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Frases irônicas de Moraes ganham destaque em julgamento da trama golpista: 'Não é conversa de bar'

Durante as mais de 5 horas de voto, o tom ácido e até curioso das falas marcaram o discurso do ministro

Escrito por
Raísa Azevedo raisa.azevedo@svm.com.br
(Atualizado às 15:32, em 11 de Setembro de 2025)
foto do ministro Alexandre de Moraes
Legenda: O ministro se posicionou favorável à condenação de Jair Bolsonaro
Foto: Rosinei Coutinho/STF

Diversas frases do discurso do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ganharam destaque pelo tom irônico, ácido e até curioso durante as mais de cinco horas de voto no julgamento do primeiro núcleo da ação sobre a trama golpista nesta terça-feira (9).

Ao argumentar sobre os réus e os fatos envolvendo a tentativa de golpe de Estado, Moraes chegou a dizer que o julgamento e o atentado à democracia "não é conversa de bar" e uma "tentativa de retorno à colônia".

O ministro, que se posicionou favorável à condenação de Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados, disse que o ex-presidente "liderou organização criminosa" para orquestrar o golpe.

Ele também teceu críticas ao advogado do general Augusto Heleno, dizendo não ser uma "samambaia jurídica".

Confira abaixo alguns destaques do voto de Moraes no julgamento sobre a trama golpista.

'Meu querido diário' e 'delinquente do PCC'

Em tom de ironia, Moraes comentou sobre as anotações encontradas com o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, chamando-as de “meu querido diário”.

"O réu Alexandre Ramagem quer fazer acreditar que era um diário para ele, que as anotações feitas no documento eram só para ele, particulares, ele com ele mesmo. Uma espécie de diário... 'O meu querido diário'. Não é passível, não é razoável, que todas as mensagens — e nós vamos verificar aqui — fossem inscritas e direcionadas ao presidente", disse.

“Isso não é uma mensagem de um delinquente do PCC para outro, isso é uma mensagem do diretor da Abin para o então presidente da República", completou o ministro.

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'Bolsonaro liderou organização criminosa'

Ao se posicionar de forma favorável à condenação de Jair Bolsonaro, Moraes destacou a liderança do ex-presidente no movimento para a tentativa de golpe.

“O réu Jair Messias Bolsonaro deu sequência a essa estratégia golpista estruturada pela organização criminosa, sob a sua liderança, para já colocar em dúvida o resultado das futuras eleições, sempre com a finalidade de obstruir o funcionamento da Justiça Eleitoral, atentar contra o Poder Judiciário e garantir a manutenção do seu grupo político no poder, independentemente dos resultados das eleições vindouras", afirmou Moraes.

'Isso não é conversa de bar'

O magistrado também relembrou discursos públicos de Bolsonaro, em que ele atacava ministros do Supremo e o Estado Democrático de Direito.

“Isso não é conversa de bar, não é conversa com um amigo no clube. Isso é o presidente da República no 7 de Setembro, data da Independência do Brasil, instigando pessoas contra o STF", destacou.

'Samambaia jurídica'

Moraes ainda criticou o advogado do general Augusto Heleno, que alegou que ele teria feito "perguntas demais" durante as sessões de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid.

"A ideia de que o juiz deve ser uma samambaia jurídica durante o processo não tem nenhuma ligação com o sistema acusatório", sublinhou.

'Barquinho de Papel

De forma sarcástica, o ministro comentou sobre o fato de a defesa do general Mário Fernandes ter negado a apresentação do plano que previa o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio Moraes.

"Não é crível e não é razoável achar que Mário Fernandes imprimiu no Palácio do Planalto, se dirigiu ao Palácio do Alvorada, onde lá estava o presidente, ficou uma hora e seis minutos, e fez barquinho de papel com a impressão. Isso é subestimar a inteligência do Tribunal", ironizou.

'Tentativa de retorno à colônia'

Sobre a reunião realizada por Bolsonaro com embaixadores estrangeiros em 18 de julho de 2022, no Palácio da Alvorada, em que o ex-presidente criticou o sistema eletrônico de votação do Brasil, Moraes afirmou que essa foi uma "tentativa de retorno à colônia".

No evento, além de descredibilizar o processo eleitoral brasileiro e a soberania nacional, Bolsonaro também fez ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esta reunião, inclusive, foi motivo de condenação do ex-presidente por abuso de poder político, que a tornou inelegível até 2030.

"Essa reunião talvez entre para a história como um dos momentos de maior entreguismo nacional, ou tentativa de entreguismo nacional. Mas, na verdade, os últimos acontecimentos demonstram que essa reunião foi só preparatória para uma tentativa de retorno à posição de colônia brasileira, só que não mais em Portugal", argumentou.

Julgamento do STF envolve Bolsonaro e outros sete réus

O STF analisa, nesta semana, a autoria individual dos oito réus envolvidos em uma série de atos criminosos praticados entre julho de 2021 e 8 de janeiro de 2023 — data que marcou os atos golpistas na sede dos Três Poderes, em Brasília.

Os movimentos, segundo Moraes, foram planejados para manter o grupo definitivamente no comando do País, impedindo a "republicana e democrática" alternância de poder. "Quiseram se perpetuar no poder ignorando a democracia. É o golpe de Estado", afirmou o magistrado.

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