Vacinação é essencial para impulsionar economia, avalia setor produtivo

Empresariado local e economistas têm expectativas bastante otimistas para o desempenho econômico em 2021, mas concretização vai depender da condução do programa de vacinação em âmbito nacional e local

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.Coelho@svm.Com.Br
Legenda: O presidente da Abih ainda reforçou a importância de se manter todos os cuidados referente à pandemia, seguindo todos os protocolos sanitários exigidos pelo Governo do Estado
Foto: Foto: Nilton Alves

O ano de 2021 bate à porta e o setor produtivo cearense o recebe com boas expectativas. O otimismo é sustentado pela melhora da atividade econômica no último trimestre de 2020, perspectivas positivas quanto ao crédito, que deve ajudar a impulsionar a retomada, e uma forte demanda reprimida. Mas esse cenário vai depender da velocidade com a qual os governos federal e estadual conseguirão vacinar a população contra o coronavírus.

As ações do poder público para garantir a imunização de forma rápida serão cruciais para a economia, mas devem provocar uma resposta rápida especialmente no turismo, uma das atividades mais afetadas pelo isolamento social e que corresponde a um terço do Produto Interno Bruto (PIB) de Fortaleza. O segmento também tem participação importante nos serviços, que correspondem a 70% das riquezas produzidas no Estado.

O economista Alex Araújo avalia que a imunização é uma questão nacional, mas que traz grandes desafios para o Ceará, considerando que a atividade local é fortemente sustentada pelos serviços. "Apesar de o Estado ter apresentado uma performance melhor que a média brasileira, é importante observar que isso se concentrou em alguns setores econômicos. Para um efeito mais distribuído, a vacina será primordial. Nossa atividade está 60% no setor terciário, que foi o mais impactado pelas restrições. Nós temos uma economia de turismo, então a vacina será importantíssima para nós", explica.

A análise é endossada pelo economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra. "Existe uma perspectiva muito boa em termos nacionais da recuperação da atividade econômica para o ano que vem, principalmente com essa possibilidade de vacinação já no início de 2021. Para que a gente possa pensar em uma recuperação, seja no cenário nacional ou local, a vacina é extremamente importante", destaca.

Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), Régis Medeiros acredita que, com a imunização, rapidamente o turismo vai presenciar um reaquecimento mais significativo. "Quando a vacinação iniciar, a cadeia do contágio será quebrada. Isso vai gerar um distensionamento da situação e eu não tenho dúvidas de que haveria uma enxurrada de viagens, porque há uma demanda muito reprimida", pontua.

Ele se revela mais confiante em uma retomada expressiva para o turismo no segundo semestre do ano que vem. "É até difícil fazermos muitos prognósticos, porque nós dependemos muito da situação da Covid-19", lamenta. "Nós vínhamos em uma ascendência, mas tivemos um aperto nos protocolos e isso gera cancelamentos, então deu aquela diminuída novamente", detalha Régis Medeiros.

Para o presidente da ABIH-CE, deve jogar a favor da retomada, caso a imunização ocorra de forma rápida, a tendência de uma busca maior pela experiência no turismo e de valorização dos momentos em viagens. "As pessoas passaram a valorizar muito mais esse sentimento de liberado, a valorizar o 'ser' mais que o 'ter'. Acredito que isso vai ficar muito forte nas pessoas", prevê Medeiros.

Comércio

Atividade também importante na composição do setor de serviços, o comércio está atento às notícias sobre a vacinação no Estado e no País e acredita que uma retomada mais robusta também dependerá de amparo do poder público, de acordo com o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE).

"É difícil fazer um prognóstico de 2021, porque a melhora vai depender de muitos fatores. A economia vai, mais uma vez, precisar de muito incentivo governamental. Sem isso, não teremos como comemorar resultados positivos. Nós ainda estamos no meio de uma turbulência e o que tem feito a diferença são esses auxílios a todos os segmentos produtivos", aponta.

Freitas diz que, em 2021, espera ser "surpreendido positivamente como foi em 2020". "Nunca pensei que esses apoios chegariam com o volume que chegaram e, de fato, representou muito para o setor produtivo. Eu espero que, em 2021, considerando a experiência que tivemos em 2020, que o governo consiga repetir e até melhorar esses aportes no setor produtivo, porque acaba voltando para o próprio governo", explica.

Entre outras medidas que afetam o setor produtivo, o Governo Federal ainda não deu uma sinalização concreta de que o estado de calamidade pública, que deve ser encerrado após o dia de hoje, será ou não renovado. Caso não seja, como consequência, medidas tomadas para mitigar os efeitos da pandemia, como a suspensão de contratos e redução de salários e jornadas e o auxílio emergencial, não devem continuar.

Já em âmbito estadual, o governador Camilo Santana (PT) falou ao Diário do Nordeste no último dia 19 de dezembro sobre o microcrédito como uma alternativa para o auxílio emergencial. Na avaliação de Alex Araújo, o microcrédito deve ser uma importante ferramenta no processo de retomada, mas ele lembra que os efeitos desse tipo de política são sentidos não no curto, mas a médio prazo.

"Sem dúvidas o microcrédito tem uma orientação muito grande para o público das atividades informais e para quem trabalha por conta própria. É fundamental ter esse crédito após uma pandemia, mas não dá para esperar um resultado já no curto prazo", explica o economista.

Indústria

Com boas expectativas para a indústria em 2021, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, pontua que o otimismo do setor se sustenta, entre outras perspectivas, na recomposição da demanda com a substituição do auxílio emergencial por um programa que atenda a esse público.

"Somos otimistas quanto às perspectivas de termos, em 2021, um crescimento mais acelerado que virá com o sucesso das vacinas para a imunização, com a recomposição da demanda com a substituição do auxílio emergencial por um programa de renda mínima para os mais vulneráveis e com a melhoria do ambiente de negócios (reforma tributária, linhas de financiamento, entre outros)", detalha Ricardo Cavalcante.

Ele destaca que a indústria tem liderado a retomada da atividade econômica no segundo semestre de 2020 e que as perspectivas são ótimas tanto para setores tradicionais da construção civil, têxtil e metalmecânica, como para os mais inovadores, a exemplo a economia do mar, economia da saúde e energias renováveis. Em outubro deste ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a produção no Ceará avançou 6,1% na comparação com igual período de 2019.

Para o presidente da Fiec, o desequilíbrio das contas públicas podem travar a economia. "A recuperação poderá ser prejudicada pelo agravamento da situação fiscal no ambiente interno e pelo acirramento de problemas geopolíticos no ambiente externo".

Setores

O economista Ricardo Coimbra reforça que a indústria é um dos setores que vêm apresentando forte recuperação já em 2020. "Principalmente a indústria de transformação do Estado. Espera-se também para o ano uma boa atividade no agronegócio, considerando a boa quadra chuvosa que está sendo esperada para o ano que vem e com as águas do Rio São Francisco, já ao longo do próximo ano devem estar nos reservatórios", diz.

Conforme a última estimativa do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), a economia do Estado deve crescer 3,70% em 2021, projeção que fica acima do esperado para o PIB brasileiro (3,50%).

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