Os desafios que Izolda Cela deve enfrentar ao assumir o Governo do Ceará
Pedetista pode assumir o Executivo a partir abril, caso o governador Camilo Santana deixe o cargo para concorrer ao Senado
Após mais de sete anos ocupando o cargo de vice-governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT) deve assumir o mais alto posto do Executivo estadual a partir de março deste ano. Mesmo com ela e o governador Camilo Santana (PT) sendo cautelosos sobre a decisão, parlamentares e interlocutores do Governo já dão como certa a chegada da pedetista ao cargo.
Izolda, no entanto, terá pela frente uma série de desafios diante de um ano eleitoral, em que ela própria é cotada como candidata, e chega com a missão de manter coesa uma ampla base construída ao longo de 15 anos de atuação de um mesmo grupo político no governo.
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Na última sexta-feira (18), durante a inauguração de uma escola de tempo integral, no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza, o governador ressaltou a confiança nas habilidades políticas de sua vice. “Ela (Izolda) terá até mais habilidade do que eu (para lidar com a base)”, disse.
Camilo chegou ao segundo mandato com um arco de aliança somando 24 partidos, com siglas da direita à esquerda. Agora, ao se aproximar do período de desincompatibilização para concorrer ao Senado Federal, vê siglas como PP, PL, PSD e MDB, até então da base, ameaçando lançar candidatura própria ou até mesmo reforçar a oposição.
Também na sexta-feira, Izolda reforçou os planos do atual chefe do Executivo.
“Se o governador realmente se afastar por conta dessa descompatibilização, eu tenho o compromisso de dar segmento com ritmo, responsabilidade, mantendo o equilíbrio fiscal que é importante para nós para que o Estado possa continuar investindo”
E fez um aceno à base: “Acho muito importante essa amplitude da aliança daqueles que estão comprometidos com o projeto que faz o Ceará crescer e se desenvolver, tenho compromisso com isso também”, ressaltou.
As alianças
Além das especulações sobre assumir o Governo ainda neste ano, Izolda está na lista dos quatro nomes cotados pelo PDT para encabeçar uma chapa de sucessão ao Governo do Ceará. Além dela, completam as opções: o ex-prefeito Roberto Cláudio, o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, e o deputado federal Mauro Filho.
Caso assuma o Governo e seja escolhida pela sigla para liderar a chapa eleitoral, Izolda enfrentará, na verdade, uma disputa pela reeleição neste ano. Essa possibilidade agrada alguns partidos governistas, que vêem neste cenário a possibilidade de fazer a “fila da sucessão andar” mais rapidamente.
No entanto, conforme a cientista política Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a conjuntura política encontrada pela pedetista atualmente é mais delicada do que a enfrentada por Camilo Santana em 2018.
“Quando o governador passa por um processo de reeleição, é muito mais fácil conseguir manter a coesão na base. Com a possibilidade de alternância de poder, os atores políticos que orbitam o Governo demonstram interesse na sucessão, então fica mais difícil de manter o equilíbrio, cada um vai puxar para um lado em busca de atender seus interesses”
De olho no Executivo
Entre esses atores políticos, alguns já colocaram o nome à disposição. Ex-secretário das Cidades e atual deputado estadual, Zezinho Albuquerque (PDT) é um deles. O parlamentar, que pode deixar o atual partido para filiar-se ao PP, presidido por seu filho, o deputado federal AJ Albuquerque, disse ter interesse em liderar uma chapa pelo Governo do Estado.
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Outro aliado de Camilo Santana que colocou o nome à disposição foi Eunício Oliveira (MDB). Correligionários de Camilo, Luizianne Lins (PT) e José Airton Cirilo (PT) também travam uma queda de braço com o mandatário para lançar uma chapa liderada por um dos dois. O ex-vice-governador Domingos Filho (PSD) também tem reforçado o desejo de disputar o Governo do Estado.
“A dinâmica político-partidária no Ceará tem a característica de articular grandes coalizões partidárias, só que essas grandes coalizões têm um limite, porque são muitos partidos e legendas muito heterogêneas, com lideranças que têm interesses particulares e, muitas vezes, divergentes”, afirma Torres.
Um desafio para Izolda
“É aí que está o desafio dela: dar continuidade e encerrar o legado ‘camilista’, entregando o que foi prometido, ao mesmo tempo em que tenta amenizar as tensões na base diante de inúmeras pressões de atores políticos que ganharam força nas eleições de 2020 e, agora, vão sentar-se à mesa de negociações para montar a chapa majoritária (...) São cálculos importantes a serem considerados pelo PDT, e Izolda será a comandante disso à frente do Governo”, ressalta a cientista política.
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Na avaliação do ex-vice-governador Domingos Filho, a transição para o fim do mandato camilista não deve ser turbulento, mas sim “harmônico”. “A Izolda já vem contribuindo com o modelo de gestão e governança desde quando era secretária e vem mantendo isso como vice-governadora. Na prática, não teremos alteração de conteúdo”, afirma o líder partidário.
Para ele, que também já se viu diante da possibilidade de assumir o Executivo estadual – o que acabou não ocorrendo, já que Cid Gomes (PDT) cumpriu o mandato até o fim – a atual vice-governadora adotará uma linha de continuidade, o que facilitará a gestão e as articulações políticas com o arco de aliados.
