Legislativo Judiciário Executivo

Quais mulheres se movimentam nos bastidores da política cearense para as eleições de 2022

Representação de mulheres na política cearense ainda enfrenta dificuldade de espaço nos partidos, por exemplo

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Mesa Diretora ALCE
Legenda: Na Assembleia Legislativa, há apenas 5 deputadas entre as 46 vagas da Casa
Foto: Maximo Moura/AL-CE

Faltando quase nove meses até o dia da eleição, parlamentares e futuras candidatas já se movimentam em busca de ampliar as bases eleitorais para a disputa em outubro de 2022. O principal foco são as cadeiras na Assembleia Legislativa do Ceará e na Câmara dos Deputados, tanto para reeleição como para o primeiro mandato. 

Com apoio de grupos políticos fortes no Estado e, em alguns casos, já com atuação em casas legislativas ou no Executivo estadual, estas mulheres projetam dificuldades para a futura campanha, como as mudanças nas regras eleitorais e as limitações impostas pela pandemia de Covid-19. 

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Para especialistas, os desafios para mulheres que já possuem carreira política são diferentes, mas, ainda assim, podem representar obstáculos para a conquista do mandato. Um deles está nos próprios partidos: apesar de presentes, as mulheres ainda são poucas dentre os grandes nomes das siglas no Ceará. 

O principal impacto não é apenas para quem já está consolidada, mas principalmente na formação de novas lideranças para concorrer a estes espaços.  

"É um problema estrutural. Elas não são lembradas, não são vistas de imediato. Não vai ser o primeiro nome a ser lembrado como competitivo para a disputa eleitoral. É questão de cultura política", explica a socióloga e pesquisadora do Laboratório de Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), Paula Vieira. 

Em busca da reeleição

Apenas a partir de julho, com o início das convenções partidárias, é que os candidatos das eleições de 2022 podem começar a fazer o registro na Justiça Eleitoral. Contudo, as definições já começam a ocorrer e parlamentares já indicam as intenções de tentar reeleição ou tentar novos cargos em outubro

As decisões, no entanto, também dependem dos planejamentos e formações das siglas para a disputa. Com a expectativa de tentar o segundo mandato, Érika Amorim (PSD) afirma que aguarda as definições da sigla, mas quer disputar, novamente, uma cadeira na Assembleia. 

"É um espaço que precisa de mulheres. A nossa voz deve cada vez mais repercutir, bons projetos, boas defesas, trazer a força, a vontade de mais mulheres estarem ali, exercendo o seu papel. Enquanto mulher trazendo debate mais democrático".
Érika Amorim
Deputada estadual

Com uma das principais bases eleitorais em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, Érika Amorim enfrenta um cenário diferente para 2022 do que o que teve em 2018, quando o prefeito da cidade era Naumi Amorim (PSD), marido e do mesmo grupo político da deputada estadual.

Ela afirma que a nova conjuntura é "mais preocupante", após a vitória de Vitor Valim (Pros) para a Prefeitura da cidade, em 2020. "(Mas) Nós temos um partido consolidado, com boas lideranças, bons nomes, acredito que a gente tem um bom apoio e uma boa condição para estar concorrendo", contrapõe. 

Colega de Assembleia de Amorim, a deputada Augusta Brito (PCdoB) deve tentar o terceiro mandato na Casa. Uma das articulações já iniciadas é para filiação. Em diálogo com o PT, por meio do governador Camilo Santana (PT), ela considera que deve tomar uma decisão "até março" sobre a sigla. 

Desafios para a campanha

As viagens aos municípios cearenses também têm sido importantes nesse período. Ex-prefeita de Graça, Augusta tem importante base eleitoral na Serra da Ibiapaba. Para a parlamentar, o próprio trabalho do mandato é uma forma de estar perto da população destas cidades.

"(Mas) A questão da pandemia me afastou muito desse contato direto com a base eleitoral", explica. Ela também cita as novas regras eleitorais como uma das dificuldades que deve ser enfrentada nessa disputa, que considera a mais difícil que enfrentou até agora por uma vaga como deputada estadual. 

"Está sendo a mais difícil, desde articulação com as novas regras eleitorais, sem coligação, até pensar bem a sigla partidária. São muitas coisas a serem pensadas para atingir o quociente eleitoral. Pra mim a reeleição que tem mais obstáculos". 
Augusta Brito
Deputada estadual

Eleição para novos cargos

Também deputada estadual, Fernanda Pessoa (PSDB) deve tentar uma cadeira na Câmara Federal em 2022. Segundo a parlamentar, o cargo de deputada federal permite uma maior atuação em prol tanto dos municípios como do Estado - tanto por meio de recursos como pela proposição de legislação. 

Ainda estudando a possibilidade de ir para o União Brasil - fusão entre DEM e PSL, ainda em análise pela Justiça Eleitoral -, a parlamentar tem apoio do grupo político comandado pelo pai e prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB), que faz oposição ao governador Camilo Santana. 

Para chegar a Brasília, ela afirma que um dos principais desafios é ampliar a base eleitoral. Por conta disso, ela explica que tem realizado mais viagens pelos municípios cearenses, principalmente para o Cariri e para a Região Metropolitana do Estado, e "conversado com lideranças, prefeitos e vereadores para pontuar o que precisam".

