Cinco pontos para entender qual o cenário da disputa pelo Governo do Ceará após 47 dias de campanha

Campanha em 2022 tem três principais candidatos ao Executivo no Estado: Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União) e Roberto Cláudio (PDT)

Legenda: Candidatos ao Governo do Ceará
Foto: Fabiane de Paula

Até as 22 horas do sábado (1º), havia carreata de candidato ao Governo do Ceará cortando ruas de cidades como Fortaleza, Juazeiro do Norte e Tauá. Foram 47 dias de uma campanha eleitoral intensa, com percursos por pelo menos 113 municípios cearenses. 

O cenário que as urnas entregarão após as 17 horas deste domingo (2) é resultado de diferentes estratégias adotadas pelos três principais candidatos no Estado: Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT).

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Nesse cerca de um mês e meio de campanha, destacaram-se discussões sobre apadrinhamento e nacionalização da campanha, além de episódios de ações judiciais e desavenças políticas. Dentre as propostas de campanha, saúde foi um dos principais focos dos candidatos, acompanhada de temas como geração de emprego e combate à fome.

Para relembrar essa trajetória das eleições de 2022 até este primeiro turno, vale conferir cinco pontos que sintetizam os destaques do pleito.

Desempenho nas pesquisas

Levantamentos contratados pela TV Verdes Mares ao Instituto Ipec no mês de setembro mostraram o acirramento da disputa nas perspectivas de intenção de voto para o Governo do Ceará. 

Em quatro rodadas, todas no mês de setembro, Elmano de Freitas saiu da terceira posição e chegou ao último dia de campanha liderando nas intenções de voto, considerando os votos válidos, quando são excluídos brancos, nulos e indecisos. Nesse caso, é considerada, para a base de cálculo do percentual, somente os votos atribuídos aos candidatos.

Capitão Wagner, que liderou por duas rodadas, empatou tecnicamente com Elmano na terceira e ficou em segundo na última pesquisa, com uma diferença de sete pontos.

Já Roberto Cláudio, considerando os votos válidos, ocupava a segunda posição na primeira pesquisa, de 1º de setembro, empatou tecnicamente com Elmano na segunda posição, mas ficou em terceiro na duas últimas rodadas.

Padrinhos políticos

A presença de lideranças políticas tradicionais, em eventos presenciais ou mesmo em ações de apoio a distância, foi um dos pontos constantes dessas eleições, principalmente pelo fato de um dos protagonistas da disputa nacional, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), ser do Ceará.

Ainda na pré-campanha, com o afastamento do senador Cid Gomes das articulações, Ciro assumiu as tratativas do grupo governista do PDT no impasse entre as pré-candidaturas da governadora Izolda Cela e do ex-prefeito Roberto Cláudio. Foi o principal articulador da escolha por Roberto Cláudio, que resultou no racha político com PT e outros partidos, como MDB e PP, que marcou as eleições desse ano.

Foi justamente a separação entre PT e PDT que resultou na candidatura petista de Elmano e propiciou palanque próprio para a candidatura de Lula no Ceará. O presidenciável foi consultado horas antes do anúncio da pré-candidatura do deputado estadual e esteve no Ceará para oficializar a chapa. 

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O impasse em relação aos apadrinhamentos nacionais foi com Capitão Wagner. Apesar de afirmar não ter palanque nacional ou de não declarar apoio a nenhum candidato a presidente nessa campanha. Wagner esteve ao lado do presidente Jair Bolsonaro em julho, ainda na pré-campanha, em evento no Ceará, protagonizando mais um episódio de apoio do candidato à reeleição.

Durante a campanha oficial, no entanto, Wagner fez esforços para se descolar da candidatura de Bolsonaro diante da baixa avaliação do presidente no Estado. Em diferentes ocasiões, Capitão Wagner deu declarações no sentido de defender que dialogaria "com quem quer que fosse o eleito" para a Presidência da República.

Em outro oposto, esteve Elmano de Freitas, cujos apoios de Lula e do candidato ao Senado, Camilo Santana (PT), foram amplamente explorados pelo petista em atos de campanha. Com Lula e Camilo à frente das pesquisas, Elmano conseguiu alavancar a transferência de votos e fez campanha presencial com Lula no penúltimo dia de campanha, nas ruas do Centro de Fortaleza.

Roberto Cláudio, apesar da aliança com o presidenciável do Ceará, pouco contou com a presença de Ciro em eventos de campanhas e teve de lidar ainda com as desavenças envolvendo os irmãos Ferreira Gomes na atual campanha. 

Na reta final, Ciro chegou a dizer que não voltaria ao Ceará nesta campanha e que não tinha ninguém o defendendo no Estado, com exceção de Roberto Cláudio. Dias depois, o presidenciável anunciou agenda no Ceará e cumpriu os últimos atos de campanha em Sobral e em Fortaleza. 

Foco na saúde

Um dos temas que permeou entrevistas, debates e propagandas eleitorais dos candidatos foi a saúde. Elmano, Capitão Wagner e Roberto Cláudio focaram em propostas como interiorizar o atendimento de saúde, fortalecer a atenção primária, ampliar a rede de hospitais, garantir tratamento de câncer em cidades distantes da Capital e aumentar a oferta de serviços.

