O que a visita de Bolsonaro a Fortaleza indica sobre a estratégia eleitoral para o Ceará em 2022
Presidente esteve em Fortaleza neste sábado, quando participou de motociata e da Marcha para Jesus
O presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve, neste sábado (16), em Fortaleza para participar da Marcha para Jesus 2022. Visitando a capital cearense pela primeira vez desde que tomou posse, em 2019, ele realizou também uma motociata pelas ruas da cidade – ato que tem se tornado cada vez mais comum na pré-campanha à reeleição de Bolsonaro.
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Apesar de rápida, a passagem pelo Ceará teve sinalização importante sobre o apoio de Bolsonaro na disputa pelo governo estadual. Chamado de "amigo, com muita honra" pelo presidente, o deputado federal Capitão Wagner (União) foi elogiado por Bolsonaro, que chegou a indicar, inclusive, uma dobradinha.
"Se o Brasil tem problema, chama o capitão. Se o Ceará tem problema, chama o Capitão. Esse Ceará, esse Nordeste é nosso. (...) O Ceará deve se unir, os bons devem se unir, a causa é o futuro do nosso Estado e do nosso Brasil".
Durante discurso, realizado no palco da Marcha para Jesus, na Praia de Iracema, Bolsonaro ressaltou ainda alguns temas, que podem pautar a campanha eleitoral. Entre eles, a crítica a atuação dos governadores durante a pandemia de Covid-19, a exaltação da criação do auxílio emergencial e o reforço de discursos alinhados à pauta de costumes, como a condenação ao aborto e ao que chama de "ideologia de gênero".
O Diário do Nordeste separou quatro pontos da visita de Bolsonaro que demonstram qual deve ser a estratégia eleitoral dele no Estado.
Apoio a Capitão Wagner
Se, até agora, o PL Ceará ainda não decidiu qual será o candidato ao governo estadual, o presidente Bolsonaro voltou a demonstrar a preferência pelo nome do deputado federal Capitão Wagner. Essa não é a primeira vez. Em visita ao Cariri, em agosto de 2021, Bolsonaro já tinha sugerido a dobradinha.
"O Brasil já tem um capitão. Eu acho... Eu acho, não! Eu tenho certeza que o Ceará também terá um capitão no ano que vem".
Dessa vez, o presidente sugeriu chamar o capitão "se o Brasil tem problema" e o outro capitão "se o Ceará tem problema". "Esse Ceará, esse Nordeste é nosso", completou o mandatário. O mesmo entusiasmo, no entanto, não tem se observado do lado de Capitão Wagner.
Nos bastidores da pré-candidatura de Wagner, a associação da imagem entre o cearense e Bolsonaro não é bem vista. A orientação é não nacionalizar o debate, evitando trazer a polarização da disputa presidencial para o Estado. Além disso, a tendência é que o próprio palanque de Wagner seja dividido entre Bolsonaro e outros pré-candidatos à presidência da República.
Durante a visita de Bolsonaro neste sábado, Wagner chegou apenas para a Marcha para Jesus, não participando da motociata promovida pelo presidente. Ele também ficou do lado oposto ao de Bolsonaro no palco e cumprimentou o presidente apenas no final do evento.
Apesar disso, Wagner vestia blusa com os dizeres "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", slogan usado por Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018.
Ausência do comando do PL estadual
Ainda tentando convencer a ala bolsonarista do PL de que vai de fato reforçar o palanque do presidente Jair Bolsonaro no Ceará, o presidente da sigla no Estado, prefeito Acilon Gonçalves, não foi visto pelo Diário do Nordeste no evento que marcou a presença do presidente da República em Fortaleza.
De acordo com a assessoria de imprensa, estava na agenda do prefeito a ida à Marcha para Jesus, na Praia de Iracema, local em que Bolsonaro discursou ao lado de correligionários e de lideranças políticas da base aliada.
Neste domingo (17), Acilon postou nas redes sociais que esteve com Bolsonaro em uma agenda em Natal, no Rio Grande do Norte, e também durante a Marcha para Jesus em Fortaleza.
No palco com o presidente, entre os filiados do PL no Ceará estavam as lideranças mais alinhadas ao bolsonarismo. A ala mais antiga do partido acabou se ausentando.
