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De quantas ações o prefeito de Juazeiro do Norte já foi alvo desde que assumiu o mandato

Glêdson Bezerra acumula uma sequência quase ininterrupta de imbróglios judiciais, ameaças de cassação, investigações do MPCE e CPIs

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
O prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, em entrevista ao PontoPoder
Legenda: O prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, nega as acusações
Foto: Thiago Gadelha

A reeleição histórica de Glêdson Bezerra (Podemos) à Prefeitura de Juazeiro do Norte, em 2024, não foi suficiente para garantir estabilidade à sua gestão. Alçado ao posto de primeiro prefeito reeleito da cidade, ele segue, assim como no primeiro mandato, sob intensa pressão no campo político e judiciário. 

Desde que assumiu o Município pela primeira vez, em janeiro de 2021, o mandatário acumula uma sequência quase ininterrupta de imbróglios judiciais, ameaças de cassação, investigações do Ministério Público do Ceará (MPCE) e comissões parlamentares de inquérito (CPIs) na Câmara Municipal.

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No caso mais recente, na última segunda-feira (30), o gestor sofreu mais um revés na Justiça Eleitoral. Ele e o vice-prefeito Tarso Magno (Podemos) foram condenados à cassação por abuso de poder político nas eleições de 2024. A sentença também torna Glêdson inelegível por oito anos. Três dias antes, outro pedido de cassação já havia sido analisado – e rejeitado — pelo Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).

A ação foi protocolada pela coligação “Fé, união e trabalho”, que incluía a Federação Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV) e era representada na eleição pelo deputado estadual Fernando Santana (PT), que ficou em segundo lugar no pleito municipal do ano passado.

Até agora, o político foi alvo de quatro CPIs no Legislativo de Juazeiro do Norte, além de três ações de cassações — em duas ele foi absolvido em segunda instância e a terceira ainda não foi apreciada pelo TRE-CE. O MPCE também já realizou busca e apreensão em imóveis do prefeito. Soma-se a isso uma relação turbulenta de Glêdson com os vereadores, recheada de atritos, obstruções e acusações mútuas. 

Gledson atribui as acusações à “perseguição” e “sabotagem” de adversários. Em 2020, o mandatário foi eleito sem apoio de lideranças estaduais, derrotando caciques políticos juazeirenses. Já em 2024, viu seu adversário, o deputado estadual Fernando Santana, montar um amplo arco de aliança com apoio de lideranças de peso no Ceará, como o governador Elmano de Freitas (PT) e o ministro Camilo Santana (PT). Ainda assim, o prefeito conseguiu se reeleger.

“Nós vencemos a eleição com uma diferença de quase 13 mil votos contra uma força gigantesca do outro lado contra a gente. E os nossos adversários não estão conformados com isso e tentam nos caçar a todo instante para tirar nosso mandato no ‘tapetão’. É lamentável, muito ruim para Juazeiro do Norte”
Glêdson Bezerra (Podemos)
Prefeito de Juazeiro do Norte

“Vamos seguir trabalhando, arregaçar mangas. Os adversários estão aí doidos, mas deviam ter trabalhado, ter feito por onde valer a confiança do povo de Juazeiro. Não teve, perderam nas urnas e, se Deus quiser, vão perder na Justiça também, a gente confia (...) E obrigado por vocês terem a capacidade de se indignar também, eu também estou, não vamos perder nunca a capacidade da gente se indignar e de acreditar na Justiça e na força da democracia”, disse o prefeito, na última segunda-feira, em vídeo publicado nas redes sociais.

No pronunciamento, o político pediu cautela aos apoiadores, ressaltando que a cassação foi determinada em primeira instância, portanto, ele segue exercendo um mandato até que o TRE-CE analise o caso e determine ou não o afastamento.

“Nós temos o direito de recorrer e vamos recorrer dessa decisão, nós não concordamos com ela e, quando não concordamos com uma decisão judicial no Estado Democrático de Direito, buscamos os mecanismos legais. O recurso vai ser julgado pelo TRE-CE e eu estou esperançoso de que vamos vencer mais essa batalha”, completou. 

