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Moção de solidariedade a Luizianne na Câmara de Fortaleza é retirada após protesto da oposição

A vereadora Mari Lacerda (PT), autora da proposta, pretende readequar o texto e pôr para apreciação novamente na sessão desta quarta-feira (15)

Escrito por
Bruno Leite bruno.leite@svm.com.br
Foto da sessão da Câmara de Fortaleza, nesta terça-feira (14)
Legenda: Medida foi tomada após consulta feita à Mesa Diretora, durante a sessão
Foto: Érika Fonseca/CMFor

A vereadora Mari Lacerda (PT) solicitou que fosse retirada da pauta da sessão da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) desta terça-feira (14) o requerimento para envio de uma moção de solidariedade à deputada federal Luizianne Lins (PT), por conta da participação na Flotilha Global Sumud, missão internacional que tentava levar ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. 

A medida foi tomada após consulta feita à Mesa Diretora, durante a sessão, por conta de um protesto da vereadora Priscila Costa (PL), vice-líder da oposição, que acusou a matéria da colega de ter um “jabuti” — termo utilizado no jargão político para nomear um trecho sem relação com a temática da proposta.

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Ao que disse a autora da matéria, ela deve passar por uma alteração para retirar a parte alvo de problematização pela liberal e deve ser inserida na pauta de votação do Plenário Fausto Arruda nesta quarta-feira (15).

O trecho que causou divergência entre as parlamentares foi o parágrafo que indicava um repúdio para as forças militares de Israel por, segundo o texto, ter realizado a prisão do grupo em missão humanitária em águas internacionais, “desrespeitando o direito internacional”. 

Conforme alegou Lacerda, a retirada atendia a Priscila e aos demais colegas que “queriam votar a moção de solidariedade”. Ela negou que houvesse um trecho com objetivo distinto ao que pretendia no conteúdo do requerimento.

Mari argumentou ainda que o repúdio endereçado pela moção aos militares israelenses faz parte de “uma compreensão geral” do que entende que é o conflito entre Israel e Palestina atualmente.

Antes, ao problematizar a proposta, Costa defendeu que havia um “perigo”. “Não acho que nós deveríamos votar essa moção, até mesmo pela questão dúbia em que ela se apresenta”, pontuou a oposicionista, indicando um suposto potencial “problema diplomático” causado pela aprovação do requerimento.

Mesmo após a retirada da proposta da pauta, houve uma discussão entre as parlamentares. Priscila solicitou direito de resposta por, segundo ela, ter sido chamada de “extremista” por Mari. O pleito foi negado por Adail Júnior (PDT), que presidia a sessão, e a vice-líder reagiu. A petista respondeu e teve o microfone cortado.

O requerimento protocolado ressalta a “coragem” de Luizianne. De acordo com o teor da proposição, “tal atitude é condizente com a trajetória política” da política. O texto também saúda os demais membros da flotilha, em especial os outros brasileiros. 

Detenção em Israel

Luzianne foi detida por forças militares israelenses no dia 1º de outubro, quando estava a bordo do Grande Blu, embarcação que tentava furar o bloqueio de Israel ao território palestino transportando alimentos e medicamentos para a população em Gaza. 

Na ocasião, ao ter sido interceptada em águas internacionais com mais 12 brasileiros, a parlamentar cearense chegou a afirmar, em um vídeo disparado nas redes sociais, que foi “sequestrada” pelos militares.

“Meu nome é Luizianne Lins, eu venho do Brasil, se você está assistindo esse vídeo, é porque eu fui sequestrada pelas forças de ocupação israelenses e levada contra a minha vontade. Peço ao meu governo para acabar com qualquer relação econômica com Israel e a me levar para casa”, disse ela.

A deputada ficou na prisão de Ketziot, no deserto de Negev, por sete dias. E retornou à Fortaleza no último sábado (11). Ela estava no Brasil desde quinta-feira (9), quando desembarcou em São Paulo, depois de sair da Jordânia. 

Retorno de Luizianne para Fortaleza

No Ceará, a política foi recepcionada por centenas de militantes petistas, membros da torcida organizada do Ceará, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra e figuras políticas.

Ao desembarcar no Aeroporto Pinto Martins, Luizianne se afirmou como uma “militante radical dos direitos humanos”. “Onde houver injustiça contra qualquer ser humano nessa vida e eu for convocada, eu vou”, afirmou a política à imprensa.

Entre as autoridades e lideranças que recepcionaram a deputada federal, estavam o superintendente do Detran, Waldemir Catanho (PT); a primeira-dama do Ceará, Lia Freitas; o presidente do PT Fortaleza, Antônio Carlos; a deputada estadual Larissa Gaspar (PT); e o deputado federal José Airton (PT).

Segundo a ex-prefeita de Fortaleza, os dias de detenção foram “muito difíceis” e incluíram superlotação. Ela narrou que esteve na prisão de segurança máxima e que foi vítima de maus-tratos, como ter que ficar por mais de uma hora de joelhos e cotovelos no chão. 

“Foi uma imagem que o ministro da segurança nacional de Israel fez questão de mostrar para toda a população israelense”, afirmou. A deputada ainda acrescentou que, após a interceptação da embarcação de ajuda humanitária, todos os pertences dos tripulantes foram levados. 

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