Entre os parlamentares, foram vistos o deputado federal Jaziel Pereira, a deputada estadual Silvana Oliveira e o vereador Carmelo Neto.
Em meio à ausência do comando do PL Ceará no palanque da visita presidencial, o presidente Jair Bolsonaro decidiu reforçar o apoio dele à pré-candidatura de Capitão Wagner (UB) ao Governo do Estado.
Apesar da inclinação, Acilon ainda não bateu o martelo se a legenda vai lançar candidatura própria ou se vai embarcar na pré-candidatura do líder da oposição no Estado.
"É o velho ditado: quando os bons se dividem, os maus vencem. O Ceará deve se unir, os bons devem se unir, a causa é o futuro do nosso Estado e do nosso Brasil", disse Bolsonaro fazendo referência à aliança no Estado.
Foco em ampliar bancada federal
Mais do que prometer apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro e reforçar o palanque estadual, Acilon tem a missão de eleger mais deputados federais para garantir força política em um eventual segundo mandato de Bolsonaro.
O grupo da direita acabou elegendo a segunda maior bancada em 2018, ficando atrás apenas do PT. Agora, a intenção é eleger a maior bancada. Alguns parlamentares deixaram seus partidos para integrar o PL neste ano com esse objetivo.
No Ceará, entre as apostas está André Fernandes – deputado estadual mais votado em 2018. O planejamento do partido é que o parlamentar se eleja para a Câmara dos Deputados e ajude a legenda a levar mais nomes para Brasília.
Entre esses nomes está o de Mayra Pinheiro, que é ex-presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará. A aliada de Bolsonaro foi filiada ao PSDB, ao NOVO e agora chegou ao PL. Tentou outras vezes chegar ao Parlamento, mas não teve sucesso.
Outra aposta do grupo é o Coronel Aginaldo, marido da deputada federal Carla Zambelli, além da esposa de Capitão Wagner, a Dayany do Capitão, que, embora filiada ao União Brasil, atua politicamente no mesmo grupo de base ao Governo Federal.
Refém do Centrão, o Governo Bolsonaro sonha com um segundo mandato com uma base mais robusta para implementar os projetos que dialoga com o eleitorado conservador.
Apelo do discurso eleitoral
A fala de Bolsonaro aos apoiadores na Praia de Iracema também dá sinalizações de quais devem ser os assuntos que o presidente irá pautar durante a campanha eleitoral.
Discurso recorrente desde 2020, o presidente voltou a criticar a atuação dos governadora durante a pandemia de Covid-19. Ao falar sobre, ele contrapôs as medidas adotadas pelos gestores estaduais com a concessão do auxílio emergencial - aprovada pelo Congresso Nacional e financiado pelo governo federal.
"Quando muito governadores obrigaram a todos ficar em casa, atendemos aos mais humildes. Nós fizemos a nossa parte. Criamos o auxílio emergencial, criamos programas para quem perdeu emprego no Brasil. Hoje vocês veem a economia reagindo".
Ele também citou o impacto da guerra entre Rússia e a Ucrânia na economia do País, inclusive com consequências para os preços dos combustíveis.
O presidente ressaltou ainda problemas "que herdei não nasceram de uma hora para a outra, vêm de décadas". Pegamos um governo com sérios problemas econômicos, éticos e morais. Formamos um gabinete com voluntarios e indicação minha, sem interferência, e começamos a trabalhar pelo nosso país", afirmou.
Com forte eleitorado conservador, o presidente também reforçou a "defesa da família" e criticou a realização de aborto e o que chamou de "ideologia de gênero". Ele ressaltou ainda a importância do Ceará e do Nordeste para a campanha eleitoral: "o futuro passa por aqui".
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Ele também voltou a defender eleições "auditáveis". O presidente Bolsonaro, desde a campanha de 2018, tem, repetidas vezes, colocado em dúvida o sistema eleitoral e às urnas eletrônicas - inclusive alegando que houve fraude em disputas eleitorais, sem contudo mostrar provas dessas adulterações. Em Fortaleza, Bolsonaro afirmou que o que defende são "eleições transparentes, limpas e auditaveis".