Polêmica do Perímetro Irrigado Araras Norte: fala a Cogerh

Em mensagem à coluna, a Cogerh rebate pontos da nota de posicionamento do Dnocs sobre a gestão do perímetro.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 06:06)
Legenda: Vista aérea de um setor do Perímetro Irrigado Araras Norte, motivo de divergências de sua gestão com irrigantes
Foto: Divulhgação
Esta página é patrocinada por:

Ainda sobre a matéria aqui publicada no último dia 25 sobre a gestão do Perímetro Irrigado Araras Norte, a qual motivou, no dia seguinte, nota de posicionamento do Dnocs, a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), que nela é citada, transmitiu a esta coluna a seguinte mensagem com seus esclarecimentos e informações:

“A respeito da reportagem intitulada ‘Dnocs diz que Perímetro Irrigado Araras Norte é exemplo’, publicada no dia 26 de abril de 2025 pelo Diário do Nordeste, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), citada na nota do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e do Distrito de Irrigação do Perímetro Irrigado Araras Norte (Dipan), vem requerer direito de resposta e retificação de algumas informações repassadas pelo órgão ao veículo de comunicação.

“1. Em nenhum momento a Cogerh foi responsável por qualquer interrupção no abastecimento de água do Perímetro irrigado do Araras Norte.

“2. Para regular a operação dos reservatórios (açudes) no período da quadra chuvosa, são definidas, pelos Comitês de Bacia, vazões de operação emergencial, com o intuito de atendimento às demandas prioritárias, como consumo humano e animal e salvaguardar culturas permanentes.

“3. O CBH Acaraú, em sua 76ª Reunião Ordinária, deliberou pela definição de vazão emergencial para o açude Araras, de 2.800 litros/segundo, o que garantiria qualquer demanda do Dipan.

“4. Informamos ainda que foi realizada manutenção no sistema adutor do açude Araras pela COGERH, iniciando em 25 de março de 2025 e sendo finalizada em 12 de abril de 2025, provocando interrupção no abastecimento. No dia seguinte, dia 13 de abril, o sistema foi normalizado.

“A COGERH reafirma sua missão de promover o acesso à agua, de forma responsável e eficaz, orientada por uma gestão integrada, participativa e descentralizada, conforme previsto na legislação vigente.”

Mais uma mensagem sobre o mesmo tema

A polêmica segue, porque a coluna recebeu, também, mensagem do engenheiro Antônio Roberto Barreto Melo, gerente e responsável técnico pelo lote de irrigação de sua mulher, Andrea Mendes de Melo, cuja denúncia levou ao posicionamento do Dnocs, agora refutado por ele. A íntegra de sua mensagem é a seguinte:

“Com relação à matéria publicada, na qual o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e o Distrito de Irrigação Araras Norte (Dipan) se manifestaram, devo dizer que suas justificativas não me convenceram, tampouco esclareceram os fatos. Pelo contrário, em alguns pontos, as informações foram distorcidas.

“O uso de carro-pipa citado na reportagem representa apenas uma parte das dificuldades enfrentadas. A área de plantio em questão é de 4 hectares, e a falta d’água resultou em prejuízos consideráveis, como falhas no pegamento das mudas e a perda de quase 3 mil rizomas, que se estragaram por não ser possível o plantio em solo seco. Com isso, o plantio ficou desuniforme e apenas 50% da área foi implantada, sendo esta parte salva com o uso do carro-pipa.

“Além disso, houve prejuízos ainda maiores nas áreas já em produção, onde não foi possível utilizar a técnica da fertirrigação — adubação via água —, que é básica e comprovadamente eficiente no uso racional de fertilizantes. Isso é considerado modernidade? É isso que chamam de modelo de eficiência?

“O perímetro possui três setores em funcionamento, com uma distância máxima de cerca de 8 quilômetros entre eles. No setor 4, por possuir solo mais argiloso em comparação aos setores 1 e 2, as plantas suportam melhor períodos de estiagem. Essa característica tem levado muitos produtores a votarem pela não liberação da água, em detrimento daqueles que realmente necessitam e desejam irrigar suas áreas. A decisão é tomada por votação da maioria dos produtores, via grupo de WhatsApp, e não com base em critérios técnicos, como alegam o Dnocs e o DIPAN.

“Discordo da afirmação de que as decisões são tomadas de forma democrática e com base em produtividade, uso racional da água e sustentabilidade. Não se alcança produtividade ideal nem sustentabilidade financeira quando se impõe estresse hídrico às plantas. Quais foram os critérios técnicos utilizados? Nunca tive conhecimento de nenhum documento ou explicação técnica que justificasse tal conduta, apesar de se afirmar haver compromisso com a transparência.

“A respeito da alegação de que o lote não dispunha de sistema de irrigação, esclareço que a instalação dos canos já havia sido concluída desde março. Restava apenas a colocação das mangueiras e microaspersores, que já estavam comprados e prontos para serem instalados. Tanto é que, após o anúncio de possível liberação de água no setor 2 para o dia 19 de abril, finalizamos a instalação nos dias 16 e 17. Quando a água foi finalmente liberada no dia 19, o sistema funcionou normalmente, inclusive com constatação do gerente do Distrito.

“Diante disso, questiono: como pode esse modelo ser considerado exemplo de modernidade e excelência em produção, se costumam ocorrer períodos de estresse hídrico de fevereiro a maio e as produtividades não se comparam a outros perímetros que irrigam de forma contínua e racional? Desafio qualquer técnico do Dnocs a comprovar que se pode produzir banana com tecnologia com estresse hídrico, em solo seco, a ponto de se levantar poeira ao passar uma enxada. Isso seria tecnologia moderna?

“Surpreende-me a posição do Dnocs diante dessa realidade. Gostaria de conhecer os parâmetros técnicos utilizados pelo órgão, pois não é necessário ser agrônomo ou técnico especializado para perceber que uma planta no campo está sofrendo por falta de água.

“Não tenho qualquer problema pessoal com nenhum produtor, nem com os responsáveis pelo Dipan, incluindo o gerente, que é sociólogo. Reconheço que ele não tem obrigação de dominar a agricultura irrigada. No entanto, respeito a opinião de todos, mas, como agrônomo, discordo frontalmente da condução e gestão adotadas. Não estou pedindo água em época de chuva, como se insinuou. Pelo contrário, quando chove, o sistema deve mesmo ser desligado. Mas o que não pode é a planta sofrer e comprometer a produção futura por má gestão da irrigação. Há outros produtores também insatisfeitos com esse modelo de gestão. Informo, por fim, que comuniquei oficialmente essa situação ao Dnocs no dia 15 de abril, mas, até a presente data (28 de abril), não recebi qualquer resposta do órgão.

“Informo que os fatos aqui relatados eu tenho como comprovar, seja por meio de vídeos, fotos ou testemunhas, e me coloco à disposição para participar de uma acareação com o Dnocs e gestores, se necessário.”

Para finalizar o debate sobre a questão, a coluna informa que a primeira licitação de lotes do Perímetro Irrigado Araras Norte, que se localiza na geografia do município de Varjota, foi realizada em 1993, mas os lotes só foram efetivamente entregues em 1997, como revela o agrônomo Odílio Coimbra, um dos seus primeiros irrigantes, que em 2006 deixou a área porque foi trabalhar em outro país.

A área do Perímetro é de 3,2 mil hectares, divididos em duas etapas de 1,6 mil hectares. Da área da primeira etapa, há 600 hectares – que seriam destinados a lotes empresariais – que nada produziram e nada produzem porque a estação de bombeamento nunca funcionou por um erro de projeto.

Veja também