"Como deputada federal, a gente tem mais condições de ajudar os municípios, mas também precisa de mais votos e precisa conversar mais, para conhecer a realidade". 
Fernanda Pessoa
Deputada estadual


Vereadora de Fortaleza, Priscila Costa (PSC) também deve tentar uma cadeira na Câmara dos Deputados em outubro. Ligada às igrejas evangélicas, a parlamentar bolsonarista têm feito desde o ano passado diversas viagens a municípios cearenses para eventos ligados a religião. 

Contrária ao passaporte sanitário e à obrigatoriedade da vacinação infantil, ela também tem realizado debates sobre os assuntos em outras cidades além da Capital. As visitas ajudam a ampliar a base da vereadora, que está na oposição tanto ao governador Camilo Santana como ao prefeito de Fortaleza, José Sarto.

Primeira eleição

Para quem deve tentar o primeiro mandato, o apoio de grupos políticos fortes no Estado também é importante na empreitada. Alguns destes nomes, mesmo sem ter experiência na vida pública, são apostas das siglas e chegaram a negociar com mais de uma legenda antes de se filiarem. 

Uma delas é Dayany Bittencourt (Republicanos) - que tem no perfil das redes sociais a identificação como "Dayany do Capitão". Esposa do deputado federal Capitão Wagner (Pros), ela que deverá tentar, em 2022, a cadeira na Câmara dos Deputados. 

Nos últimos meses, ela tem viajado o Estado, tanto com Wagner - que é pré-candidato ao Palácio da Abolição - como com outras lideranças do grupo político comandado pelo parlamentar. 

Lia Ferreira Gomes (PDT) é outra pré-candidata que deve seguir passos de familiares. Irmã do pré-candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT), do senador Cid Gomes (PDT) e do prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), ela deve tentar um mandato na Assembleia Legislativa do Ceará - onde os três irmãos já ocuparam cadeira. 

Ex-secretária executiva de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Governo do Estado, a pedetista pediu exoneração no final do ano passado para concorrer em 2022. Em 2018, ela já havia tentado se candidatar a deputada estadual, mas teve a candidatura indeferida por não ter realizado o cadastramento biométrico, que era obrigatório em Caucaia, seu domicílio eleitoral. 

Possibilidades de candidatura

Apesar de novata, Lia deve chegar como uma das apostas da sigla para esse ano. Contudo, apesar de ser um dos maiores partidos do Estado - com grandes bancadas no legislativo e o maior número de prefeitos -, o PDT ainda possui poucas mulheres entre os grandes nomes do partido. 

Reunião de parlamentares e lideranças pedetistas
Legenda: Encontro regional do PDT para debater a pré-candidatura ao Palácio da Abolição
Foto: Divulgação

Uma realidade que não é exclusiva da sigla, mas se repete em outras legendas. "Quantos partidos no Ceará têm no seu diretório, nos cargos mais importantes do partido, mulheres?", cita a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres. "Porque quando você coloca mulheres nos espaços de decisão, você também abre espaço para que essas mulheres sejam escolhidas nas convenções (como candidatas) e que a distribuição dos recursos seja equitativa". 

"Por exemplo, nas eleições de 2020, a quantidade de mulheres que foram vice-prefeitas e não cabeças de chapa, quando se compara. Isso mostra que os partidos ainda não vêem as mulheres como atores políticos tão competitivos como os homens". 
Monalisa Torres
Professora da Uece

Isso se reflete na disputa pelo Palácio da Abolição, onde apenas uma mulher, até agora, pode se tornar pré-candidata à sucessão de Camilo Santana. Atual vice-governadora, Izolda Cela (PDT) concorrerá internamente no partido para ser a cabeça de chapa na disputa estadual. A definição, contudo, deve ocorrer apenas no período das convenções partidárias. 

Deputada federal, Luizianne Lins (PT) já foi apontada como possível pré-candidata ao Governo por aliados do partido. Contudo, a aliança com o PDT tem sido defendida por importantes lideranças petistas, como o deputado federal José Guimarães e o governador Camilo Santana, o que tem enfraquecido a tese de candidatura própria do partido. 

Segundo a assessoria da parlamentar, ela ainda "aguarda finalizar as conversas com o partido e lideranças para, nos próximos dias, se manifestar sobre a sua atuação nas eleições de 2022". 

Desafios para candidaturas femininas

Paula Vieira afirma ainda que, enquanto lideranças consolidadas, essas mulheres têm dificuldades diferentes em relação a quem ainda está começando na vida pública. "São as dificuldades de uma mulher fazer parte de um debate público", explica. 

"Elas já têm legitimidade, já tem base eleitoral e também o apoio político. Como são consolidadas, isso tende a fortalecê-las, porque elas ajudam a construtir voto para a legenda". 
Paula Vieira
Socióloga

Contudo, existem desafios como uma distribuição de recursos muitas vezes desigual e que pode ser feita apenas para cumprir a cota mínima estabelecida pela Justiça Eleitoral, o que "pode ser uma desvantagem" em termos de investimento. 

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Monalisa Torres lembra que ainda existem outras pautas, como a violência política de gênero - que costuma atingir mulheres que inclusive já possuem mandato e, muitas vezes, desestimula tanto a atuação política como a própria campanha. "O problema ainda é muito estrutural, a nossa sociedade ainda não se organizou para incluir as mulheres no espaço político", ressalta.

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