Apesar da quantidade e da gravidade dos questionamentos enfrentados, o prefeito não teve o mandato interrompido até o momento. Diante das ações judiciais, Glêdson conseguiu absolvição em segunda instância, já as CPIs não impactaram no exercício do mandato do gestor.

Veja as ações contra Glêdson Bezerra desde o primeiro mandato

12/11/2020 — CANDIDATURA INDEFERIDA

Antes mesmo de ser eleito prefeito, Glêdson teve seu registro de candidatura indeferido pela juíza Kamile Moreira Castro, do TRE-CE, sob alegação de que ele não se desincompatibilizou do cargo de inspetor da Polícia Civil no prazo legal. Glêdson recorreu da decisão.

Glêdson Bezerra e Giovanni Sampaio nas eleições de 2020
Legenda: Glêdson Bezerra e Giovanni Sampaio nas eleições de 2020
Foto: Thiago Sousa/Divulgação

2/2/2021 — DUAS CPIs

Na primeira sessão do novo mandato, os vereadores aprovaram a criação de duas CPIs para investigar o prefeito e o então vice-prefeito, Giovanni Sampaio (PSD). Pesavam contra eles acusações de nepotismo e de furar a fila da vacinação da Covid-19, respectivamente.

23/4/2021 — TERCEIRA CPI

Os parlamentares instalaram uma nova CPI para apurar supostas irregularidades na contratação de servidores temporários. À época, Glêdson questionou a motivação dos vereadores e ressaltou que, na verdade, reduziu o número de servidores temporários.

1/5/2021 — CASSAÇÃO

Glêdson e Giovanni (vice-prefeito) foram condenados, em primeira instância, por abuso de poder econômico. A acusação incluída a distribuição ilegal de combustível, uso indevido de um helicóptero e “derrame de santinhos”. Eles recorreram da decisão.

21/7/2021 — QUARTA CPI

Os vereadores abriram uma nova CPI contra Glêdson para apurar uma dispensa de licitação na contratação de empresa de lixo que teria sido direcionada propositalmente. Glêdson negou qualquer irregularidade e questionou a intenção da investigação.

Glêdson na Câmara de Juazeiro do Norte
Legenda: Glêdson Bezerra enfrentou CPIs no primeiro mandato
Foto: Divulgação/Instagram Glêdson Bezerra

5/8/2021 — CASSAÇÃO REVERTIDA

O TCE-CE reverteu a cassação de Glêdson Bezerra e de Giovanni Sampaio por abuso de poder econômico. A Corte avaliou o uso de um helicóptero durante a campanha e apontou que não houve desequilíbrio do pleito em favor da dupla.

13/3/2024 — INVESTIGAÇÃO DO MPCE

Glêdson, uma secretária e três empresários foram alvos de mandados de busca e apreensão em operação do MPCE que investigava fraudes e desvios nos contratos de coleta de lixo. O prefeito disse que estava "sendo vítima de uma grave perseguição política".

27/6/2025 — CASSAÇÃO REJEITADA

O TRE-CE rejeitou um pedido de cassação de Glêdson e do vice-prefeito Tarso Magno. O prefeito foi acusado de abuso de poder político por conceder supostas vantagens a servidores públicos no período eleitoral.

Glêdson Bezerra e Tarson Magno dando as mãos
Legenda: Glêdson Bezerra e Tarson Magno durante a campanha eleitoral
Foto: Divulgação/Campanha Glêdson Bezerra 2024

30/6/2025 — NOVA CASSAÇÃO

A Justiça Eleitoral determinou a cassação de Glêdson e Tarso por abuso de poder político. A decisão torna o prefeito inelegível por 8 anos. Ele teria realizado um aumento de gastos com a aquisição de aparelhos auditivos, óculos e cestas básicas no ano eleitoral. O prefeito disse que irá recorrer da decisão.

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