Royal Caribeean, MSC e shows: ABA Infra traça planos no Terminal de Passageiros do Porto do Mucuripe
Nova administradora já assumiu o equipamento e se debruça em mudanças estruturais para próxima temporada de cruzeiros; previsão é de 100 empregos gerados
Fortaleza na rota dos grandes cruzeiros internacionais a partir da temporada 2024/2025. É essa a projeção feita pela ABA Infra, nova administradora do Terminal Marítimo de Passageiros do Porto do Mucuripe. O local, que agora passa a se chamar Termap Fortaleza na gestão da empresa, deve passar por obras de infraestrutura para, em um primeiro momento, trazer maior segurança operacional e comodidade aos passageiros.
As mudanças e projeções para o equipamento foram feitas por Matheus Paixão, gerente de Segurança Patrimonial do Grupo ABA Infraestrutura e Logística, em entrevista ao Diário do Nordeste. Além disso, o Termap deve entrar na rota dos grandes cruzeiros internacionais, operado por empresas como a MSC, Royal Caribeean e Norwegian, três das principais companhias do segmento de turismo marítimo.
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"O Costa Diadema [outro navio de cruzeiro] vai fazer a última escala técnica por ser mais perto de cruzar as águas brasileiras. A gente vê os cruzeiros internacionais vindo até Fortaleza, conhecer e retornar. Não só o navio de rota nacional", diz.
A embarcação tem 306 metros de comprimento e será a segunda atracação feita pela ABA Infra no Termap neste sábado (13). Para atracar no Mucuripe, o transatlântico precisa de uma solicitação especial da Capitania dos Portos, pois, de acordo com Matheus Paixão, o calado (distância entre a quilha — ponto mais submerso do navio e o fundo do mar) do local não comporta grandes embarcações de turismo sem que haja uma liberação específica.
"A gente tem um desafio, que é o calado. Ele não está preparado para navios acima de 300 metros, somente de até 246 metros. Toda vez que vai atracar um navio de grande porte, como o Costa Diadema, tem que pedir uma autorização da Capitania dos Portos. O desafio é aumentar esse calado para a gente poder receber navios de grande porte, como os navios internacionais, da MSC, Royal Caribeean, Norwegian", frisa.
Hoje a gente consegue porque a Capitania, a qualquer momento que a gente solicita, abre essa exceção para a gente receber a atracação. O ideal é que haja a normativa com a Marinha do Brasil com a CDC (Companhia Docas do Ceará, órgão público que administra o Porto do Mucuripe), que em reuniões já informou que abriu licitação para receber estudos de viabilidade para aumento do calado, tudo para a gente já ter isso pré-pronto para ter que correr. Esse é o desafio de receber navios maiores
Operações já iniciadas
A ABA Infra já está operando no Terminal Marítimo, e a primeira atracação foi realizada na quinta-feira (11) com o National Geographic Explorer em parada técnica. O Costa Diadema, transatlântico de passageiros, atraca neste sábado, movimentando, segundo Matheus Paixão, 4.800 passageiros que estarão em Fortaleza.
"Fizemos a primeira atracação no dia 11 com um navio de trânsito, e amanhã vamos atracar o Costa Diadema. 3.800 passageiros em trânsito, 845 desembarques e 850 embarques. A gente está falando em torno de 4.700 pessoas circulando em Fortaleza. Isso já dá um fomento no turismo local, e o grupo quer que essa primeira imagem de embarque e desembarque seja a contento", explica.
O investimento previsto no contrato de arrendamento do Termap Fortaleza são de R$ 4 milhões ao longo de 25 anos, prorrogáveis até 70 anos, ou seja, até 2094. As intervenções mais urgentes a serem realizadas são nas partes estruturais, sobretudo no piso superior do empreendimento.
"O Estado, com a autoridade portuária, cuidou bem do local, mas requer manutenções o ano inteiro. Quando você fala de um período sazonal, é difícil para alguns investidores que não conhecem o segmento investirem o ano inteiro em um local que só vai dar retorno em período de temporada. Acredito que a falta de manutenção se deu também por falta do lucro, que só é um período, e outro período ficou sem a manutenção devida. (…) Precisa de manutenção predial, de equipamentos. A maresia é muito agressiva naquele local. Vamos gastar com investimentos e manutenção fortes nestes primeiros três meses", comenta o gerente de Segurança Patrimonial do Grupo ABA.
Prioridade é a manutenção predial e a segurança do local para a gente começar, com a marca Termap, em eventos, até o início da temporada 2024/2025. A prioridade é a engenharia fazer a manutenção e deixar o local seguro. O piso superior requer uma manutenção um pouco mais agressiva. O investimento agora é em segurança e em construção civil.