“Quando existe uma boa relação entre o governador e o vice, como foi meu caso com Cid e está sendo da Izolda com Camilo, é evidente que ela já vem em uma linha de proximidade, acompanha a gestão, tem um projeto para assumir, então não vejo como possibilidade ela não dar seguimento a isso”
Governo Camilo e Izolda
Na última terça-feira (15), durante visita às obras do Hospital Universitário do Ceará, no campus do Itaperi, da Uece, o governador ressaltou essa proximidade que tem com a vice-governadora.
“Nós conversamos há sete anos. Eu sempre coloco que o governo é o governo do Camilo e da Izolda. Nós estamos juntos há sete anos para honrarmos nosso compromisso que apresentamos à população cearense”, disse.
“É a vice dos sonhos de qualquer governador. É uma pessoa extraordinária, uma mulher de fibra, inteligente e sensível. É uma referência hoje, não só no Ceará. É uma mulher que deu grande contribuição para a educação, para a revolução que o Estado tem feito pela educação", acrescentou.
Contra o relógio
Durante a visita à obra do hospital universitário, Camilo lançou mais um desafio para o fim do mandato, que deve acabar recaindo para o “Governo Izolda”. Ele listou uma série de obras a serem inauguradas ainda em 2022 com status de prioridade. A própria unidade de saúde é uma das metas. Com 42% das obras concluídas, os planos do mandatário são de que, até o fim do ano, a construção seja finalizada.
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Outra prioridade apontada por Camilo foi a "Estação das Artes Belchior" – um complexo criativo, turístico e de entretenimento no Centro da Capital. A lista segue com o Polo Gastronômico da Sabiaguaba e o Parque Aloísio Lorscheider, no Itaperi. Na segurança, a meta é entregar o Centro Integrado de Segurança Pública, no Bairro de Fátima, ainda neste primeiro semestre de 2022.
Conforme explicou o governador, tanto o andamento de obras quanto as inaugurações foram afetadas por conta da pandemia, mas devem ser concluídas ainda neste ano, o que coloca sobre a futura governadora a pressão pela entrega dos equipamentos, que também devem servir de vitrine para a campanha da chapa governista.
Reveja a entrevista de Izolda Cela ao PontoPoder
O peso da popularidade de Camilo
Para a cientista política e professora universitária Carla Michele Quaresma, outro fator que pressionará a futura ocupante do Palácio da Abolição será a popularidade do atual mandatário.
“O governador deixa o segundo mandato com um índice de popularidade alto, mesmo tendo enfrentado uma crise sanitária e não tendo conseguido solucionar um problema histórico, herança de sucessivos governos, que é a questão da segurança pública, apesar dos altos investimentos que ele fez”, pondera.
Para ela, a tendência é de que a oposição intensifique os ataques tanto contra Camilo – caso dispute vaga no Senado – quanto contra Izolda – caso dispute o Governo –, e a segurança pública deve ser o principal tema dos embates.
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Segurança pública
“Talvez o grande desafio dela diante da candidatura dele seja manter essa imagem que ele conseguiu construir. Em segundo plano, ela sendo candidata, o desafio será mostrar os avanços no Ceará, principalmente nessas questões mais sensíveis, como a segurança pública”, afirma.
Quaresma ressalta ainda que a vice-governadora enxerga a segurança pública sob um viés mais social, o que pode ser pouco compreendido durante a campanha.
“É um viés de que investimentos no social, em saúde e na implementação de uma cultura de paz é que vão construir um Estado mais seguro, mas isso leva tempo, são políticas de longo prazo, e a sociedade quer resultados mais imediatos”, pontua.
Saída pelo diálogo
Diante dos desafios de um eventual Governo Izolda, as cientistas políticas Carla Michele Quaresma e Monalisa Torres apontam que o enfrentamento desse cenário deve ser feito com diálogo.
“O perfil dela é conciliador, que defende essa ideia da construção de uma cultura de paz, de investimentos sociais, na juventude, então essas devem ser as marcas desse período que ela assume, principalmente porque em um fim de mandato não tem como ela implementar grandes projetos ou promover grandes avanços, mas pode ser um período para reforçar a marca”
“Tanto ela quanto Camilo foram escolhidos com a ideia de construir um governo técnico, então ela tem suas qualidades neste sentido. Em relação a essa habilidade de coordenar interesses políticos divergentes enquanto coordena o governo, ela vai ser testada agora”, acrescenta Torres.
“O Camilo tem o perfil de apaziguador, sereno, aberto ao diálogo, a Izolda não me parece ser diferente. Teremos essa resposta em breve, mas ela demonstra ter interesse em estar atenta à forma como o governo funciona, como foi gerido e dar continuidade”, conclui Monalisa Torres.
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O Diário do Nordeste procurou outras lideranças locais e aliados governistas para comentar sobre a possibilidade de Izolda Cela assumir o Governo do Ceará.
Os deputados Júlio César Filho (Cidadania), líder do Governo na Assembleia, e André Figueiredo, deputado federal e presidente estadual do PDT, foram procurados por meio da assessoria de imprensa, mas não responderam.
O deputado federal Júnior Mano (PL), coordenador da bancada federal na Câmara, também foi contactado, mas não respondeu.
Colaborou o repórter Felipe Azevedo