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O que a primeira semana de disputa no Ceará aponta sobre as estratégias dos candidatos ao Governo

Primeiros dias evidenciam escolhas, discursos e posturas que podem dar o tom de como será a disputa

Escrito por Thatiany Nascimento ,
Roberto Cláudio, Capitão Wagner e Elmano de Freitas são candidatos ao Governo do Ceará
Legenda: Roberto Cláudio, Capitão Wagner e Elmano de Freitas são candidatos ao Governo do Ceará
Foto: Thiago Gadelha, Fabiane de Paula e Kid Jr

Candidatos percorrendo as vias, adesivos nas roupas, apoiadores mobilizados, abraços distribuídos, “santinhos” entregues, bandeiras penduradas, jingles já ecoando, carreatas a postos, a campanha eleitoral está nas ruas. No Ceará, embora a temperatura da disputa ao Governo não tenha sido elevada, até o momento, a primeira semana de atividades já aponta algumas estratégias que podem dar o tom do pleito.

Dentre elas: o foco momentâneo em Fortaleza e na Região Metropolitana, a afirmação de vínculos ou ausência deles com candidatos à presidência e o uso interativo das redes sociais.  

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O Diário do Nordeste ouviu cientistas políticos que acompanham e pesquisam a dinâmica eleitoral, e mostra avaliação deles, sobre algumas dimensões como os percursos feitos pelos candidatos, os discursos enfatizados, a utilização das redes sociais e a vinculação com Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes. 

Um balanço feito pelo Diário do Nordeste evidencia que, desde o dia 16 de agosto - início oficial das campanhas -, os candidatos ao Governo do Ceará passaram, ao menos, por 17 bairros, dos 121 de Fortaleza. Além da Capital, eles também estiveram em outras 27 cidades, das 184 do Estado, nesse primeiro momento. 

No sentido das viagens já feitas, destaque para Roberto Cláudio (PDT) que, neste período de partida das campanhas, foi o candidato que visitou mais municípios. Já Elmano focou na Região do Cariri, na qual Camilo Santana tem grande penetração. Capitão Wagner teve menos agenda no Interior e optou por, no momento inicial, percorrer a Região Metropolitana. 

Escolhas de percursos e discursos

Para a coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) e professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Monalisa Soares, a primeira semana demonstra uma grande centralidade de Fortaleza e da Região Metropolitana no processo eleitoral. 

“Todos os candidatos, mesmo fazendo seus percursos por cidades do Interior, buscaram fazer movimentos muito expressivos em Fortaleza e na região metropolitana. É o peso eleitoral desses territórios. Então, isso a gente viu bastante nas agendas dos candidatos. Vimos uma campanha já a pleno vapor”, afirma ela. 

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Do ponto de vista dos discursos, Monalisa aponta que “estão dentro do esperado”. “No Wagner, tem toda uma tentativa de mostrar ser o candidato preparado, o candidato que há muito tempo tem se preparado pra isso. No caso do Roberto Cláudio, é uma significação muito grande na sua própria experiência como gestor, como prefeito de Fortaleza em duas gestões”, afirma.

O cientista político, professor universitário e também pesquisador do Lepem da UFC, Cleyton Monte, reitera o foco em Fortaleza no primeiro momento das atividades, e indica que “outra questão da primeira semana é a troca de farpas, principalmente, entre campanha do Roberto Cláudio e do Elmano”.
 
De acordo com ele, isso diz muito sobre como será a campanha no primeiro turno. “Há uma disputa entre eles para se consolidar como a segunda força política na disputa com o Capitão Wagner”, completa.

O pesquisador também analisa que Capitão Wagner tem apostado na imagem da renovação e no voto anti Ferreira Gomes. Enquanto Roberto Cláudio, diz ele, “claramente vai trabalhar a questão da competência administrativa, do legado de Fortaleza”. Já Elmano, aposta na ênfase no papel dos aliados e na promessa de continuidade do projeto de Camilo Santana.

Roberto Cláudio ao lado da candidata ao Senado, Érika Amorim, e do candidato a vice, Domingos Filho
Legenda: Roberto Cláudio ao lado da candidata ao Senado, Érika Amorim, e do candidato a vice, Domingos Filho
Foto: Divulgação

O cientista político e professor da Pós-Graduação de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Raulino Pessoa Júnior, acrescenta que os diferentes padrões de atuação têm relação com os papéis desempenhados por cada candidato na vida pública e nos apoios. 

De acordo com ele, Roberto Cláudio “tem uma força em Fortaleza e começa a penetrar no interior do Estado”. Já o Elmano, como deputado estadual, “tem entrada em alguns municípios e tem capital político grande através dos governos do PT em Fortaleza, penetra em bairros da periferia".

O Capitão Wagner, indica Raulino, “está se estruturando, concentrou a agenda na Capital e na Região Metropolitana e ainda não apresentou uma estratégia para penetrar no interior, enfrenta vários obstáculos, como ser político da oposição, e pela imagem dele vinculada ao Bolsonaro”. 

