Reajuste do frete impacta setor produtivo e consumidores do Ceará
Segundo especialistas, tabelamento onera custos e resulta em preços maiores, principalmente nos supermercados, onde os produtos hortifrutigranjeiros e grãos são os mais atingidos com as constantes altas do combustível
A atualização da tabela com os pisos mínimos de frete rodoviário vai elevar ainda mais os custos para os setores produtivos e, consequentemente, para os consumidores. Na última quarta-feira (24), a Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT) reajustou em 4,13% os valores da tabela, impulsionada pelo aumento de 4,8% do diesel nas refinarias na semana passada. Mais uma vez, as elevações, tanto do combustível quanto a revisão do preço do frete, vão refletir sobre os preços em diversos segmentos da economia, como supermercados.
Para Nidovando Pinheiro, vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), produtos hortifrutigranjeiros e grãos terão, já a partir desta semana, elevação equivalente ao publicado pela ANTT para os fretes. “Essa carta-frete com certeza irá afetar o custo dos produtos supermercadistas do Ceará. É um efeito imediato. A tabela atrapalha, porque o frete livre possibilita uma concorrência maior. Sem a tabela, é mais fácil negociar os preços”.
Segundo ele, o consumidor já deve sentir a diferença no bolso em alguns dias, à medida que os estoques nos supermercados são repostos por novas mercadorias já com o preço do frete reajustado. “Geralmente, o supermercado, quando tem um determinado estoque, segura o preço até entrar o próximo produto. Quando ele receber o próximo carregamento que tiver esse acréscimo, ele já vai repassar para o consumidor. Na hora em que ele receber um lote novo do produto, já vai vir com repasse”, aponta.
Heitor Studart, presidente da Câmara Setorial de Logística (CSLog) e coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), diz que essa situação ocasionada pelo tabelamento do frete só vai terminar quando o País voltar a crescer. “Isso tudo são medidas paliativas para se chegar a um denominador comum que basicamente só se resolveria com o reaquecimento da economia, porque hoje a oferta de matéria-prima, no caso do caminhão e transporte, está muito maior do que a demanda do setor produtivo em função da estabilização da economia, que ainda não está se reaquecendo como deveria. Quando os investimentos em infraestrutura vierem, isso automaticamente vai se regular”, avalia.
De acordo com Studart, o Governo está realizando uma força-tarefa para melhorar a infraestrutura das rodovias federais, visando atender à demanda do setor de grãos. “Eles estão com o objetivo de viabilizar o setor de grãos e do agronegócio com o fim da safra em julho. Eles estão com um esforço concentrado em atender e recuperar todas as BRs”. Na avaliação dele, o impacto para o consumidor vai ser, em média, a variação do diesel que foi repassado aos caminhoneiros. “Para o setor produtivo, vai ter realmente um aumento do frete. Isso depende da capacidade de absorção do capital de giro e a prospecção das empresas”, avalia.
Tempo maior
O presidente do Sindicato da Indústria de Mármores Granitos do Estado Ceará (Simagran), Carlos Rubens Alencar, também critica a tabela de frete e diz que ela onera os custos e aumenta os preços das mercadorias.
“Isso tem um impacto grande com o encarecimento do produto e consequentemente perda de competitividade. Antes, a pessoa comprava uma mercadoria minha e no outro dia tinha caminhão para fazer o transporte. Agora, são até 15 dias para ter um caminhão. Demora muito porque o comprador fica negociando o frete com o caminhoneiro”.
Segundo Alencar, o tabelamento também está atrapalhando os negócios do setor da indústria de mármores e granitos do Ceará. “Está onerando muito o setor, porque um dos fluxos principais de comercialização nosso é para o Sudeste, principalmente, para o Espírito Santo. Os fretes aumentaram muito com essa tabela, que é uma intervenção descabida do Estado na economia”, completa.
Atualização
A lei que implantou os pisos mínimos de frete prevê duas atualizações anuais com base na inflação e revisões extraordinárias sempre que o preço do diesel nas bombas oscilar mais de 10%, para cima ou para baixo. A lei não especifica qual tipo de diesel (comum ou S-10, mais caro e usado em regiões metropolitanas).
Embora o preço nas refinarias tenha subido 23% desde o início do ano, o repasse ao consumidor vem sendo retardado por distribuidoras e postos diante da crise econômica. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a alta acumulada nas bombas entre o fim de dezembro e a semana passada é de 2,8%.