Preço do frango já acumula alta de 25% em um ano; entenda os motivos
O aumento nos custos para os produtores de avicultura se refletiu nas gôndolas do supermercado tanto para o frango como para o ovo
Diante do aumento do preço da carne bovina, o frango costumava ser a via alternativa para economizar no supermercado. Diante da alta da inflação, até mesmo essa proteína tida como uma opção mais em conta está pesando no bolso dos brasileiros.
De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do IBGE, o frango inteiro já acumula alta de 25,94% nos últimos 12 meses. O frango em pedaços tem variação de 25% e os ovos de galinha, de 14,26%.
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O aumento expressivo nas gôndolas tem relação com o aumento dos custos de produção dos avicultores, em grande parte motivado pelo aumento do preço do milho e do farelo de soja no mercado interno e externo.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, esses insumos representam entre 70% e 80% dos custos e a alta deles se soma a um aumento no preço de embalagens, energia elétrica e diesel.
A associação estima que os produtores tiveram um aumento de 50,62% nos custos de produção de frangos no último ano, o dobro do que foi repassado aos consumidores.
O frango teve o segundo maior aumento entre as proteínas analisadas pelo IPCA. Confira:
Produção de milho e soja prejudicadas
Santin ressalta que, apesar de as exportações de frango terem crescido 6%, a oferta no mercado interno aumentou 8%, argumentando que não é o aumento da exportação que causa a alta dos preços.
Para ele, a questão do milho e do farelo de soja, principais ingredientes das rações dos frangos, é o principal problema. “Nós somos veículo de um aumento, não somos causa”, diz.
O que aconteceu é que teve quebra de safra e tem questões que não são só do Brasil. O milho subiu porque a China parou de produzir e começou a importar mais. Tivemos seca e geadas muito severas que quebraram a produção
Ele afirma que o governo já liberou a tarifa de importação dos EUA, o que facilita a compra dos insumos vindos dos Estados Unidos. O setor ainda espera a retirada do PIS/Cofins para que os custos de importação diminuam.
“Tudo o que está sendo feito agora é para não deixar os preços ficarem ainda maiores. A gente não enxerga como diminuir (agora), ainda falta o preço subir para chegar nos preços de produção”, chama atenção.
O problema afeta ainda mais a produção dos ovos, já que nesse segmento o peso da ração nos custos de produção chega a 80%, segundo Ricardo.
Energia elétrica
Além do milho e da soja, os produtores de frango têm repassado para o valor final o impacto da energia elétrica, que está tendo altas sucessivas em razão da crise hídrica.
“O frango de granja fica 24 horas por dia acordado, precisa de energia 24/7. A energia aumentou muito, teve quase o dobro de custo”, explica o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV, Matheus Peçanha.
Essa é outra questão que pode demorar a ter uma normalização. A expectativa de melhora no cenário hídrico é a partir de novembro e, conforme Matheus, se se cumprir esse prognóstico uma melhora deve começar a ocorrer no começo do ano que vem.
“Até essas chuvas gerarem safra para as rações e gerarem diminuição de custos para o produtor isso deve levar um tempo”, acrescenta.
Ainda vai subir?
Ricardo Santin afirma que os brasileiros terão uma ceia de natal mais cara no que se diz respeito a aves no geral.
“O nível normal não tem mais, não vai ter mais ovo e frango muito barato. O preço do milho e farelo de soja não tendem a baixar de novo, vão baixar quando entrar as importações dos Estados Unidos. Mas vão ficar em patamares mais altos do que a gente tinha no passado”, pontua.
Matheus destaca que a questão energética deve levar a novos aumentos no curtíssimo prazo, já que os efeitos da nova bandeira tarifária “escassez hídrica” ainda devem chegar aos produtores e serem repassados às gôndolas dos supermercados. Os ovos de galinha devem seguir a mesma tendência de altas.
A pesquisa de preços entre diferentes empresas é importante para o consumidor que quer economizar. Segundo Ricardo, os preços devem variar de acordo com as marcas.
“Tem empresas com mais perfil exportador, quem exporta tem algumas vantagens econômicas com o câmbio valorizado. Talvez por isso ele consiga segurar o frango mais barato. Para empresas só de mercado interno, principalmente de ovos, eles recebem na veia os custos e tem que repassar”, coloca.