Por que roupas estão tão caras? Veja o que elevou a inflação da moda em 2022

Encarecimento da matéria-prima provocado por greves na China e guerra entre Rússia e Ucrânia elevou preços do produto final, fazendo consumidor repensar a compra

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.coelho@svm.com.br
Legenda: Elevação da demanda global por roupas e consequentemente por tecidos também pressiona os preços para cima, na avaliação de economista
Foto: Shutterstock

Uma breve ida ao shopping tem deixado até os maiores garimpeiros de lojas de departamento de queixo caído. O motivo? Blusas, saias, calças, vestidos e outras peças custando valores cada vez mais próximos da alta-costura, enquanto a renda da população em geral não acompanha essas elevações. Mas o que explica os preços tão altos observados ao longo dos últimos dois anos?

As roupas, assim como basicamente todos os grupos de produtos e serviços, não passaram incólumes aos efeitos da pandemia. Segundo o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Matheus Peçanha, o encarecimento da matéria-prima para a produção de roupas é algo que vem sendo observado desde 2020, tendo um pico em 2022.

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Mas não se trata apenas dos efeitos da Covid-19. De acordo com ele, esse encarecimento da matéria-prima está relacionado a elementos como as greves na China e a guerra entre Rússia e Ucrânia.

O economista explica que quando há algum desarranjo envolvendo players relevantes no comércio internacional, há um impacto nas commodities - a exemplo do algodão, que fica mais caro. E, não menos importante, a China é um importantíssimo exportador de tecidos para o Brasil, ao lado da Índia.

Quando algo nesses países importantes para a cadeia global trava, as commodities são impactadas, então não é que necessariamente nós estamos importando deles, mas sim o efeito do que acontece no mercado"
Matheus Peçanha
Economista do FGV/Ibre

Dólar e combustíveis

Além disso, há os efeitos já conhecidos da cotação do dólar e do barril de petróleo sobre os combustíveis. O presidente do Sindconfecções, Daniel Gomes, complementa que, após ser importada pelo Brasil, essa matéria-prima vem do Sul e do Sudeste para o Ceará por modal rodoviário. “Principalmente tecido plano e malha fria”, diz. Com os combustíveis mais caros, subiu também o custo do frete desses produtos.

Demanda elevada

Outro cenário ligado a pandemia é o aumento da demanda por roupas diante da retomada mais sólida das atividades após os momentos críticos da pandemia, o que aqueceu o mercado global e também pressiona os preços para cima, conforme o economista da FGV/Ibre.

Os efeitos desses acontecimentos são observados no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Fortaleza, a inflação das roupas foi de 17,8% em 2022. No Brasil, a alta é de 19,7%.

Entre as roupas em Fortaleza, a principal inflação foi observada no vestido infantil (28,7%). Em seguida, aparecem camisa/camiseta (24,03%); roupa masculina (20,5%); bermuda/short infantil (18,4%) e calça comprida feminina (18,4%).

O presidente do Sindconfecções explica que as roupas infantis figuram entre as principais inflações em decorrência da mão de obra para a produção dessa categoria de item.

"Hoje, o insumo mais caro para a produção de roupa infantil é a mão de obra. Isso porque esse produto requer um manuseio mais detalhista e leva mais tempo de produção", detalha Gomes.

Indústrias buscam minimizar impactos

Para tentar minimizar essas elevações nos preços das roupas, o presidente do Sindconfecções explica que as empresas buscam a modernização das indústrias para redução de custos e a terceirização da produção. “Espera-se que em 2023 a inflação dê uma arrefecida, mas ainda é tudo muito incerto”, diz.

Na avaliação do economista Matheus Peçanha, com esses entraves se desfazendo e as commodities ficando mais baratas, é possível que no segundo semestre haja uma redução na pressão sobre os preços das roupas. Porém, se a demanda continuar elevada, é possível que os valores continuem subindo.

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