A terceira rodada da pesquisa Ipec Ceará mostrou que a saúde pública é, largamente, a área apontada pelos eleitores cearenses como a que enfrenta os maiores problemas no Estado. Conforme o levantamento, 77% do eleitorado avalia o setor como o mais crítico.

No Debate PontoPoder, promovido pelo Sistema Verdes Mares, os postulantes mais à frente na pesquisa – Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT) – comentaram o assunto e apresentaram suas propostas para a área.

Logo atrás de saúde pública no ranking, aparecem áreas como segurança pública e violência, desemprego e educação, avaliadas negativamente por parcela significativa do entrevistados, mas ainda distante do índice da saúde.

Fator Izolda

Após ficar no centro do racha entre PT e PDT e ter deixado o partido dos aliados Cid e Ciro Gomes, a governadora Izolda Cela foi peça central dessa disputa. Apesar de ter entrado diretamente na disputa apenas na última semana, Izolda viu a gestão ser alvo de ação judicial por parte da campanha de Roberto Cláudio e de críticas pela de Capitão Wagner.

Além da ação judicial, Izolda foi alvo de ataques do ex-aliado por suposta cooptação de prefeitos para beneficiar a campanha de Camilo Santana e Elmano.

"Tenho visto, com surpresa, declarações absurdas do ex-prefeito Roberto Cláudio sobre o procedimento ético do nosso Governo. Cabe-me o dever de afirmar que não são verdadeiras. E são também covardes e irresponsáveis, na medida em que desvirtuam os fatos e expõem a imagem do nosso Estado e de quem trabalha sério para seu desenvolvimento. Lamento muito tudo isso", disse Izolda em publicação nas redes sociais.

Em outra ocasião, Roberto Cláudio voltou a subir o tom. "Quem quer ganhar eleição de véspera, usando a caneta quase vazia do restinho de poder, quem quer ganhar a eleição de véspera controlando as instituições toda do Governo, achando que isso vai representar ao povo algum tipo de mensagem do poder pelo poder, está se enganando, simplesmente cegando", disse o ex-prefeito e evento com vereadores de Fortaleza.

A segunda rodada da pesquisa Ipec/TV Verdes Mares, de 9 de setembro, mostrou crescimento de Capitão Wagner entre aqueles que consideram a administração da atual governadora como ruim/péssima. No primeiro levantamento, o índice era de 39% e subiu para 57% dos que avaliam negativamente a gestão. O dado mostrou os ataques a Izolda com potencial de somarem positivamente para Capitão Wagner e não para a campanha do PDT.

Izolda também chegou a trocar farpas com Capitão Wagner. O candidato do União Brasil compartilhou vídeo alegando que “o Governo Federal depositou 1,2 bilhão de reais nos cofres do Estado”, mas que a gestão estadual teria supostamente acionado o Supremo Tribunal Federal (STF) para, diz ele, “suspender o pagamento dos professores”. 

A governadora rebateu, dizendo que “alguns tipos de mentira minha avó chamava de ‘deslavadas’. Das grandes, sem cerimônia. Pois é deste tipo que tem-se ouvido do candidato Capitão Wagner sobre o Governo e o precatório da Educação”. 

O crescimento dos ataques culminou com Izolda entrando oficialmente na campanha de Elmano na última semana. Além de vídeo para a propaganda eleitoral, ele fez foto ao lado de Lula, Camilo e Elmano no penúltimo dia de campanha.

Presença de mulheres

Outro destaque nessa campanha foi a discussão sobre a presença de mulheres nas chapas para o Governo do Estado. O ponto foi uma constante nas discussões internas do PDT e se arrastou para as demais oficializações de candidaturas.

A primeira mulher anunciada em chapa majoritária foi Kamila Cardoso (Avante), candidata ao Senado ao lado de Capitão Wagner.

Já Elmano, no final do prazo para formalização de nomes, lançou como vice a fisioterapeuta Renata Almeida, do MDB. Ela, no entanto, renunciou à disputa após ser alvo de ataques

Três dias depois, o PT anunciou Jade Romero como vice. Além dela, a chapa tem como suplentes de Camilo ao Senado a deputada Augusta Brito e a ex-secretária do Governo, Janaína Farias.

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A chapa do PDT passou por três nomes até fechar a candidatura de Érika Amorim ao Senado. Primeiro, o partido lançou Amarílio Macêdo (PSDB) como candidato a senador. Impasses internos do PSDB, no entanto, tiraram o partido da aliança.

Em meio às indefinições, o partido anunciou a vereadora Enfermeira Ana Paula para o Senado, minimizando as críticas pela ausência de mulheres na chapa. Ana Paula, no entanto, também renunciou. Só então Érika foi incluída na disputa. Pouco antes, a deputada havia desistido de disputar a reeleição para a Assembleia Legislativa.

Na disputa pelo Senado, Érika oscilou na média de 4% das intenções de voto segundo a pesquisa Ipec/TV Verdes Mares. Já Kamila Cardoso alcançou 20% das intenções de voto, apesar de nunca ter disputado uma eleição estadual.

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