A CDC foi questionada pela reportagem sobre o aumento do calado para receber navios maiores sem necessidade de autorização específica. Por meio de nota, o diretor-presidente Lucio Gomes informou que foi constatado um assoreamento (acúmulo de sedimentos como areia, terra, rochas, além de lixo e outros materiais) no trecho do porto "onde atracam os navios de passageiros (cruzeiros) e onde ocorre a maior movimentação de containeres".
"Para sabermos a extensão e a altura desse acúmulo de areia, é necessário realizarmos uma batimetria; em breve será contratado esse estudo para, depois, decidirmos qual intervenção fazer no local", afirmou.
Empregos e melhoria no acesso
A expectativa da nova administradora do Terminal Marítimo é, em período de temporada, gerar 100 empregos diretos e outros 400 indiretos, com foco em abrir os postos de trabalho para pessoas de Fortaleza. Com o tempo, é prevista ainda uma expansão na capacidade do equipamento, que hoje pode abrigar 4.500 passageiros simultâneos, entre embarques e desembarques nos navios de cruzeiro.
Matheus Paixão destaca que a ABA Infra é concessionária somente do terminal de passageiros, e outras áreas do Porto do Mucuripe continuam sob responsabilidade da CDC. Além disso, o gerente da empresa destaca serem necessárias melhorias na infraestrutura no entorno do local, para auxiliar na chegada e saída de pessoas do equipamento.
"A gente está conversando com a CDC para melhorar o entorno da chegada no terminal. É muito importante dar qualidade para as pessoas chegarem e saírem do terminal. Estamos alinhando com a Companhia Docas do Ceará para a gente poder ter uma boa temporada em 2024/2025", pontua.
Sobre as obras solicitadas pela ABA Infra de melhorias no acesso viário que levam ao Terminal Marítimo, a CDC encaminhou matéria publicada pelo Diário do Nordeste em março deste ano, na qual a secretária de Turismo do Ceará, Yrwana Albuquerque, informou que a companhia prepara "uma licitação para melhorar esse acesso", e está "falando com as associações de taxistas e de outros serviços, porque o turista tem que chegar e ser bem atendido, se sentir seguro".
Novas rotas e eventos
Fortaleza será o quarto terminal marítimo de passageiros assumido pela ABA Infra. Na última temporada de cruzeiros, que vai de outubro a abril, Matheus Paixão destaca que os portos de Santos, Salvador e Rio de Janeiro, onde a empresa é concessionária, movimentaram quase 2 milhões de passageiros.
A chegada na capital cearense expande o horizonte tanto no Nordeste quanto no Norte. O gerente da concessionária enfatiza que eventos, como shows, feiras e seminários, poderão ser realizados no Termap, mas também outras rotas marítimas, como uma menos sazonal, entre Salvador e Fortaleza, poderão ser estimuladas.
"A nossa intenção é tentar com os armadores fomentar, também junto com o Ministério do Turismo, uma rota nordestina, como Salvador — Fortaleza, que a gente sabe que o clima é muito bom. A intenção é de que a temporada de cruzeiros seja no ano inteiro. A intenção é fomentar que pelo menos o destino do Nordeste seja o ano todo, fazendo a ponte Salvador — Fortaleza", vislumbra.
No que diz respeito a eventos, Matheus Paixão afirma que os administradores do Termap Fortaleza já foram procurados por produtores locais para utilizar o espaço, e essa será uma das prioridades do equipamento paralela à atração de navios de cruzeiro.
A gente está vendo que é muito forte essa questão em Fortaleza. A gente vai dedicar um pouco mais de esforços sobre isso. Durante a temporada de cruzeiros, quando não tiver navios, podemos fazer eventos. Se tiver uma semana sem o navio, a gente pode fazer o evento. Até eventos do estado de São Paulo que queiram vir para conhecer Fortaleza, vamos fazer.
Além dos terminais em Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e Santos, a ABA Infra pode aparecer concorrendo em novos terminais, como infere Matheus Paixão. Sem detalhar que novos contratos a empresa pode concorrer, o gerente enfatiza que o foco é fomentar eventos, mas também focando em operações de cargas e logística.
"A gente pensa de vir para o Norte-Nordeste com as intenções de fomentar eventos. Somos uma holding que temos cargas, granéis líquidos, empresa de logística. A gente está querendo investir para esse lado, às vezes vão aparecer surpresas, mas algumas áreas licitando, a gente vai participar também. A expertise de cada estado é particular, mas entre 80% e 85% do que fazemos em Santos, Rio de Janeiro e Salvador, podemos trazer para Fortaleza como bagagem", arremata.
O Grupo ABA Infraestrutura e Logística já opera outros três terminais de passageiros no Brasil: Santos (com o nome Concais), Salvador (com o nome Contermas) e Rio de Janeiro (com o nome Píer Mauá). A empresa também atua no transporte de cargas no porto paulista — o maior da América do Sul e onde fica a sede da concessionária.