura do PDT na acirrada disputa entre Sarto e Capitão Wagner, em 2020.
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Ela não promete tornar fácil a vida de um pedetista cotado pelo partido no qual atua há décadas. Inclusive, no próximo sábado (26), ela cumprirá agenda no bairro Jangurussu, junto ao eleitorado. A área é simbólica pela presença do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca). Em 31 de dezembro de 2012, último dia como prefeita de Fortaleza, o Cuca Jangurussu foi uma das cinco obras inauguradas por Luizianne, mesmo sem estar pronto para funcionamento.
Enquanto Luizianne não fala sobre os planos para seu futuro político, não faltam acenos de quem tem alguma expectativa de contar com o apoio dela para 2024, o que ninguém conseguiu, desde Elmano de Freitas - candidato à sucessão na Prefeitura em 2012.
No histórico de Luizianne, não teve liderança petista que a movesse da decisão de ser candidata. Seria o cenário político cearense pós-2022, sob a batuta de Camilo Santana e Elmano, tão singular? Por enquanto, quem está no entorno do grupo, ciente da influência dos petistas nas articulações municipais, tem feito certo em evitar antecipar acirramentos. A questão é: até quando?