Capitão Wagner com a candidata ao Senado, Kamila Cardoso, e aliados na Câmara Municipal
Legenda: Capitão Wagner com a candidata ao Senado, Kamila Cardoso, e aliados na Câmara Municipal
Foto: Luana Barros

Redes sociais

Para Monalisa, no que diz respeito ao uso das redes sociais, alguns candidatos “têm explorado bastante”. Mencionando o Instagram, ela aponta a característica “stories infinitos”. Outra dimensão interessante, diz ela, “é que alguns (candidatos) estão usando e mobilizando muito a repostagem de  eleitores e apoiadores”. 

De acordo com ela, o uso de conteúdos feitos pelos próprios apoiadores, que fazem fotos, gravam vídeos ou manifestam algum tipo de apoio em publicações é uma estratégia relevante e muito mobilizada por Capitão Wagner. 

Elmano com a candidata a vice, Jade Romero, e o candidato ao Senado, Camilo Santana
Legenda: Elmano com a candidata a vice, Jade Romero, e o candidato ao Senado, Camilo Santana
Foto: Thiago Gadelha

Vinculação com presidenciáveis 

Destacar que está com Bolsonaro, Lula ou Ciro Gomes era um dos movimentos até esperados para a campanha ao Governo no Ceará, já que a definição dos candidatos evidenciou essa dimensão de peso da eleição nacional nos processos locais. Mas, conforme análise de Cleyton, de todos os candidatos, “quem está usando mais a figura dos aliados é Elmano. Tanto Roberto Cláudio com Ciro, como o Capitão com o Bolsonaro, têm mais rejeição do que adesão”.

Para Monalisa, “Wagner tem buscado uma completa dissociação do presidente Bolsonaro”. De acordo com ela, isso se expressa nas redes sociais, nas entrevistas, na postura. 

“O Wagner tem material dizendo, por exemplo, que espera que a campanha seja uma campanha limpa, que respeite as instituições, que não seja violenta, que tenha respeito ao trabalho da imprensa. Então, digamos assim, se distanciando desse imaginário, desse léxico que marca de algum modo o discurso do presidente Bolsonaro”, destaca ela.

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Em paralelo, no caso do Elmano,  “a estratégia é de profunda e expressiva vinculação. Tanto que todas as agendas são com o governador Camilo Santana até agora. É um processo de associação muito forte. O Lula aparece no símbolo do L nos materiais e acho que a gente vai ver uma expressão mais forte com o horário eleitoral gratuito de rádio e TV”. 

No caso de Roberto Cláudio, ela argumenta: “ele tem buscado profundamente a associação com o Ciro e tem feito inclusive uma repercussão da campanha do Ciro no Ceará buscando fazer essas conexões. Tem fotos dele, por exemplo, com adesivo ‘prefiro Ciro’. Que é pra mostrar esse seu alinhamento”. 

Papel dos vices

Outro ponto que marca o início das campanhas é o papel e a visibilidade que os candidatos a vice-governador têm tido. “Roberto Cláudio, mesmo antes do início da campanha e agora, tem tido uma agenda muito significativa, muito expressiva. A gente vê nas imagens a presença do Domingos Filho. Então, é uma chapa, de fato, de parceria, digamos assim. De dois políticos e tal”, avalia Monalisa.

No caso de Elmano, a pesquisadora indica que a largada da campanha colocou muito em cena a candidata a vice, Jade Romero. “Principalmente com o discurso de gênero, com a relevância da participação feminina. E as agendas também muito articuladas”, avalia. 

Já na campanha de Capitão Wagner, afirma Monalisa, “aparece mais ele. Não tanto esse papel ele e o vice (Raimundo Gomes de Mattos). Isso é uma coisa também que a gente percebeu dessa observação mais geral de fotos, de filmagens que apareceram nas redes sociais”. 

Territórios percorridos

Capitão Wagner (União Brasil)

Bairros em Fortaleza: Meireles, Farias Brito, Sapiranga e Centro.
Outras cidades: Maracanaú, Paracuru, São Gonçalo do Amarante, Caucaia, Forquilha e Sobral.

Chico Malta (PCB)

Bairros em Fortaleza: Benfica e Centro.

Elmano de Freitas (PT)

Bairros em Fortaleza: Parangaba, Vicente Pinzón, Meireles, Pirambu, Aldeota e Barra do Ceará.
Outras cidades: Canindé, Barbalha, Juazeiro do Norte, Crato, Caucaia, Moraújo e Baturité.

Roberto Cláudio (PDT)

Bairros em Fortaleza: Canindezinho, Bom Jardim, Papicu, Messejana, Cocó e Centro.
Outras cidades: Aracati, Tauá, São Gonçalo do Amarante, Redenção, Santa Quitéria, Pacajus, Salitre, Forquilha, Ipu, Monsenhor Tabosa, Russas, Banabuiú, Camocim e Iguatu.

Serley Leal (UP)

Bairros em Fortaleza: Centro, Benfica e Antônio Bezerra.

Zé Batista (PSTU)

O Diário do Nordeste não conseguiu identificar os bairros de Fortaleza e/ou cidades percorridas pelo candidato.

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