Por que a M. Dias Branco fechou fábrica em São Paulo e demitiu centenas de trabalhadores? Entenda
Gigante cearense enfrenta diminuição no lucro líquido e alta nos custos
Diante de um cenário de redução de lucros, a companhia cearense M. Dias Branco decidiu desativar uma fábrica que mantinha em Lençóis Paulista, em São Paulo. Quase 500 funcionários da unidade foram demitidos.
A fábrica operava desde 1960 para produção da marca de biscoitos Zabet. Em 2003, a Zabet foi comprada e fundida ao portfólio da M. Dias Branco e a unidade passou a produzir para a companhia.
Segundo a M. Dias Branco, o fechamento da fábrica busca reduzir custos e garantir maior eficiência operacional. A produção da unidade deve ser transferida para outros parques fabris.
“A Companhia negociou com o Sindicato e foi aprovada pela assembleia de empregados a disponibilização de um pacote de benefícios adicional às verbas rescisórias trabalhistas legalmente previstas, incluindo disponibilização de capacitação para contribuir na recolocação profissional, dentre outros”, destacou em nota.
A M. Dias Branco já havia demitido centenas de trabalhadores em 2024, em meio à queda de resultados financeiros. Cerca de 850 cargos foram extintos em todo o Brasil, entre mão de obra própria e terceirizada.
Questionada, a empresa não respondeu se outras unidades fabris da empresa podem ser impactadas na restruturação.
O economista Alex Araújo aponta que a decisão de fechamento da fábrica de Lençóis Paulista é reflexo da busca direta por ganhos de escala e eficiência.
Ele aponta que não é possível concluir que outras fábricas venham a ser impactadas futuramente. Como o fechamento de unidades fabris e demissões em massa têm um custo alto, o foco poderá ser a eficiência operacional e as estratégias comerciais.
“É difícil afirmar, mas, se ocorrer, os fechamentos devem se concentrar nas fábricas de empresas que foram adquiridas pelo grupo nos últimos anos, preservando a operação do Ceará, por exemplo”, aponta.
A companhia fundadora das bandeiras Fortaleza e Richester adquiriu mais recentemente as marcas Piraquê (2018), Fit Food, Frontera e Smart (2021) e Jasmine Alimentos (2022). O movimento ampliou a participação da empresa no ramo de alimentos saudáveis.
Também estão no portfólio da empresa as marcas Adria, Vitarella, Pilar, Delicitos, Estrela, Finna, Fronteira, Las Acacias, Pelaggio, Salsitos. A gigante do setor de alimentos opera com 22 indústrias, sete com moinhos de trigo.
LUCRO LÍQUIDO ABAIXO DO ESPERADO
A M. Dias Branco reportou lucro líquido de R$ 125 milhões no terceiro trimestre de 2024, último resultado financeiro divulgado. O lucro foi 51,9% menor do que o obtido no mesmo trimestre de 2023.
Todos os resultados de receita líquida, volume de vendas, geração de caixa e EBIDTA também foram negativos na comparação com o trimestre anterior e o terceiro trimestre de 2023.
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A receita líquida retraiu 12% no terceiro trimestre de 2024 na comparação com o mesmo período do ano anterior. A companhia também teve reduções no volume vendido e no preço médio dos produtos.
A companhia reconhece, na apresentação aos investidores, que apresentou um resultado aquém de seu potencial até setembro de 2024.
“Enfrentamos um cenário competitivo intenso, varejistas reduzindo os níveis dos estoques, volatilidade das commodities e desvalorização do Real. Adicionalmente, nos últimos meses, não chegamos a uma formação adequada de preço, volume e margens”, aponta o comunicado.
Entre os motivos apontados, está a volatilidade do preço dos principais insumos: trigo e óleo de palma. A safra do trigo de 2024/25 teve as expectativas reduzidas, já o óleo sofreu encarecimento devido às condições climáticas na América do Sul.
Alex Araújo aponta que o setor como um todo tem enfrentado aperto nas margens de lucro, devido ao aumento da concorrência e alta nos custos do dólar.
“Para 2025, o dólar continua colocando muita pressão nos custos e os ajustes operacionais requerem tempo para gerar frutos. No curto prazo, o cenário permanece desafiador”, avalia.
O especialista pondera que o grupo M. Dias Branco tem certa vantagem, devido ao baixo endividamento. Mais de 80% da dívida do grupo está no longo prazo, segundo a companhia.
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